O bom velhinho da boemia carioca está em Copacabana

Dizem que o Papai Noel mora no Vilarejo de Santa Claus, na Lapônia, mais de 15 mil quilômetros distante daqui. Por sorte, nós, cariocas, temos o nosso próprio bom velhinho. Além de ficar bem mais perto, vive num lugar de altas temperaturas, chova ou faça sol: o fervo de Copacabana. Mais precisamente na esquina das ruas Barata Ribeiro e Paula Freitas, no Real Chopp. História, cerveja e axé: do samba no Renascença à batidinha no Bar do Momo, um roteiro para aproveitar os encantos do Rio no verão Caipirinha: um cartão-postal líquido do Rio Bem diferente da figura corpulenta, barbuda e expansiva dos comerciais, Seu Hermínio, o bom velhinho da boemia carioca, é um senhor baixinho, sem barba que, vez ou outra, se permite soltar uma piada de salão, baixinho. Se ninguém ouvir, não tem problema. Ele mesmo ri da anedota. Os frequentadores assíduos caem mesmo na gargalhada quando ele solta um de seus bordões. Quebrou um prato? Uma caldereta? É batata. Ele manda de onde estiver para todo mundo ouvir: “Quebra dois! Um só não pode!”. Orgulhoso dos petiscos de um balcão que atravessa o salão, Seu Hermínio não esconde a preferência de um que sai da cozinha quente. Magníficos bolinhos de carne com casquinha crocante e rosadinhos por dentro. Podem vir na versão individual ou na porção de dez, minha preferida. Raro encontrar uma mesa sem ele, que é carinhosamente chamado de feio. Os mais iniciados chegam a pedir com um ovo frito, criando o feio à cavalo. Uma das histórias mais conhecidas de lá é de quando Jaguar rebatizou o bar, até então chamado de Real Sucos. “Hermínio, nunca vi sair um suco daqui. A partir de agora, é Real Chopp!”, decretou. Para alegria geral da nação boêmia, o bom velhinho acatou sem discutir. Sem discutir e sem registrar o novo nome. Não satisfeito em rebatizar o bar, Jaguar ainda deu um apelido à casa em razão da altura dos proprietários. Ele passou a chamar o Real de Bar dos Anões. Não caiu na boca do povo, mas pegou entre os confrades da patota. De olho comprido na energia que atraía cada vez mais gente para a esquina, um vizinho vestiu a carapuça de Grinch, decidiu acabar com a festa e registrou o nome Real Chopp. Talvez se valendo de ser “amigo dos famosos” por ter atendido o telefonema de Frank Sinatra para Tom Jobim no Veloso, em Ipanema. E não pensou nas consequências. Ledo engano. O povo não deixou barato. Era 2013, época de efervescência de manifestações. Indignada, a turma do Real também foi às ruas. Num protesto icônico, Jaguar, Antônio Augusto, Kadu Tomé e companhia invadiram a esquina vestidos de preto, com gorros na cabeça e chopes na mão reivindicando o nome de volta. Território reconquistado com sucesso. Legitimando o nome no CNPJ, o Real tem um dos melhores chopes da cidade, que passeia por uma serpentina de mais de cem metros até chegar à torneira. A conta exata é a seguinte: do início da caixa de gelo até a bica da chopeira cabem o equivalente a 46 tulipas. Apesar de não beber, Seu Hermínio faz questão de subir ainda mais o sarrafo servindo também chope escuro, cada vez mais raro na cidade. E quando perguntam se o chope é bom, ele finge modéstia: “Não sei se é, mas é o que dizem”. Para tirar a prova dos nove (chopes), precisa esperar até amanhã. Hoje o Real não abre porque o bom velhinho está por aí fazendo um extra. Feliz Natal!