O crescimento do Reform UK tem redesenhado o cenário político britânico ao capitalizar a insatisfação popular com a imigração, o custo de vida e o desgaste dos partidos tradicionais. Liderado por Nigel Farage, figura central do Brexit, o partido Reform UK vem se consolidando como força eleitoral mesmo com representação reduzida no Parlamento — atualmente, são apenas cinco cadeiras conquistadas em 2024. A ascensão ocorre em meio à crise de credibilidade dos conservadores, que governaram o país por 15 anos, e à frustração com o Partido Trabalhista, que voltou ao poder sem conseguir apresentar respostas rápidas aos principais problemas do país. O discurso de Farage, centrado no combate à imigração e na crítica direta ao establishment político, encontrou terreno fértil nesse cenário. + Leia mais notícias de Mundo em Oeste O político Nigel Farage comanda o Reform UK, no Reino Unido | Foto: REUTERS/Jakub Porzycki Desde outubro, a migração de ao menos 20 vereadores conservadores para o Reform UK reforçou o movimento de desgaste interno do Partido Conservador. Para Farage, a legenda tradicional é corresponsável pelo aumento da imigração, pela crise econômica e pelo fracasso do Brexit em cumprir suas promessas. Em entrevista ao Estadão , o cientista político Steven Fielding, da Universidade de Nottingham, afirmou que “o Partido Conservador governou por 15 anos e a população o culpa pela crise do custo de vida, pelo aumento da imigração e por um Brexit que não entregou o que prometeu”. Para ele, o Reform UK ocupa o espaço deixado por essa frustração acumulada. Reform UK avança com a instabilidade política O contexto é agravado por anos de instabilidade política: o Reino Unido teve seis primeiros-ministros em uma década, sem avanços estruturais duradouros. Apesar da vitória eleitoral do Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, a expectativa de mudança ainda não se traduziu em resultados concretos, o que mantém o ambiente de insatisfação. O líder do Reform UK, Nigel Farage, durante uma coletiva de imprensa em Londres, Reino Unido (10/11/2025) | Foto: REUTERS/Corey Rudy/Foto de arquivo Uma pesquisa do instituto Ipsos divulgada em outubro mostrou que a imigração é hoje a principal preocupação da população britânica. “O Reform UK cresce porque os eleitores sentem que ninguém fez nada por eles nos últimos 20 anos”, analisou Fielding. Farage, frequentemente comparado a Donald Trump, aposta em uma retórica direta e na promessa de deportar imigrantes ilegais, restringir benefícios sociais e impor limites mais rígidos à imigração legal. Sua estratégia mira eleitores descontentes com promessas não cumpridas e a percepção de que o sistema político ignora suas demandas. + Federação de Mulheres do Reino Unido proíbe filiação de transgênero Analistas apontam que os conservadores tentam reagir com propostas semelhantes, mas enfrentam desconfiança. “Quem quer uma política migratória mais dura vota no Reform, porque os conservadores já tiveram a chance e falharam”, disse Fielding. Do lado trabalhista, Keir Starmer enfrenta queda de popularidade e dificuldades para impor sua agenda. Embora tenha maioria no Parlamento, lida com pressões internas, críticas à condução econômica e resistência a pautas sociais. Para alguns analistas, o primeiro-ministro tenta se posicionar como um freio ao avanço da direita radical, mas sem convencer o eleitorado. + Reino Unido anuncia endurecimento de regras para conter imigração O cientista político Samuel Earle também avaliou o cenário no Reino Unido: “O Reform UK cresce porque oferece uma narrativa simples e direta. Farage passa a sensação de autenticidade, enquanto os demais partidos parecem desconectados da realidade”. Com eleições previstas apenas para 2029, o governo trabalhista aposta no tempo para mostrar resultados. Ainda assim, a ascensão do Reform UK indica que o eleitorado britânico segue volátil — e disposto a desafiar o sistema político tradicional. + Reino Unido mira Angola, Namíbia e Congo em nova ofensiva contra imigração ilegal O post Reform UK avança no Reino Unido ao explorar crise migratória e desgaste dos partidos tradicionais apareceu primeiro em Revista Oeste .