À luz dos últimos acontecimentos, há algo que causa espécie a qualquer observador que tiver um mínimo de noção do que significa comandar uma Nação: quais são as credenciais de Flávio Bolsonaro para ser candidato à Presidência da República? O que pode dar segurança ao eleitor de que ele tenha alguma ideia do que sejam interesses de Estado, necessidade de conciliar interesses, visão geral do país e outros atributos necessários para ocupar um cargo dessa envergadura? Lula, Haddad, Tarcísio de Freitas, Caiado, Ratinho, Zema, Eduardo Leite, etc. são todas pessoas com quem pode-se concordar ou não, mas são todos homens públicos com serviços provados, testados e que já administraram conflitos de todo tipo. Já o Senador se candidata em nome do quê? Ele já foi um gestor público? O candidato se postula como um “bolsonarista moderado”, o que é um oxímoro. É como dizer “guerreiro da paz”: um non sense. “Bolsonarismo” é um jeito de fazer política que o país inteiro conhece e é incompatível com a moderação, até pela sua própria pregação; basta acionar a memória. O que me deixa mais intrigado, porém, é que ele se apresenta como alguém que vai “seguir as políticas liberais e fiscais do governo Bolsonaro”. Lendo a matéria, fiquei com a impressão de que o senador parece ser desses políticos ocos que repetem slogans como papagaios, sem ter a menor ideia do que estão falando, apenas porque “fica bem”. Aqui neste espaço, diversas vezes, fiz críticas contundentes à política fiscal do presidente Lula e do ministro Haddad. Todo mundo conhece o que o atual governo pensa e quem acompanha este espaço sabe das minhas críticas. Porém, se o senador se postular à Presidência, o eleitor precisa que ele deixe de “lero-lero”, para conhecer melhor o candidato e evitar ser seduzido por palavras de ordem que não passem de mero charlatanismo. Vamos às perguntas, então. Seria importante saber as respostas a algumas questões: No debate do segundo turno, o então presidente Bolsonaro prometeu aumentar o salário mínimo em janeiro de 2023 para R$ 1.400, o que, como o valor na ocasião era de R$ 1.212, descontando a inflação implicava um aumento real imediato de 10%, uma completa irresponsabilidade, maior que todo o aumento real concedido no governo do presidente Lula até agora. O senador herdeiro pretende dar um aumento real do salário mínimo de 10% em 2027, extensivo a dois de cada três aposentados e pensionistas? O governo Bolsonaro criou uma aberração jurídica, que foi o “precatório ao quadrado”, quando em 2021 determinou que os precatórios deixariam de ser pagos como até então, algo que foi uma monstruosidade jurídica, que depois custou dezenas de bilhões de despesas extras que o ministro Haddad teve que quitar em 2023. O senador petit, se eleito, deixará de pagar os precatórios, como seu pai? Jair e Eduardo Bolsonaro sempre se posicionaram, até 2018, contra uma Reforma da Previdência, aprovada em 2019 sem Bolsonaro ter mexido uma palha, graças a Rodrigo Maia. O que o senador candidato em nome do pai pensa sobre Reforma da Previdência? Ele continua sendo contra, como a família? Não há exemplo mais emblemático das consequências do estatismo exacerbado do que a situação dos Correios, que volta e meia demandam do contribuinte resgates bilionários, como está acontecendo de novo. Bolsonaro esteve quatro anos no poder e não privatizou os Correios. Num eventual governo do Bolsonaro minion, os Correios serão privatizados? Se sim, por que não o foram até 2022? O ex-juiz da Suprema Corte dos EUA Louis Brandeis dizia que “a luz do sol é o melhor desinfetante”. O presidente Lula, todo mundo já conhece, com suas virtudes e defeitos. Está na hora agora de saber o que pensa e quem é o filho do ex-presidente. Candidatura à Presidência da República é coisa séria. A mídia tem um trabalho a fazer. As perguntas acima podem ajudar. A imprensa terá outras, claro. Eventualmente, mais complicadas.