Netanyahu busca controlar investigação sobre 7 de outubro

O Knesset (Parlamento) aprovou em primeira votação, na quarta-feira 2, a criação de uma comissão de inquérito em Israel comandada pelos parlamentares para investigar o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023. + Leia mais notícias de Mundo em Oeste Com isso, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu , avançou em seu objetivo de controlar o alcance da investigação, diluir responsabilidades e evitar um relatório institucional que possa atribuir falhas diretas ao seu governo pelo maior colapso de segurança da história de Israel. Ver essa foto no Instagram Um post compartilhado por The Jerusalem Post (@thejerusalem_post) A iniciativa provocou uma crise política com a oposição, familiares das vítimas e setores do Judiciário, que exigem uma comissão estatal independente, liderada pela Suprema Corte. Dois anos depois do ataque do grupo terrorista, que deixou cerca de 1,2 mil mortos no sul do país e desencadeou a guerra em Gaza, a discussão deixou de ser apenas sobre o passado e passou a moldar o futuro político de Israel . Com o cessar-fogo em vigor e a maioria dos reféns devolvida, a investigação das falhas de inteligência, segurança e comando tornou-se o novo epicentro do embate nacional. Durante meses, Netanyahu resistiu à criação de qualquer comissão, alegando que não se poderia apurar falhas enquanto o país estava em guerra. Encerrados os combates, o premiê mudou de posição apenas na forma. Em vez de apoiar a criação de uma comissão estatal, como prevê a tradição israelense em casos de grandes falhas nacionais, ele articulou uma investigação conduzida por membros indicados pelo Parlamento, com mandato definido pelo próprio governo. Críticos veem isso como uma manobra política para substituir uma apuração independente por um processo mais lento, negociado e controlável. A aprovação inicial no Knesset ocorreu em meio a cenas de tensão: deputados oposicionistas rasgaram cópias do projeto no plenário e familiares de mortos e sequestrados protestaram das galerias. Fora do Parlamento, manifestações reuniram sobreviventes do ataque e parentes das vítimas, todos exigindo uma comissão estatal independente, nos moldes das que investigaram a Guerra do Yom Kippur, em 1973, e o massacre de Sabra e Shatila, em 1982. Levantamentos de opinião mostram que a maioria da população apoia a criação de uma comissão estatal, conduzida por um juiz da Suprema Corte, com poderes quase judiciais, incluindo convocação compulsória de testemunhas e acesso irrestrito a documentos oficiais. Esse tipo de comissão historicamente produziu relatórios capazes de alterar rumos políticos e fixar responsabilidades. É exatamente esse potencial que Netanyahu deseja evitar. Investigação do 7 de outubro ampliada O premiê e seus aliados obtêm assim três vantagens: controlar a composição do colegiado, determinar o escopo temporal da apuração e gerenciar o ritmo dos trabalhos. O novo modelo permite que o foco se estenda por décadas, incluindo governos anteriores, decisões históricas e protestos internos, diluindo a responsabilidade do gabinete que estava no poder em 7 de outubro. Leia mais: "Irã aumenta pressão contra cristãos, judeus e outras minorias" As famílias das vítimas reagiram imediatamente. Eyal Eshel, pai de uma soldada assassinada na base de Nahal Oz, resumiu a desconfiança em uma frase curta: “O mesmo gabinete que estava lá em 7 de outubro determinará o que será ou não discutido.” Após a votação, ele acrescentou: “Este é um dia de desastre para todos nós. A justiça precisa ser feita e será feita.” Jon Polin, cujo filho foi sequestrado no festival de música Nova e morto meses depois em um túnel do Hamas, explicou que o apoio a uma comissão estatal não tem caráter punitivo. “Eu apoio uma comissão estatal, não para ver alguém punido e não porque isso trará meu único filho de volta. Eu apoio uma comissão estatal para que nada como o que aconteceu com meu filho jamais aconteça com o seu filho, sua filha ou seus pais.” A questão política também uniu partidos de direita e esquerda na oposição, historicamente fragmentados. Com eleições previstas até outubro, a acusação de que Netanyahu tenta escapar de responsabilidades virou tema central de campanha. O ex-primeiro-ministro Naftali Bennett, que pretende concorrer novamente, declarou: “No momento em que nosso governo for estabelecido, criaremos uma comissão estatal imparcial para investigar o fracasso de 7 de outubro.” Bennett, que esteve recentemente no Brasil, em campanha, já lançou um partido: Bennett 26. No campo governista, a narrativa diluiu a culpa do premiê. O ministro da Cultura, Miki Zohar, minimizou a possibilidade de que a comissão o responsabilize: “Qualquer um que pense que uma comissão concluiria que o principal, o único culpado é Netanyahu está vivendo em um mundo de fantasia.” Para ele, o ataque foi resultado de um processo coletivo. “Este é um evento metodológico complexo que remonta a décadas. Todos os cidadãos israelenses foram complacentes; todos nós estávamos em euforia.” Zohar, que apoiou o cessar-fogo com o Hamas, defende que a investigação examine decisões de governos anteriores e figuras da oposição, além de órgãos de segurança como o Shin Bet. Netanyahu também determinou que o escopo inclua os Acordos de Oslo, a retirada de Gaza em 2005 e os protestos contra a reforma judicial iniciados em 2023. O embate institucional deve se estender à Justiça. A Suprema Corte já emitiu ordem condicional exigindo que o governo explique por que não criou uma comissão estatal, como previsto em lei. Caso o Parlamento conclua a aprovação do modelo de Netanyahu, a iniciativa provavelmente enfrentará contestações judiciais. O post Netanyahu busca controlar investigação sobre 7 de outubro apareceu primeiro em Revista Oeste .