Criado nos anos 1990, o Baile Charme transformou o Viaduto Prefeito Negrão de Lima, em Madureira, em referência nacional da cultura negra urbana. Reconhecido como patrimônio cultural do Rio de Janeiro, o evento segue como a face mais conhecida do espaço, marcado pelos passinhos sincronizados, pela estética própria e pela ocupação simbólica da cidade. Mas quem passa por ali apenas nos dias de baile — aos sábados, a partir das 22h — não vê tudo o que acontece sob o viaduto: enquanto a pista ferve, outras atividades culturais e rodas de samba acontecem simultaneamente, ampliando o uso e o significado do espaço. Família toda de mudança: menino do Complexo do Alemão vence disputa com mais de três mil bailarinos e entra para a Escola Bolshoi Escolas de samba, saber e saúde: Mangueira inaugura polo universitário, e Salgueiro ganha clínica médica gratuita Ao longo da semana, Madureira pulsa em diferentes ritmos, reunindo música, dança, economia criativa, tradição popular e ações sociais, quase sempre de forma gratuita e aberta ao público. O espaço, antes associado ao abandono e à insegurança, tornou-se um território vivo, em permanente transformação. Para Ana Cê Santanna, sócia-fundadora da Companhia de Aruanda, o viaduto funciona como um território de acolhimento e encontro, onde diferentes manifestações culturais convivem e se fortalecem. Ao falar da dinâmica do espaço, ela recorre à imagem do “colo de mãe”, expressão que também dá nome a um dos brechós que acontecem sob o viaduto e que simboliza essa lógica de cuidado, troca e pertencimento. Baile Charme do Viaduto de Madureira Divulgação — É como um colo de mãe mesmo, que recebe, que abraça e onde sempre cabe mais gente — afirma. Jongo, coco, maracatu e mais Toda terceira quinta-feira do mês, a partir das 20h30, a Companhia de Aruanda promove sob o viaduto o Fuzuê de Aruanda, encontro de manifestações da cultura popular que tem o jongo como eixo central, mas também reúne samba de roda, coco, maracatu, ciranda e outras expressões tradicionais. Gratuito e aberto ao público, o encontro conecta memória, música e ancestralidade. — Há 15 anos a gente realiza essa roda como uma ferramenta de resistência, de celebração e, principalmente, de encontro. Encontro com a nossa ancestralidade, mas também com a nossa contemporaneidade e com a possibilidade de futuridade. Quando os tambores ocupam esse espaço, a gente subverte a lógica de um lugar que era só de passagem e transforma tudo num grande terreiro ancestral — explica Ana Cê. A ocupação cultural contínua ajudou a devolver vida a áreas antes evitadas por moradores, com pouca iluminação e sensação de insegurança. Hoje, o viaduto se mantém em movimento quase constante, funcionando como ponto de encontro estratégico no coração de Madureira, por onde passam diariamente trabalhadores, estudantes e moradores, ressalta Ana Cê. Nos últimos anos, esse território também se expandiu fisicamente. Com a construção do viaduto do BRT, colado ao Negrão de Lima, a extensão do espaço aumentou — e, com ela, as possibilidades de uso cultural, social e econômico. — Agora são dois viadutos. Essa extensão se ampliou culturalmente e socialmente, permitindo que mais movimentos aconteçam e se encontrem — destaca. Samba de rua às sextas Entre esses movimentos está o Samba de Rua, com a Roda de Samba do Nego Damoé, que acontece toda sexta-feira, a partir das 21h. Gratuito e aberto ao público, o encontro reúne músicos, moradores e visitantes em torno do samba tradicional, reforçando a vocação histórica de Madureira como berço do gênero. A roda vem se consolidando como um dos principais pontos de samba ao ar livre da Zona Norte, promovendo convivência entre diferentes gerações. A programação é divulgada pelo perfil @sambaderuarj. Prótese pronta no mesmo dia: clínica universitária aposta em odontologia digital para agilizar tratamentos Feiras aos sábados Aos