O ex-primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, de 72 anos, foi condenado a 15 anos de prisão nesta sexta-feira por abuso de poder e lavagem de dinheiro no escândalo de corrupção do fundo soberano 1Malaysia Development Berhad (1MDB). A nova sentença aumenta a pena inicial de seis anos que ele já está cumprindo por um caso separado relacionado ao veículo de investimento estatal agora extinto. Nas artes: Malásia vai recuperar obras de Picasso e Matisse compradas por advogada ligada a escândalo do fundo 1MDB Leia também: Tailândia anuncia acordo com Camboja para negociar conflito na fronteira O juiz Collin Lawrence Sequerah condenou o ex-líder por todas as quatro acusações de abuso de poder, bem como por todas as 21 acusações de lavagem de dinheiro, envolvendo cerca de US$ 554 milhões (mais de R$ 3 bilhões, na cotação atual) do fundo. Najib, vestido com um terno azul-marinho e camisa branca, foi visto olhando para baixo, encurvado em sua cadeira, enquanto o juiz lia o veredicto. Embora o político, filho de um dos fundadores do país, tenha sido preparado para a liderança desde jovem, ele sofreu uma queda espetacular do poder à medida que a indignação pública aumentava em relação ao escândalo de corrupção. Desde sua derrota nas eleições de 2018, investigações realizadas por governos sucessivos envolveram ele e sua esposa, Rosmah Mansor, em acusações de corrupção. Os promotores afirmam que Najib abusou de seus cargos como premier, ministro das Finanças e presidente do conselho consultivo da 1MDB para transferir grandes somas do fundo para suas contas pessoais há mais de uma década. De acordo com os investigadores, os rendimentos do fundo foram usados para financiar imóveis de alto padrão, um iate de luxo e obras de arte valiosas. Ao proferir o veredicto na manhã de sexta-feira, o juiz Sequerah rejeitou vários dos argumentos dos advogados de defesa, incluindo o de que Najib havia sido enganado por seu colaborador próximo, o obscuro empresário Low Taek Jho, mais conhecido como Jho Low. — As provas apontam claramente para o fato de que isso não foi uma coincidência, mas sim uma evidência de uma relação na qual Jho Low atuava como representante ou agente do acusado [Najib] no que diz respeito à gestão dos negócios da 1MDB — afirmou Sequerah. — O argumento da defesa de que Najib foi enganado e ludibriado pela administração e por Jho Low é sem mérito. A 1Malaysia Development Berhad era um fundo de investimento estatal lançado por Najib em 2009, logo após ele se tornar primeiro-ministro. Denunciantes afirmaram que Jho Low, um financista malaio com boas conexões, mas sem cargo oficial, ajudou a criar o fundo e tomou decisões financeiras importantes. Estima-se que mais de US$ 4,5 bilhões (R$ 24,9 bilhões, na cotação atual) foram desviados da 1MDB entre 2009 e 2015 por funcionários e associados do fundo, incluindo Low, que atualmente está foragido. O juiz Sequerah também rejeitou as alegações de que doadores do Oriente Médio eram responsáveis pelo dinheiro que fluía para as contas de Najib, chamando isso de “uma história que superava até mesmo as das Mil e Uma Noites”. A acusação apresentou registros bancários, depoimentos de mais de 50 testemunhas e provas documentais. — [Najib] se apresenta como vítima de subordinados desonestos, quando, na verdade, ele era o único tomador de decisões mais poderoso — disse o promotor público adjunto Ahmad Akram Gharib ao tribunal durante as alegações finais, antes de concluir: — O acusado exercia controle financeiro, executivo e político absoluto. Imagem maculada Os advogados de Najib afirmaram anteriormente que o político não tinha conhecimento de que a administração da 1MDB estava trabalhando em conjunto com Low para desviar grandes remessas de dinheiro do fundo, aparentemente criado para promover o crescimento econômico na Malásia. O advogado de Najib, Muhammad Shafee Abdullah, disse aos jornalistas na semana passada que seu cliente “nunca teve um julgamento justo”. Ele voltou a culpar Low pelo escândalo, que desencadeou investigações em vários países, de Cingapura aos EUA, e manchou a imagem da Malásia no exterior. Najib pediu desculpas por permitir que o escândalo da 1MDB acontecesse durante seu mandato, mas negou consistentemente qualquer irregularidade, afirmando que não sabia nada sobre transferências ilegais do fundo. Sua batalha judicial sofreu mais um revés na segunda-feira, depois que ele perdeu uma tentativa de cumprir o restante de sua pena atual em casa, em vez da prisão de Kajang, nos arredores de Kuala Lumpur, capital da Malásia. Cada acusação de abuso de poder é punível com até 20 anos de prisão e multa de até cinco vezes o valor do suborno.