Beber água entre os drinks e os pratos pesados das festas faz diferença para o corpo?

Exagerar no álcool e beber pouca água pode causar problemas cardíacos Festas de fim de ano significam reencontros, calor, comida farta —e muitas vezes mais álcool do que o habitual. Nesse cenário, uma orientação aparece de forma quase intuitiva: beber água entre os drinks e manter o corpo hidratado para evitar mal-estar no dia seguinte. Mas isso realmente funciona? E até que ponto a hidratação interfere na digestão, na ressaca e na pressão arterial? O g1 ouviu especialistas para responder às perguntas. As respostas convergem: a água não impede os efeitos do álcool, mas reduz danos, melhora sintomas e ajuda o organismo a lidar melhor com os excessos típicos da temporada. Divulgação Brinde com Prosecco - Divulgação. Por que a hidratação importa mais nas festas Segundo a médica nutróloga integrante do Comitê Científico do Instituto Vencer o Câncer Andrea Pereira, o conjunto de fatores das festas —excesso de açúcar, gordura, calor e álcool— representa um pacote de desafios metabólicos. “Nesse período, a ingestão calórica aumenta muito, especialmente a de carboidratos simples. A água ajuda a diluir a concentração de glicose no sangue e a manter o corpo em equilíbrio”, explica. Andrea relembra que o organismo tem uma perda natural de cerca de 2 litros de água por dia, diferença entre o que produz e o que absorve. “Por isso a recomendação diária gira em torno de 2 litros. É o mínimo para manter as funções fisiológicas operando bem —e durante as festas, essa necessidade fica ainda mais evidente.” O cardiologista e médico do esporte Bruno Sthefan, detentor de títulos reconhecidos pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), reforça a ideia: “Nas festas, somamos três fatores que desidratam o organismo: álcool, calor e refeições ricas em sal, gordura e açúcar. Isso piora a circulação, sobrecarrega o coração e aumenta o risco de tontura, dor de cabeça e mal-estar.” beber água Freepik Intercalar água com álcool ajuda? Sim, e por mais de um motivo O álcool tem efeito diurético: aumenta a urina, acelera a perda de líquidos e contribui para sintomas clássicos da ressaca, como boca seca, dor de cabeça e sonolência. Por isso, segundo a nutróloga Andrea Pereira, alternar água entre os drinks ajuda de duas maneiras: compensa parte da desidratação e reduz a velocidade de ingestão alcoólica, o que já diminui a intensidade dos sintomas no dia seguinte. Nutricionista do Hospital Samaritano Higienópolis, da Rede Américas, Thais Fernanda reforça que essa estratégia não impede os efeitos do álcool, mas atenua tontura, cefaleia e mal-estar. é um hábito simples e eficaz: “A água não evita a embriaguez, mas ameniza náuseas e boca seca. É uma forma de proteger o organismo.” Embora não exista recomendação oficial, Sthefan sugere uma regra prática fácil de seguir: um copo grande de água para cada drink alcoólico. Em festas longas ou ambientes muito quentes, ele orienta aumentar a reposição para cerca de 500 ml por hora. Adobe Stock Hidratação não ‘protege’ o fígado, mas reduz estrago Um mito comum é imaginar que beber água acelera o metabolismo do álcool. Não é verdade. “A água não afeta a metabolização do álcool pelo fígado”, ressalta Andrea. “O que ela faz é reduzir sintomas e ajudar o corpo a lidar melhor com os efeitos da desidratação.” O processo de quebra do álcool continua acontecendo no ritmo do organismo —principalmente no fígado—, independentemente da quantidade de água ingerida. Ou seja: água ajuda na ressaca, não na eliminação do álcool. Os pratos típicos de fim de ano, recheados de gordura, sal e carboidratos, exigem mais do sistema digestivo. Uma pessoa desidratada tem digestão mais lenta e maior chance de azia, estufamento e desconforto. Thaís explica que “beber água em quantidade adequada auxilia na digestão e evita sintomas como azia e estufamento”. Andrea acrescenta que a hidratação ajuda indiretamente ao reduzir a ingestão de bebidas calóricas durante as refeições. Os efeitos da desidratação A desidratação gera sintomas físicos, como tontura, dor de cabeça e mal-estar. A explicação para eles é simples: sangue é, em grande parte, água. Com menos líquido circulando, diminui o volume sanguíneo e chega menos oxigênio ao cérebro e a outros órgãos. “Isso piora a irrigação cerebral, causando tontura, fraqueza e dor de cabeça, especialmente no calor”, diz Sthefan. Além disso, o corpo também precisa de água para regular a temperatura; por isso, os sintomas ficam mais fortes nas festas ao ar livre ou sob sol intenso. Sintomas da desidratação Max Francioli/arte g1 Quem precisa de atenção redobrada? Idosos, hipertensos, pessoas que usam diuréticos, quem tem enxaqueca, doenças cardiovasculares quem faz atividade física. Água de coco, isotônicos e outras bebidas ajudam? Água é sempre a primeira escolha. Água de coco e isotônicos entram em situações específicas, como sudorese intensa, atividade física prolongada ou exposição ao calor por muitas horas. “Eles ajudam a repor eletrólitos perdidos no suor, como sódio e potássio”, explica Thaís. Mas, para o dia a dia das festas, água é suficiente. O ideal é beber aos poucos ao longo do dia, dizem os três especialistas. Grandes volumes de uma só vez não corrigem a desidratação e podem causar desconforto. “O corpo funciona melhor com reposição contínua”, resume Sthefan. Adobe Stock Guia rápido para sobreviver às festas sem desidratar Comece o dia hidratado. Beba 6 a 8 copos de água por dia como base. Intercale 1 copo de água por drink alcoólico. No calor, aumente a ingestão para compensar o suor.