Abrir a galeria do celular, rolar até anos atrás e passar horas revisitando fotos antigas. Se você já fez isso no fim de ano, não está sozinho. Dezembro é o mês em que muitas pessoas sentem o impulso de mergulhar em suas memórias digitais, seja através do Google Fotos, iCloud ou simplesmente navegando pela galeria do smartphone. Mas por que esse comportamento se intensifica justamente nesta época? Entenda o motivo, os benefícios dessa nostalgia, os perigos de cair em comparações destrutivas e mais, a partir da análise de Luiz Mafle, psicólogo, professor de Psicologia e Doutor em Psicologia pela PUC Minas e Universidade de Genebra. Prompt para restaurar foto antiga: veja passo a passo com Gemini Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews Por que voltamos a ver fotos antigas no fim de ano? Psicólogo explica Gerado com Nano Banana Google Fotos cheio, o que fazer? Descubra no Fórum do TechTudo O ritual digital de fim de ano Festas de final de ano são um momento em que as pessoas procuram por fotos Reprodução/Freepik Com a proximidade do Natal e do Ano Novo, é comum que as pessoas busquem fazer um balanço do ano passado. Nas redes sociais, multiplicam-se os posts com fotos antigas, collages de momentos marcantes e comparações do tipo "como começou vs. como terminou". Os próprios aplicativos contribuem para isso: o Google Fotos, por exemplo, envia notificações com "memórias" de anos anteriores, enquanto o Instagram oferece a função de ver o que você postou na mesma data em anos passados. "O fim do ano costuma ser um período de balanço emocional. Então, tudo o que aconteceu no ano, na sua vida, você começa a colocar em perspectiva. Naturalmente, a pessoa vai olhar para trás, vai avaliar o que viveu, observar o que mudou, o que ela ainda deseja", explica o psicólogo Luiz Mafle. Segundo o especialista, essas fotos funcionam quase como um portal da memória. "Elas vão fazer emergir a memória antiga, vão ativar lembranças, vínculos afetivos e até uma identidade passada, de como a pessoa era antigamente. Com esse aspecto psicológico de encerramento de ciclo, esse clima simbólico de fim e recomeço, essa revisão se intensifica como parte do esforço das pessoas de dar sentido para a própria história", completa. A nostalgia como ferramenta emocional Ano novo é um momento marcado por nostalgia e saudades dos bons acontecimentos daquele período Reprodução / Freepik A nostalgia não é apenas uma viagem sentimental ao passado. Pesquisas mostram que revisitar memórias positivas pode ter funções psicológicas importantes, como fortalecer a identidade, aumentar a sensação de continuidade da vida e até melhorar o humor em momentos difíceis. "Revisitar memórias por meio de fotos pode fortalecer a identidade, ajudar na reconstrução de uma narrativa de vida e também ampliar o senso de continuidade internamente falando. A pessoa vai reafirmar aquilo que ela é e, mesmo que tenha passado muito tempo, aquilo que ela manteve", afirma Mafle. O psicólogo explica que esse processo ajuda a pessoa a lembrar quem foi, onde esteve e com quem compartilhou a vida. "Isso vai nutrir o afeto, vai estimular a gratidão e também vai permitir reelaborar algumas perdas, momentos difíceis. Quando feito com consciência, essa prática vai favorecer a regulação emocional e o autoconhecimento." No contexto digital, esse processo se torna ainda mais acessível. Se antigamente era preciso desenterrar álbuns físicos de fotografias, hoje bastam alguns toques na tela para acessar décadas de registros. A facilidade tecnológica democratizou o acesso às próprias memórias. O lado negativo: quando a nostalgia se torna melancolia Nem sempre a nostalgia é um fator positivo - pode ser carregado de uma saudade dolorosa Reprodução/Unsplash/Magnet.me Nem sempre revisar o passado traz sentimentos positivos. Para algumas pessoas, ver fotos antigas pode trazer tristeza, especialmente se o ano foi difícil, se houve perdas significativas ou se a pessoa sente que não progrediu como esperava. "A nostalgia é saudável, ela traz uma sensação de ternura, de conexão com o que foi vivido, mesmo que traga um pouco de saudade. Nosso passado não é sempre positivo, mas mesmo