Em meio ao deserto da Austrália, a cidade de Coober Pedy destaca-se por sua população que vive majoritariamente em casas escavadas no subsolo, solução para enfrentar as temperaturas extremas da região, que podem chegar a 52°C durante o verão. A paisagem árida, marcada por montes de terra e tubos de ventilação, revela que aproximadamente 60% dos moradores optam por residências subterrâneas para garantir conforto térmico e redução de custos com energia, conforme revelou a BBC. + Leia mais notícias de Mundo em Oeste Localizada a 848 km ao norte de Adelaide, Coober Pedy surgiu no início do século XX graças à mineração de opala, atividade que deixou inúmeros poços e resíduos de solo espalhados. As casas subterrâneas, construídas principalmente em arenito e siltito, mantêm temperatura constante de 23°C, protegendo os habitantes do calor escaldante do dia e do frio intenso à noite. Esse modelo de moradia também elimina problemas como insetos, ruídos e luzes excessivas, além de oferecer economia significativa em comparação às residências de superfície. Tradição global das moradias subterrâneas O conceito de abrigos subterrâneos não é exclusivo de Coober Pedy. Povos antigos recorreram a cavernas na África do Sul há dois milhões de anos, e cidades como Derinkuyu, na Capadócia, Turquia , abrigaram até 20 mil pessoas em complexos subterrâneos com poços de ventilação, água e estruturas de uso coletivo. Essas soluções permitiram enfrentar invernos rigorosos e verões áridos, mantendo a temperatura interna em torno de 13°C. Localizada a 848 km ao norte de Adelaide, Coober Pedy surgiu no início do século XX graças à mineração de opala | Foto: Reprodução/BBC Além de abrigar pessoas, as cavernas turcas continuam sendo utilizadas para armazenar alimentos, explorando sua capacidade de refrigeração passiva. Na Austrália, a facilidade de escavar o solo macio de Coober Pedy fez proliferar casas subterrâneas, muitas vezes iniciadas a partir de antigos poços de mineração. Equipamentos modernos aceleraram o processo, tornando possível construir uma moradia sob a terra em menos de um mês, como explicou ao canal BBC, Jason Wright, responsável por um camping local. Vantagens e desafios das casas subterrâneas na Austrália O custo das casas subterrâneas em Coober Pedy é consideravelmente menor do que em cidades maiores. Recentemente, imóveis de três quartos foram arrematados por cerca de R$ 126 mil, enquanto em Adelaide o valor médio ultrapassa R$ 2,2 milhões. O arenito da região oferece estabilidade estrutural, permitindo a criação de ambientes amplos sem necessidade de reforços adicionais. Algumas residências subterrâneas se destacam pelo luxo, com piscinas, salões de jogos e detalhes arquitetônicos sofisticados. No entanto, a construção subterrânea apresenta desafios em regiões úmidas. Exemplos como o metrô de Londres mostram que a umidade pode causar problemas como mofo e infiltrações, exigindo técnicas especiais de impermeabilização. Já em Coober Pedy, o clima árido e a presença de poços de ventilação impedem o acúmulo de umidade, tornando as condições ideais para esse tipo de habitação, como destacou Barry Lewis, funcionário do centro de informações turísticas. Apesar dos benefícios, acidentes podem ocorrer, como desabamentos em locais mal escolhidos ou escavações que invadem propriedades vizinhas. Ainda assim, muitos moradores sentem falta da vida subterrânea, principalmente pelo conforto térmico proporcionado em meio ao calor extremo. Segundo Wright, “é moleza quando você sente aquele calor”. Com o avanço das mudanças climáticas e o aumento de eventos extremos, o exemplo de Coober Pedy pode inspirar soluções semelhantes em outras regiões do mundo. Leia também: “A anistia inevitável” , artigo de Augusto Nunes e Branca Nunes publicado na Edição 255 da Revista Oeste O post Austrália: em Coober Pedy, foge-se do calor vivendo sob a terra apareceu primeiro em Revista Oeste .