O cotidiano da Maré, visto de dentro para fora, ganhou moldura nas ruas do próprio território. Em postes, muros e esquinas por onde passam moradores todos os dias, fotografias feitas por jovens da comunidade convidam a um olhar mais atento — e menos estigmatizado — sobre o Complexo de Favelas da Maré. É assim que a exposição “Olhares negros”, aberta até a próxima quarta-feira, se apresenta: sem paredes, sem horários e com acesso direto à população. Família toda de mudança: menino do Complexo do Alemão vence disputa com mais de três mil bailarinos e entra para a Escola Bolshoi Projetos sociais: Natal Solidário em Niterói mobiliza comunidade com ações para famílias e crianças A mostra reúne trabalhos de 20 jovens que participaram de oficinas de fotografia promovidas pela ONG Luta Pela Paz. As imagens estão distribuídas em minidoors instalados em vias como as ruas Principal, São Jorge, Joaquim Nabuco, do Campo, Maçaranduba e Teixeira Ribeiro, onde fica a sede da organização. A proposta é levar a arte para onde as pessoas estão e transformar o próprio território em galeria a céu aberto. — É um lugar onde também existe exposição de obras artísticas; existe o levante de pessoas a fim de trazer cultura e arte para a comunidade e de incentivar a esperança dos jovens do local — afirma Samantha Oliveira, uma das artistas da mostra. Fotografia de Jhessy Sanches para a exposição “Olhares negros” ocupa a Rua Tancredo Neves 11 Fotos de Divulgação/Matheus de Araujo A exposição valoriza as narrativas da juventude negra por meio da fotografia, destacando identidades, afetos e memórias que compõem a história da Maré e da própria Luta Pela Paz. As imagens nasceram ao longo das atividades do projeto e refletem tanto o aprendizado técnico quanto a construção de um olhar sensível sobre o território. — Para mim, é extremamente importante participar da exposição com um autorretrato representando outras mulheres negras e trans como eu e fortalecendo esse vínculo que a ONG Luta Pela Paz tem com as pessoas à margem da sociedade, as quais não têm sequer uma perspectiva de viver da arte, de fazer arte, de ter reconhecimento através das suas obras — diz Samantha. Aos 25 anos, a jovem é natural do Maranhão e chegou ao Rio após enfrentar situações de transfobia e buscar novos espaços para existir e criar. Foi ainda no Nordeste que conheceu a Luta Pela Paz, por meio da televisão. A fotografia sempre fez parte de sua vida e, ao encontrar o projeto Olhares Negros, decidiu transformar essa relação em expressão artística e afirmação de identidade. As fotografias expostas são resultado de um processo formativo que durou três meses. Ao longo de mais de 36 horas de aulas, os participantes foram estimulados a desenvolver a criatividade, aprender técnicas fotográficas e ampliar perspectivas de futuro. Câncer: Humaitá ganha centro de tratamento anexo à Casa de Saúde São José Para Gustavo “Gugah”, um dos alunos, a experiência foi transformadora. — Entrei para o projeto como um Gustavo e estou saindo como outro. Esse processo de três meses mudou todos nós, tanto alunos quanto os professores. Foi muito bonito, rico de conhecimento e histórico. Quando olhamos para trás, temos orgulho de nos ver, nos sentimos emocionados — relata. A mudança não ficou restrita ao domínio da câmera. Para a aluna Duda Braga, o maior aprendizado foi sobre sensibilidade e escuta: — Eu me vejo, daqui para a frente, com um olhar sensível, já sabendo presenciar e fotografar com o mesmo amor que eu estou vendo aquela cena. Transformar as vivências em imagens dá medo porque, muitas vezes, o que estamos vivendo não conseguimos fotografar. Mas quando eu tirei a foto que está na exposição, o sentimento que ela me transmitiu e transmite até hoje é de paz, tranquilidade e sabedoria. A ONG Luta Pela Paz completa 25 anos de atuação no Complexo da Maré. Ao longo desse período, a organização tem contribuído para transformar a realidade de crianças, adolescentes e jovens por meio de cinco pilares: esporte, educação, liderança juvenil, empregabilidade e suporte social. Initial plugin text