alguns momentos que foram negativos podem ser vistos de uma maneira diferente", pondera o especialista. Já a melancolia ou ruminação apresentam um padrão diferente. "A melancolia é marcada por um sentimento de perda crônica, como se o presente nunca fosse tão bom quanto o passado. E a ruminação repete um pensamento negativo sem resolução, gerando angústia. Se a pessoa sente que ao ver a foto fica paralisada, triste por muito tempo ou com muita dificuldade de voltar ao presente, é sinal de que algo precisa ser cuidado", alerta Mafle. Há ainda o risco da comparação cruel: olhar para fotos de momentos felizes do passado e sentir que o presente não está a altura pode gerar frustração e insatisfação. Como fazer isso de forma saudável? Aprenda a como ver fotos antigas de maneira saudável Reprodução / Freepik Se você sente vontade de revisar suas fotos antigas neste fim de ano, os especialistas sugerem algumas práticas para tornar a experiência mais positiva. "Todo hábito feito em excesso ou de forma repetitiva demais é prejudicial. É importante observar o efeito emocional após o contato com a imagem. Se o hábito vira uma fuga constante ou gera sentimento recorrente, vale a pena limitar o tempo que você vai ver essas fotos", aconselha o psicólogo. Ele sugere ainda que, em situações familiares onde ver fotos antigas foi imposto, é válido "olhar um pouquinho e dar licença". A recomendação é escolher momentos específicos para revisitar essas memórias e, caso seja necessário, buscar apoio psicológico. "Às vezes o passado, algumas vivências do passado, dificultam a gente de viver o presente. O essencial é manter o gesto simbólico de recordar com afeto, sem ficar preso no que já passou, sem querer viver aquilo que aconteceu no passado", orienta Mafle. O que fazer quando as fotos trazem tristeza? Especialista explica o que fazer caso fotos antigas te deixem triste Reprodução/Freepik Para quem se sente muito triste ou ansioso ao ver fotos antigas, o psicólogo explica que essa reação pode indicar que algum aspecto do passado ainda não foi elaborado. "Uma perda, ruptura, alguma fase de vida em que o psicológico da pessoa ainda está preso naquele lugar." "Nesses casos, é importante não reprimir o sentimento, mas também não se deixar afundar nele. Não ficar ouvindo uma música triste junto, alguma coisa que vai ficar alimentando isso. Respirar fundo, mudar de atividade, se necessário conversar com alguém de confiança ou buscar apoio terapêutico profissional vão ser as atitudes mais saudáveis", recomenda. Segundo o especialista, às vezes a foto revela não só uma memória, mas uma dor que ainda precisa ser escutada. A tecnologia como "guardião de memórias" Tirar fotos pode ser uma maneira de se lembrar do que se sente falta Reprodução / Freepik Os aplicativos de fotos modernos não apenas armazenam imagens, mas também criam narrativas automáticas. O Google Fotos gera vídeos e colagens, o iPhone cria "Memórias" com trilha sonora, e o Instagram relembra posts antigos. Essas ferramentas transformam o simples ato de guardar fotos em uma experiência ativa de curadoria de memórias. Mas será que esses recursos automáticos são sempre benéficos? "Esses recursos podem ter um efeito duplo. Podem ser positivos quando trazem à tona boas lembranças, coisas afetivas de forma leve, espontânea, coisas que são legais de serem lembradas", explica Mafle. "Mas também podem ser intrusivos, especialmente quando reativam memórias de momentos difíceis, pessoas que se foram ou fases que geram tristeza. Às vezes a gente tem uma foto lá e esqueceu, e é uma foto do momento que, no fundo, foi péssimo. Às vezes a foto é bonita, você está com alguém legal ali do lado, mas a pessoa foi super tóxica na sua vida", exemplifica. O psicólogo ressalta que, como não há filtro emocional no algoritmo, o impacto vai depender do estado subjetivo de quem recebe. "O algoritmo não vai decidir, vai depender de quem está recebendo. Por isso é importante que cada pessoa avalie o seu bem-estar e, se necessário, silenciar ou desativar notificações em períodos mais sensíveis." Saiba Mais Veja também: 15 ANOS DE TECHTUDO! 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