O Papa Leão XIV exortou na quinta-feira a Rússia e a Ucrânia a encontrarem a “coragem” para manter conversações diretas e falou da terrível situação humanitária em Gaza na sua primeira mensagem de Natal. O Pontífice americano, eleito pelos seus colegas cardeais em maio após a morte do seu predecessor, o Papa Francisco, condenou também a “insensatez” da guerra e os “escombros e feridas abertas” que ela deixa para trás. Veja também: Papa Leão XIV celebra primeira missa de Natal do pontificado e destaca apelo por uma ‘paz desarmada’ ‘Dia repleto de alegria’: Com trégua em Gaza, Belém retoma celebrações de Natal Em discurso para uma multidão de cerca de 26 mil pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa pediu “solidariedade e aceitação dos necessitados” na Europa — uma possível referência ao crescente sentimento anti-imigração no continente. — Oremos de maneira especial pelo povo atormentado da Ucrânia — disse ele, acrescentando: — Que as partes envolvidas, com o apoio e o compromisso da comunidade internacional, encontrem a coragem para se engajar em um diálogo sincero, direto e respeitoso. Autoridades russas e ucranianas conversaram separadamente nas últimas semanas com negociadores dos Estados Unidos sobre propostas para encerrar a guerra iniciada pela invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022. Dezenas de milhares de pessoas foram mortas, o leste do território ucraniano foi dizimado e milhões foram forçadas a fugir de suas casas. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, delineou esta semana os pontos-chave de um plano para pôr fim ao conflito após as negociações com os EUA. Mas o seu homólogo russo, Vladimir Putin, não demonstrou até agora qualquer vontade de chegar a um compromisso, reforçando as suas exigências intransigentes. 'Retorno à vida' Em sua primeira homilia de Natal como líder da Igreja Católica, Leão XIV abordou as condições desoladoras na Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de pessoas ainda vivem em abrigos temporários em condições invernais semanas após um frágil cessar-fogo ter sido estabelecido. — Como não pensar nas tendas em Gaza, expostas por semanas à chuva, ao vento e ao frio? — refletiu o religioso, antes de dizer que os habitantes do território “não têm mais nada e perderam tudo”. A ONU afirmou que cerca de 1,3 milhão de pessoas precisam atualmente de assistência para abrigo em Gaza e alertou para o risco crescente de hipotermia com a queda das temperaturas. — A guerra, em todas as suas formas, tem sido dura para todos os que vivem nesta terra — disse Elias al-Jalda, um cristão palestino de Gaza, à AFP após assistir a uma missa de Natal na única igreja católica romana de Gaza na noite de quarta-feira. — Esperamos que este ano marque o início de uma nova fase, definida pelo fim completo da guerra e pelo retorno da vida a Gaza. Cidade onde Jesus Cristo nasceu vive Natal de paz Em Belém, a comunidade cristã celebrou seu primeiro Natal festivo em mais de dois anos, à medida que a cidade ocupada da Cisjordânia emerge da sombra da guerra em Gaza. Centenas de fiéis se reuniram para a missa na noite de quarta-feira na Igreja da Natividade em Belém, o local bíblico onde Jesus Cristo nasceu. Outros tantos também participaram do desfile pela estreita Star Street em Belém na quarta-feira, enquanto uma multidão se aglomerava na praça. — Hoje é um dia cheio de alegria, porque não pudemos celebrar devido à guerra — disse Milagros Anstas, 17 anos. Homens vestidos de Papai Noel vendiam maçãs caramelizadas e brinquedos, enquanto famílias tiravam fotos em frente a um presépio emoldurado por uma estrela gigante. Ao cair da noite, luzes multicoloridas brilhavam sobre a Praça da Manjedoura e uma imponente árvore de Natal reluzia ao lado da Igreja da Natividade. Esperança na Síria Na Síria, as luzes de Natal iluminaram a Cidade Velha de Damasco, apesar dos temores da comunidade cristã de violência após um ataque mortal em junho. Ao redor do distrito, que abriga várias igrejas importantes, enfeites vermelhos pendiam das árvores, lojistas colocavam decorações de Natal e vendedores ambulantes vendiam castanhas quentes. Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump divulgou uma mensagem totalmente diferente daquelas dos líderes religiosos. Ele desejou um Feliz Natal “a todos, incluindo a escória radical de esquerda”, referindo-se aos democratas. O mau tempo atrapalhou as festas de fim de ano na Califórnia, onde as autoridades, temendo inundações, declararam estado de emergência em Los Angeles e ordenaram evacuações. Já na Austrália, o primeiro-ministro Anthony Albanese deixou uma mensagem sombria após o ataque mortal durante a celebração do Hanukkah em Bondi Beach, em 14 de dezembro. — Após o terror infligido aos judeus australianos que celebravam o Hanukkah e Bondi Beach, sentimos o peso da tristeza em nossos corações — disse ele.