sábados, o movimento começa cedo. Sob o Viaduto Negrão de Lima, na Praça das Mães, a feira da ONG Colo de Mãe acontece das 9h às 15h e se consolidou como espaço de acolhimento, geração de renda e fortalecimento feminino. O projeto atende mulheres que sofreram violência doméstica, vivem em situação de vulnerabilidade social ou são mães atípicas, com foco na economia solidária e em práticas sustentáveis. Roda de samba anima o público sob o Viaduto de Madureira durante o evento do Brechó Colo de Mãe Divulgação/Ong Colo de Mãe Totalmente gratuita, a feira reúne área gourmet, artesanato, brechó e atividades culturais. Um dos principais pilares de sustentação do projeto é a roda de samba realizada no local, que gera renda para a manutenção das atividades e para o custeio dos cursos de capacitação oferecidos às participantes. A roda acontece todos os sábados, a partir das 22h, no mesmo horário do tradicional Baile Charme, mas em um espaço diferente. Enquanto o baile é fechado, a área do projeto Colo de Mãe é aberta ao público e abriga, além da feira, diversas outras atividades culturais. Cerca de 300 mulheres trabalham no espaço todos os sábados, muitas delas apresentando ali suas próprias marcas. A iniciativa se mantém por meio de parcerias com instituições e projetos como Cristo Redentor Sustentável, Sol Artesanato, Sesc e Carandaí 25, que ampliam as oportunidades de formação e visibilidade das empreendedoras. O reaproveitamento e a customização de roupas são pilares da proposta, reforçando o compromisso com o consumo consciente e o meio ambiente. 'Parem de distribuir quentinha na rua': Vereadora do Rio causa polêmica ao defender que ajuda a população de rua aumenta criminalidade Criada por Dailva Basílio, fundadora da ONG, a Colo de Mãe nasce de uma trajetória pessoal marcada pela migração, pela vulnerabilidade social e pela superação da violência doméstica. — Esse projeto é a minha história de vida. Fui mãe solo, vivi em situação de vulnerabilidade e sofri violência doméstica. A partir das minhas lutas e dores, senti que precisava criar algo para ajudar outras mulheres — afirma. Ao longo de seis anos, a iniciativa já impactou mais de 20 mil mulheres, oferecendo cursos, oficinas, mentorias, rodas de conversa e atendimento psicológico. — Para muitas participantes, o projeto representa dignidade, autonomia financeira e a possibilidade de sustentar a família, investir nos estudos dos filhos e conquistar a casa própria — destaca Dailva. ‘Famílias inteiras sem rumo’: Restaurante é fechado em Barra de Guaratiba em ação do Exército e moradores são notificados Também aos sábados, das 8h às 15h, a Rua Francisco Batista, nas imediações do viaduto, recebe o Brecholeiras, grande brechó popular que reúne expositores de roupas, acessórios, artesanato e gastronomia. O evento se tornou ponto fixo em Madureira e atrai público interessado em consumo consciente e economia criativa. As informações estão disponíveis no perfil @brecholeirasoficial. Batalha de rima às segundas-feiras Às segundas-feiras, a partir das 19h, o espaço é ocupado pela juventude com a Batalha Marginow, realizada na Rua Francisco Batista. As disputas de rima reúnem MCs de diferentes bairros e abordam temas ligados ao cotidiano, à identidade e às vivências das periferias, consolidando o viaduto como território da cultura hip hop. A programação é divulgada pelo perfil @batalhamarginowoficial. Aulas de charme, esporte e muito mais Além da agenda cultural, o Viaduto de Madureira abriga ações sociais permanentes desenvolvidas pela Central Única das Favelas (CUFA). No local, são oferecidas aulas de charme, escolinhas de futebol e basquete, além de oficinas de artesanato, corte e costura e informática básica. As atividades ampliam o papel do viaduto para além do entretenimento, consolidando-o como espaço de formação, inclusão social e acesso a oportunidades. Initial plugin text