Por que tantos jovens na China estão abraçando árvores?

No distrito central de Pequim, as árvores estão por toda parte. Em parques, ao longo das estradas e nos pátios das casas. Muitas foram plantadas apenas nas últimas décadas. Adeus rugas: o superalimento recomendado pelos especialistas para rejuvenescer a pele e gerar mais colágeno Água com gás: hidrata? É natural? Qual efeito das borbulhas no corpo? Especialistas tiram todas as dúvidas sobre a bebida Outras árvores – com troncos largos – existem há séculos e são aconchegantes ao toque: você pode formar uma corrente humana ao redor delas com um amigo, deslizar os dedos pela casca ou encostar o ouvido no tronco para ouvir o funcionamento interno da árvore. Abraçar uma árvore é uma arte. Essa habilidade não é intuitiva. Precisa ser aprendida. “Abraçar árvores é uma forma de ter contato físico na vida”, disse Xiaoyang Wong, líder de uma comunidade de terapia florestal em Pequim. Wong, de 35 anos. Ela é ex-editora de cinema que recentemente se requalificou como terapeuta florestal depois que a pandemia de COVID a deixou se sentindo sozinha e isolada. No início, muitas pessoas se sentem estranhas ao abraçar uma árvore, conta ela. Mas, nas terapias florestais, Wong incentiva as pessoas a compreenderem os múltiplos mundos da árvore, observando-a de perto, contemplando as formigas e outros insetos enquanto se movem entre os veios da casca. Só depois de demonstrar curiosidade e conversar com a árvore, ela encoraja as pessoas a decidirem tocá-la ou até mesmo abraçá-la. "Eu tinha um talento natural para abraçar árvores", disse. Eu, no entanto, só havia aprendido a abraçar uma árvore observando outras pessoas praticando esse ato supostamente bobo em parques por toda a cidade. Em Pequim, a maioria das árvores antigas está cercada pelo governo local para protegê-las de danos; no entanto, as mais novas ainda podem ser tocadas e apreciadas pelas pessoas. Buscando alívio Aos fins de semana e até mesmo tarde da noite, descobri pessoas – jovens e idosas, mães e filhas, amigas e amantes – abraçando árvores ou encostando as costas em um tronco, buscando alívio para o estresse do dia a dia. Esses fatores de estresse se agravaram, especialmente após a pandemia de COVID-19, quando a solidão e o isolamento se tornaram comuns. Além disso, como muitas jovens na China questionam a ideia do casamento, elas buscam amizades e novas maneiras de construir uma vida plena. Estudiosos argumentam que as árvores fazem os jovens se sentirem "enraizados" e "vivos". Em entrevistas com mais de 25 jovens, homens e mulheres, como parte de minha pesquisa em andamento – ainda não publicada – descobri que mais mulheres do que homens frequentavam a terapia florestal, buscando tanto a amizade com as árvores quanto com outros seres humanos. Passou do ponto no Natal? Conheça 'antídoto' eficaz para compensar excessos Nessas terapias, Wong adaptou as terapias tradicionais de banho de floresta com suas próprias ideias para aumentar o envolvimento das pessoas. Isso inclui a "encenação de plantas", onde as pessoas podiam assumir o nome de sua árvore favorita e serem chamadas por esse nome o dia todo. Ela nos incentivou, os participantes da terapia, a compartilhar um gesto que associávamos à planta escolhida, um gesto que descrevesse como imaginávamos que a árvore se moveria. Nessas sessões, Wong foi acompanhada por outras mulheres que também haviam desistido de buscar empregos de alta pressão e, em vez disso, aceitaram esse trabalho de meio período para cuidar de pessoas, árvores e plantas na cidade. Em uma dessas sessões em grupo, um ambientalista, Florian Mo, expressou sua frustração por não conseguir encontrar e manter o amor em sua vida. Ele argumentou que um problema crucial da sociedade chinesa era a estigmatização da busca pelo amor na juventude. Ele tinha 28 anos e estava se recuperando de um término de relacionamento. Mas, para Mo, isso acontecia apenas porque ele nunca havia aprendido a amar quando era adolescente. Se tivesse aprendido, não só seria um parceiro melhor hoje, como compartilhou conosco, como também conseguiria superar sua atual dor de coração com mais facilidade. Para jovens como Wong e Mo, as árvores surgiram como espaços para explorar a si mesmos e as conexões entre si. E embora a história da urbanização da China seja frequentemente contada por meio de imagens de ar, água e solo poluídos, jovens como Wong e Mo apresentam uma narrativa alternativa: a de que as novas gerações chinesas buscam reparar o ambiente urbano conectando-se com os outros, cuidando, nutrindo e até mesmo abraçando as árvores com seus amigos e desconhecidos. *Akanksha Awal é docente de Antropologia Social na SOAS, Universidade de Londres. *Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.