A maioria dos adolescentes sabe que teorias da conspiração sem fundamento, propaganda partidária e deepfakes gerados artificialmente circulam nas redes sociais. Mas há alunos que sabem como identificá-los. 'Eu amo IA': veja por que Trump dobra aposta nas big techs e deixa analistas de Wall Street de cabelo em pé ‘Sou a IA. Como posso te ajudar?': veja como robôs viraram ‘consultores’ de lojas on-line para acelerar compras do Natal Na Abraham Lincoln High School, em San Francisco, nos Estados Unidos, a professora Valerie Ziegler treina alunos das disciplinas de governo, economia e história a consultar diferentes fontes, reconhecer conteúdos feitos para provocar indignação e considerar as motivações de influenciadores. Eles discutem formas de distinguir deepfakes de imagens reais. Ziegler, de 50 anos, faz parte de uma vanguarda de educadores da Califórnia que correm para preparar os estudantes para um mundo online em rápida transformação. As políticas de moderação de conteúdo enfraqueceram em muitas plataformas de redes sociais, tornando mais fácil mentir e mais difícil confiar. A inteligência artificial evolui tão rapidamente — e gera conteúdos tão persuasivos — que até profissionais especializados em detectar sua presença têm sido enganados. Criador do Telegram, que tem 100 filhos, quer mais e busca mulheres: ele paga a fertilização in vitro A Califórnia está à frente de muitos outros Estados ao pressionar escolas a ensinar letramento digital, mas mesmo ali as autoridades educacionais não devem estabelecer padrões específicos antes do fim de 2026. Por isso, Ziegler e um grupo crescente de colegas seguem adiante por conta própria, reunindo planos de aula de organizações sem fins lucrativos e atualizando materiais antigos para lidar com novas tecnologias, como a inteligência artificial que impulsiona aplicativos de vídeo como o Sora. Os métodos são práticos, incluindo exercícios em sala que checam fatos de posts sobre história no TikTok e exploram como selos que parecem indicar verificação nas redes sociais muitas vezes podem ser comprados, e não conquistados. Alunos tentam determinar a autenticidade de um perfil de mídia social durante uma aula sobre alfabetização digital na Abraham Lincoln High School, em São Francisco, EUA Minh Connors/The New York Times Professores e bibliotecários em todo o país há muito tentam preparar os alunos para os riscos da vida online, mas os últimos anos deixaram claro para os educadores o quanto esse trabalho passou a ser, cada vez mais, uma corrida atrás de um alvo em movimento. Os esforços de Ziegler evidenciam as dificuldades de acompanhar o ritmo de novas plataformas de redes sociais, aplicativos e avanços em IA. “Estamos enviando essas crianças para o mundo, e deveríamos ter fornecido a elas habilidades”, disse Ziegler, ex-professora do ano da Califórnia. “A parte difícil é que nós, adultos, estamos aprendendo essa habilidade ao mesmo tempo que elas.” De 'Marisa Maiô' a deepfake com Haddad: como identificar um vídeo gerado por IA O letramento em redes sociais é um tema difícil para as escolas ensinarem, especialmente agora. O financiamento federal para a educação é incerto, e o governo Trump politizou e penalizou o estudo da desinformação e da informação falsa. A IA está se tornando onipresente no sistema educacional, disponível para crianças cada vez mais novas, ao mesmo tempo em que seus riscos para alunos e educadores se tornam cada vez mais claros. O News Literacy Project, uma organização sem fins lucrativos voltada à educação midiática, entrevistou 1.110 adolescentes em maio do ano passado e constatou que 4 em cada 10 disseram ter recebido algum tipo de instrução sobre letramento midiático em sala naquele ano. Manipulação digital: deepfake ultrarrealista eleva preocupação com eleição e desafia fiscalização para 2026 Oito em cada 10 afirmaram ter se deparado com alguma teoria da conspiração nas redes sociais — incluindo falsas alegações de que a eleição de 2020 foi fraudada — e muitos disseram estar inclinados a acreditar em pelo menos uma dessas narrativas. Ziegler ensina os “screenagers”, como os próprios alunos se definem, que seus feeds são alimentados por algoritmos altamente responsivos e que grandes números de seguidores não tornam uma conta confiável. Em um caso, os estudantes aprenderam a distinguir entre um grupo respeitável de historiadores no Instagram e uma conta de sátira histórica com nome semelhante. Agora, eles passaram a checar duas vezes as informações que despertam seu interesse online. “Esse é o ponto de partida”, disse Xavier Malizia, de 17 anos. Publicação: Arquitetos da IA são a personalidade do ano da revista Time Ziegler tentou ensinar letramento em IA pela primeira vez no ano passado, testando um novo módulo do Digital Inquiry Group, uma organização sem fins lucrativos voltada à alfabetização. Ela depende muito de colaborações, consultando com frequência a bibliotecária da escola ou usando recursos gratuitos do CRAFT, um projeto de letramento em IA da Universidade Stanford. Riley Huang, de 17 anos, contou que recentemente quase — mas não totalmente — foi enganada por vídeos gerados artificialmente que retratavam Jake Paul, boxeador e influenciador popular, como um homem gay aplicando maquiagem. Elisha Tuerk-Levy, de 18 anos, disse ter sido “perturbador” assistir a um vídeo realista de IA mostrando alguém caindo do Monte Everest, mas acrescentou que as imagens nesses vídeos costumam ser suaves demais — um “sinal” útil para identificá-los como falsos. Initial plugin text Zion Sharpe, de 17 anos, observou que vídeos gerados por IA frequentemente parecem vir de contas em que todos os posts mostram a mesma pessoa usando as mesmas roupas e falando com a mesma entonação e cadência. “É meio assustador, porque ainda temos muito mais para ver”, disse Zion. “Sinto que isso é só o começo.” Formuladores de políticas públicas estão prestando mais atenção ao tema. O Dr. Vivek Murthy, então cirurgião-geral no governo do ex-presidente Joe Biden, pediu em 2023 que as escolas implementassem ensino de letramento digital. Pelo menos 25 Estados aprovaram legislações relacionadas, segundo um relatório a ser divulgado pela Media Literacy Now, uma organização sem fins lucrativos. Neste verão, por exemplo, a Carolina do Norte aprovou uma lei que torna obrigatório o ensino de letramento em redes sociais a partir do ano letivo de 2026-27, abordando temas como saúde mental, desinformação e cyberbullying. Muitas dessas novas regras, no entanto, são voluntárias, pouco eficazes, lentas para entrar em vigor ou não reconhecem a presença crescente da inteligência artificial. “Eu realmente gostaria que pudéssemos fazer as coisas acontecerem mais rápido”, disse o deputado estadual da Califórnia Marc Berman, democrata que escreveu dois projetos de lei sobre letramento midiático aprovados em 2023 e 2024. 'Nós contra eles': As novas superestrelas de IA da Meta começam a bater de frente com o restante da empresa As leis incentivaram o Estado a incorporar lições sobre letramento midiático e uso responsável de IA em todas as séries, mas as autoridades educacionais da Califórnia ainda não decidiram um plano formal de ação. “Trata-se de fortalecer de fato essas habilidades fundamentais para que, independentemente da tecnologia que surja daqui para frente, os jovens tenham capacidade de lidar com ela”, afirmou Berman.