Comercial da Havaianas com Fernanda Torres repercute na imprensa internacional: 'A mais recente obsessão'

A reação da direita brasileira ao comercial da Havaianas estrelado por Fernanda Torres foi tema de destaque na imprensa internacional na última semana. Na propaganda, a atriz afirma aos espectadores que não deseja que eles comecem o próximo ano "com o pé direito". O jogo de palavras com a conhecida expressão popular significou, para Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Nikolas Ferreira (PL-MG), entre outros políticos de direta, uma indireta ao espectro político. Decisão 'consciente e legítima': entenda o que levou Bolsonaro a divulgar carta que formaliza Flávio para 2026 Datafolha: 35% se identificam com a direita, 22% com a esquerda e 17%, com o centro "São as sandálias de dedo favoritas do Brasil. Agora, a direita está boicotando", diz o título de reportagem do New York Times. O jornal americano destacou que, durante anos, os chinelos da marca foram "um símbolo global da cultura brasileira" e agora "estão no centro de uma disputa política". "Mesmo com as divisões políticas fragmentando a maior nação da América Latina, o amor inabalável pelas sandálias Havaianas era algo em que a maioria concordava. 'Todo mundo usa', afirma o slogan da empresa. 'Todo mundo ama.' Isto é, até que o chinelo favorito do Brasil foi subitamente envolvido em uma tempestade política", destaca o texto, que cita a reação "imediata" dos conservadores por verem, no anúncio, uma mensagem política "direcionada ao seu movimento". New York Times repercute polêmica da direita brasileira com a Havaianas Reprodução No comercial, Fernanda defende que as pessoas entrem 2026 com os "dois pés". — Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa, todo mundo ama — diz Fernanda, no comercial. Leia também: Como Fernanda Torres roubou a cena nas redes sociais em 2025 impactando até o carnaval Depois da divulgação do comercial, políticos de direita pediram um boicote à marca. Cassado por ultrapassar o limite de faltas na Câmara dos Deputados, o ex-parlamentar Eduardo Bolsonaro jogou um par de chinelos no lixo para mostrar aos seguidores a indignação com a propaganda. O jornal britânico The Guardian escreveu que apoiadores de Jair Bolsonaro "cancelaram" a Havaianas por causa do comercial. "Sem liderança desde que seu principal representante foi preso por tentativa de golpe , a extrema direita brasileira encontrou um novo inimigo: a marca de chinelos Havaianas", destacou o diário, que descreveu a polêmica e lembrou boicotes parecidos de apoiadores de Donald Trump a marcas como a Bud Light, as máquinas Keurig e os cereais Kellogg's. O Guardian também deu destaque para a reação da esquerda à controvérsia, com "apelos sinceros" de doação das sandálias e zombaria. 'A mais recente obsessão' O jornal francês Le Monde destacou que a marca passou a enfrentar "pedidos de boicote" por parte de figuras políticas "que consideram a propaganda tendenciosa contra a direita, com a proximidade das eleições presidenciais do próximo ano". O diário disse que a indignação tomou conta do campo conservador, com algumas reações "particularmente virulentas", como a de Eduardo Bolsonaro. Para o jornal espanhol El País, o boicote à Havaianas se tornou "a mais recente obsessão da extrema-direita brasileira". Parlamentares alinhados a Bolsonaro argumentaram, escreveu o jornal, que um anúncio publicitário com Fernanda Torres é um ataque aos conservadores. "Poucas coisas no Brasil são tão universais quanto as sandálias de dedo: na ausência de dados censitários confiáveis, pode-se afirmar com segurança que cada um dos 213 milhões de habitantes do Brasil possui pelo menos um par do clássico chinelo de dedo — um calçado básico, de borracha, rudimentar e confortável. Havaianas (a marca há muito se tornou sinônimo do produto) são — ou eram — praticamente um emblema nacional, uma daquelas marcas que todo mundo gosta… até agora. Uma recente campanha publicitária provocou a fúria da extrema-direita, que lançou uma campanha de boicote nas redes sociais", ressaltou o jornal, que também citou a reação de Eduardo. O El País destacou que, no campo de batalha das redes sociais, a direita parecia estar falando sozinha, mas depois a maioria dos brasileiros reagiu "primeiro com perplexidade e depois com memes". "Piadas sobre inimigos fantasmas inundaram a internet, enquanto a Havaianas ganhava uma campanha publicitária gratuita sem precedentes", diz o jornal, que vinculou a polêmica ao "estado precário" desse espectro político no Brasil. "Mais de um analista tentou atribuir essa recente fixação em Bolsonaro ao estado precário da extrema direita brasileira, que está desorientada e sem uma narrativa sólida para se unir. O líder do movimento está preso, cumprindo pena de 27 anos por conspiração golpista . O presidente dos EUA, Donald Trump, que durante meses ameaçou o Brasil com tarifas e sanções para tentar influenciar o julgamento de Bolsonaro, diminuiu o tom e agora posa sorrindo ao lado do presidente brasileiro Lula da Silva, que atualmente aparece em todas as pesquisas como o claro favorito para vencer as eleições do ano que vem", afirma o texto. O boicote à Havaianas também foi destaque na RFI, da França; no El País do Uruguai; e no El Mundo, da Espanha, entre outros veículos da imprensa estrangeira.