No início deste ano, montadoras chinesas anunciaram com entusiasmo que em breve estariam produzindo em massa e vendendo veículos autônomos. A maioria desses planos foi agora adiada após um acidente fatal que atraiu ampla atenção pública. Personalidade e estilo: Empresa de táxis autônomos dos EUA contrata grafiteiros para dar um ‘toque mais humano’ aos veículos Investimento do Brasil: Montadora chinesa BYD terá centro de pesquisas de carros autônomos no Rio de Janeiro Os reguladores da China finalmente deram sinal verde, na semana passada, a apenas duas das nove montadoras que haviam apresentado planos para vender carros autônomos. E as aprovações do Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação foram bastante restritas, permitindo pouco mais do que testes adicionais, e não a produção em massa. O Beijing Automotive Group e a Changan Automobile, de Chongqing, poderão operar táxis autônomos em três trechos de rodovia em cada cidade-sede das empresas, informou o ministério, e os táxis não poderão mudar de faixa enquanto estiverem sob controle do computador. Em qualquer outra via, os táxis deverão estar sob o controle de um motorista. Os programas limitados representam um reconhecimento por parte do governo chinês de que os objetivos estabelecidos há quase cinco anos — iniciar a produção em massa para venda ao público em geral até o fim deste ano — eram ambiciosos demais. Acidente faz órgãos reguladores recuarem Os reguladores chineses começaram a recuar após um acidente com um Xiaomi SU7 no fim de março que matou três mulheres, todas estudantes universitárias. Notícias de acidentes anteriores envolvendo direção assistida haviam sido suprimidas pelos censores da China. Mas a notícia do acidente de março, ocorrido em uma rodovia na província de Anhui, no centro da China, se espalhou rapidamente e de forma ampla. Suspensão: Califórnia freia vendas da Tesla e diz que marketing de 'piloto automático' da montadora de Musk foi longe demais Surgiram dúvidas sobre se motoristas ou montadoras poderiam ser responsabilizados legalmente por esse tipo de acidente. Um robô-táxi autônomo da Baidu trafega por uma rua em Wuhan, China Qilai Shen/The New York Times Segundo a Xiaomi, o carro estava a 72 milhas por hora (cerca de 116 km/h) em modo de direção assistida quando detectou que sua faixa havia sido fechada por causa de obras. O veículo emitiu um aviso sonoro: “Por favor, esteja atento a obstáculos à frente”. O motorista assumiu o controle do veículo, que colidiu um segundo depois contra uma barreira de concreto, segundo a empresa. A discussão pública sobre a tragédia levou o Ministério da Segurança Pública da China a se envolver. O ministério divulgou um comunicado alertando que a tecnologia de direção assistida disponível em carros produzidos em massa na China não é a mesma coisa que a condução totalmente automatizada. Também advertiu os motoristas contra conversas que possam distraí-los. IPVA 2026: Desconto à vista ou parcelado? Calculadora do GLOBO mostra a melhor opção “O comportamento arriscado de mexer no celular, dormir, conversar e comer após ativar a função de direção assistida não apenas viola as leis e regulamentos de segurança no trânsito, como também representa uma séria ameaça à segurança de outros usuários das vias”, afirmou o ministério. Três níveis de tecnologia testados Três níveis de tecnologia assistida ou sem motorista estão sendo debatidos na China. A chamada tecnologia de Nível 2 ajuda a dirigir o carro, mas exige que os motoristas mantenham as mãos no volante e os olhos na estrada. Ela já está amplamente disponível na China, inclusive no SU7 que sofreu o acidente. Mas um relatório exibido pela televisão estatal no verão passado concluiu que nenhum dos sistemas dos fabricantes nacionais era tão confiável quanto os da Tesla, a montadora americana popular na China. Na tecnologia de Nível 3, os motoristas não precisam manter as mãos no volante nem os olhos na estrada, mas devem estar sentados no banco do motorista e prontos para assumir o controle do carro. No Brasil: Venda de 'seminovos' dispara com preço maior do carro zero e trabalho por app O Nível 4 envolve táxis-robô sem motorista algum; os passageiros sentam-se no banco traseiro e podem ser impedidos por uma divisória de sequer alcançar os assentos dianteiros vazios. Mais de uma dúzia de cidades chinesas, com destaque para Wuhan, estão testando táxis-robô. Dias antes de o Ministério da Indústria e da Tecnologia da Informação aprovar os dois serviços limitados de táxi de Nível 3, a Geely Auto, a segunda maior montadora da China, tentou tranquilizar os reguladores e o público chinês quanto à segurança no trânsito. Em 12 de dezembro, a Geely inaugurou em Ningbo o maior centro de testes de segurança automotiva do mundo. Bonecos de teste de colisão armazenados no novo centro de segurança da Geely em Ningbo, China Keith Bradsher/The New York Times Jerry Gan, diretor executivo da Geely, disse que sua empresa já havia começado a enviar alguns de seus carros Zeekr com o hardware necessário para operações de Nível 3. — Isso representa o mais alto padrão de segurança para a direção assistida na era do L3 — afirmou. IPVA de R$ 700 mil? Veja carros que terão impostos 'nas alturas' em 2026 A televisão estatal chinesa acompanhou o acidente da Xiaomi com uma reportagem em julho que teve ampla audiência na internet chinesa. Testes da tecnologia de Nível 2 em 36 modelos de carros de 20 marcas constataram que um pouco menos da metade dos veículos conseguia evitar com segurança uma colisão ao encontrar caminhões próximos a um canteiro de obras à noite, segundo o relatório. Apenas os dois modelos da Tesla incluídos no teste tinham sistemas de direção assistida confiáveis em uma ampla gama de situações de segurança. Um aparelho potente acelera carros durante testes de colisão no novo centro de segurança da Geely em Ningbo, China Keith Bradsher/The New York Times Algumas montadoras chinesas, como a Geely, estavam tão certas de que os sistemas de direção autônoma de Nível 3 seriam aprovados em breve que já haviam começado a produzir em massa carros com as câmeras e outros equipamentos necessários. Mas, por enquanto, os veículos estão sendo vendidos apenas com software de Nível 2, devido à inclinação dos reguladores de Pequim por maior cautela. Geely, XPeng Motors e Li Auto estão entre as empresas com licenças para continuar testando carros de Nível 3 nas estradas. Mas, ao contrário das afiliadas de táxi da Changan e do Beijing Automotive, elas ainda não têm licenças que lhes permitam iniciar serviços comerciais com esses veículos. — O que parecia ser um lançamento iminente do L3 foi, em retrospecto, uma aceleração guiada pelo marketing, que avançou à frente da governança, dos marcos de seguros e da confiança do público — disse Bill Russo, consultor de carros elétricos em Xangai. A decisão do governo sobre os serviços de táxi, acrescentou ele, “formaliza uma pausa — não para interromper o progresso, mas para desacelerá-lo, restringir o escopo e estabelecer salvaguardas”. Initial plugin text