Funai denuncia presença maciça do CV em Terra Indígena em MT

Líder de desmatamento no último ano, a Terra Indígena (TI) Sararé, em Mato Grosso, lida com a volta de garimpeiros mesmo após ter sido alvo de uma operação no segundo semestre para combater a prática ilegal na região, mostram ofícios da Funai enviados ao governo federal nos meses de outubro e dezembro. A presença de facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV), e o risco de acirramento de disputas territoriais, bem como a formação de milícias, também são mencionados nos documentos obtidos pelo GLOBO. Tragédia no Natal: acidente com ônibus no interior de SP deixa dois mortos e 41 feridos São Paulo: Polícia procura homem que usou moto aquática para roubar e agredir banhistas em São Vicente O ofício mais recente foi enviado no início de dezembro pelo secretário nacional de Direitos Territoriais Indígenas, Marcos Kaingang. No documento, ele relata que a Operação Xapiri, ocorrida entre agosto e outubro, não foi capaz de impedir o retorno “massivo” de garimpeiros ao território. Na avaliação da Funai, a alta no preço do ouro impulsiona a volta dos extrativistas ilegais. “Os grupos permanecem ativos e se reorganizam rapidamente, mantendo intensa movimentação logística, incluindo transporte de combustível, mantimentos e materiais para construção de estruturas precárias, bares e prostíbulos no interior da Terra Indígena. Há registros de atividades inclusive no período noturno”, escreveu Kaingang, que enumera a ocorrência de homicídios e chacinas, confrontos entre garimpeiros e servidores públicos e tentativas de aliciamento de indígenas para esconder armas em aldeias, além da circulação de armamento pesado, como fuzis e explosivos. No dia 24 de setembro do ano passado, quatro pessoas morreram em uma chacina motivada por uma briga pelo controle de uma área de exploração. No dia seguinte, outras três pessoas foram assassinadas em circunstâncias semelhantes. Em outro caso ocorrido meses antes, em maio, duas pessoas foram mortas e outras quatro baleadas. “As agências de inteligência têm registrado o avanço da facção criminosa Comando Vermelho, além de disputas entre facções para dominar pontos de extração ilegal de minério no interior e entorno da TI”, diz o ofício. Esforços insuficientes Um ofício anterior já alertava para a provável volta de garimpeiros e criminosos após o fim da Operação Xapiri. Datado do dia 28 de outubro, o documento, assinado pela presidente da Funai, Joenia Wapichana, e dirigido à Casa Civil, afirma que “os esforços não foram suficientes para conter a atividade ilícita no local”. Segundo Wapichana, observou-se, inclusive, o agravamento da situação em algumas aldeias. Além das tentativas de aliciamento, os criminosos passaram a usar as vias de acesso às habitações dos indígenas, além de ameaçarem lideranças. O Comando Vermelho também é mencionado neste documento. De acordo com a presidente da Funai, a presença dessa e de outras facções “tem provocado reações de resistência entre os garimpeiros, levando-os a contratar seguranças armados, em estrutura análogas às milícias”. Citada no ofício, a Abin estima que existam cerca de dez fuzis em apenas um dos garimpos sob controle do CV. A presença do crime organizado na região teria levado a um processo de “mexicanização” da terra indígena, segundo um delegado da Polícia Federal não identificado citado no ofício. A expressão é uma referência aos problemas experimentados por regiões que vivem sob domínio dos cartéis de droga no país latino-americano. Procurado, o Ministério da Justiça informou que, atendendo à solicitação do Ministério dos Povos Indígenas, autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública em apoio à Funai na Terra Indígena Sararé “para a realização de atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Segundo a pasta, a Força Nacional mantém efetivo permanente na região. A Funai e a Casa Civil não retornaram ao contato da reportagem.