Com murais por todo o mundo, Kobra investe em telas e prepara mostra retrospectiva para 2027

Conhecido mundialmente por seus murais em áreas públicas, por meio dos quais chegou ao Guinness Book, Eduardo Kobra quer dar passos menores em sua carreira. Mas não em termos de ambição profissional, e sim em relação à escala de seus trabalhos. Com 37 anos de atuação nas ruas com o grafite, o artista paulistano tem se dedicado cada vez mais à produção de telas em seu ateliê em Itu, no interior do estado. No início do mês, durante a 23ª edição da Art Basel Miami Beach, maior feira de arte das Américas e que leva à capital da Flórida uma série de eventos do setor, Kobra apresentou uma seleção de obras na Miami Art Week, principal programação paralela da temporada. 'Não levava a sério': Como Regina Pinho de Almeida construiu coleção 'atípica', com obras de grandes artistas Em cartaz no Rio: Réveillon de Nápoles em fotografias, individual de Flávio Cerqueira no CCBB e mais Representado pela galeria Eden, que conta com espaços em países como EUA, França e Emirados Árabes, o artista vendeu 16 telas em Miami, cidade que mantém oito de seus 57 murais no país, entre eles obras icônicas como os seis grafitados no distrito de Wynwood e o dedicado ao piloto Ayrton Senna, no autódromo local. A ideia é dar mais visibilidade a uma produção que o artista desenvolve há anos, iniciada como parte de seus projetos de street art mundo afora. — Faço esse trabalho em menor escala há cerca de 20 anos, mas não era algo que dava destaque porque começou como estudos para os murais. Cada trabalho público sempre tem um original em tela, é a forma como testo as cores, a luz e sombra — conta Kobra. — A maioria deles foi adquirida por colecionadores, mas não era tão divulgado porque era uma técnica que estava desenvolvendo e evoluindo, entendendo melhor como adaptar meu trabalho a uma escala menor. Uma das obras de Kobra, retratando Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat Divulgação/Renan Roberto/Turbo Labs Além de obras vendidas diretamente no ateliê, colecionadores adquirem telas do artista nos leilões beneficentes que participa, dos quais dedica a sua renda para o Instituto Kobra, voltado a ações sociais e de formação, cuja a sede em Itu está em reforma, com abertura prevista para o ano que vem. — Chego a levar mais tempo para pintar uma tela de um metro quadrado do que uma empena de um prédio. Como minhas obras são realistas, nos murais eu consigo fazer mais rapidamente as formas, trabalhar luz e sombra, a perspectiva — explica. — Na tela, é tudo mais minucioso. Preciso me dedicar mais num espaço muito reduzido para fazer detalhes do rosto ou das mãos, por exemplo. Kobra em seu ateliê, onde também se dedica à produção de telas: início como estudos para murais Divulgação/Renan Roberto/Turbo Labs Kobra apresentou em Miami obras criadas em papelão e mármore carrara, além das telas. A variedade de suportes possibilita, junto da entrada em galerias, a presença em museus para além dos murais comissionados — no ano passado, ele expôs em espaços como o museu do Hampton House, em Miami, e no Palazzo Blu, em Pisa, na Itália: — Sair das ruas para o circuito de galerias e museus sempre foi um desafio para quem veio do grafite, desde o Basquiat, o Keith Haring, até nomes da atualidade, como o Banksy, o JR, OSGEMEOS. Sei que essa possibilidade vem da visibilidade do meu trabalho público, que nunca vou abandonar. Para um cara autodidata, vindo da periferia, é inimaginável conquistar essas oportunidades que a arte me deu. ‘Stop Wars’, um dos murais do brasileiro no distrito de Wynwood, em Miami Divulgação Entre os projetos para os próximos anos, Kobra prepara uma panorâmica itinerante cobrindo as mais de três décadas de carreira, com inauguração prevista para 2027. — Quero fazer uma mostra que consolide a minha trajetória, a ideia é passar por cidades como Rio, São Paulo, Curitiba, e depois tentar outros países. Acho que estava esperando o momento certo, até em termos de organização. Estamos fazendo a catalogação dos meus trabalhos, tenho mais de três mil fotos, mas nem eu mesmo sei onde eu tenho mural pelo mundo. Estamos levantando tudo, quais as obras ainda existem ou não — comenta Kobra. — Em paralelo, eu também desenvolvo um projeto chamado Arte de Restaurar, para recuperar meus murais. Inclusive estou buscando parceiros para restaurar minha obra no Boulevard Olímpico (na Zona Portuária do Rio). Não tem um dia que não me marcam nessa obra nas redes, é um dos murais a que tenho mais carinho.