Decoração de Natal gera desavenças: arcos em ciclofaixa de SP atraem selfies, mas criam obstáculos para ciclistas

A Prefeitura de São Paulo espalhou 202 arcos luminosos ao longo dos 2,5 quilômetros da Avenida Paulista na decoração de Natal deste ano. Com média de um arco a cada dez metros, o cenário se transformou em palco para fotos e selfies, caindo no gosto de quem circula pela região. O problema é que os arcos foram instalados sobre a ciclofaixa que corta a via. Não ao lado. Não próximo. Em cima. Não demorou para que o espaço virasse palco para brigas e discussões, sobretudo à noite, quando a iluminação é acionada. São Paulo: Polícia procura homem que usou moto aquática para roubar e agredir banhistas em São Vicente Educação: Escolas estaduais de São Paulo vão adotar nova ferramenta de inteligência artificial em 2026; conheça Ciclistas e condutores de patinete elétrico, que geralmente disputam a via entre si, passaram a ter que desviar de crianças, carrinhos, turistas, tripés improvisados e até mesmo de carrinhos de comida, atraídos para a ciclofaixa de olho em oportunidades de foto — ou de lucrar em meio ao fluxo de pessoas. Alguns passaram inclusive a oferecer serviços de foto profissional na via. Na Paulista iluminada, o som das campainhas dos ciclistas passou a rivalizar até mesmo com as buzinas dos carros — pouco comuns na via, conhecida, para os padrões paulistanos, por seu tráfego mais protocolar. Na noite em que a reportagem do GLOBO passou no local, ciclistas menos pacientes xingavam, e os pedestres, cientes de que estavam invadindo o espaço, os ignoravam. Muitas fotos registraram sorrisos protocolares. Na maior parte do tempo, ciclistas e pedestres acabavam involuntariamente dividindo os enquadramentos. Para o ciclista Luiz Henrique, 54, que pedalava com um grupo na avenida, o conflito é inevitável. Ele não culpa os pedestres pela busca da foto perfeita, mas cobra uma resposta do poder público. — A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) podia separar uma faixa da avenida para os ciclistas e deixar a ciclofaixa, nesse fim de ano, para o pessoal tirar foto, não? — sugeriu. A cada clique, um susto Já os pedestres brigavam por alguns segundos livres para registrar imagens no “túnel de luz”, tão convidativo para o clique quanto o nome indica. E a cada clique, um quase acidente. A cada freada, um susto. Turistas de Salvador e de cidades de Minas Gerais, que estavam parados no meio da ciclofaixa e preferiram não se identificar, disseram não entender a dinâmica do local. Se a cidade montou um palco, imaginaram, alguém deveria ocupá-lo. — Por que preparar algo que não pode ser usado? — questionou o mineiro, que estava com a mulher e dois filhos aguardando uma oportunidade para tirar uma foto. — A gente está errado em estar aqui? Se sim, não sabia. Mas a prefeitura também colocou a decoração bem no meio da pista — ponderou. Já o casal baiano, em sua primeira visita à capital paulista, no limite entre o meio-fio e a ciclofaixa, até tentou respeitar o fluxo. Mas também foi incapaz de resistir a algumas fotos. — A gente olha para um lado e para o outro, mas os sininhos das bicicletas não param — contou o namorado, com sorriso amarelo e o celular na mão, enquanto a reportagem do GLOBO, ainda que por motivo profissional, acabava sendo um obstáculo a mais na ciclofaixa. Questionada, a CET disse monitorar os pontos com decoração natalina instalados pela prefeitura, com atenção especial às áreas de grande circulação de pedestres. “As equipes acompanham o fluxo no local e podem adotar medidas operacionais para reduzir conflitos e garantir a segurança viária, especialmente nos períodos de maior movimento”, afirmou o órgão, em nota. O Natal Iluminado foi uma iniciativa da prefeitura, que, ao todo, aplicou cerca de R$ 30 milhões em recursos públicos nas decorações festivas, espalhadas pelo Centro. Segundo a gestão municipal, a data não recebia um aporte como esse há pelo menos uma década. As ações começaram no fim de novembro e seguirão até o dia 6 de janeiro. Cálculo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido da Secretaria Municipal da Cultura estima que a programação oficial de fim de ano em São Paulo— que também inclui a Corrida Internacional de São Silvestre e a virada do ano na Paulista — gere um impacto de R$ 2 bilhões na economia da cidade. A administração, por sua vez, crava em 18 mil os empregos gerados.