J. K. Rowling revela perseguição por opiniões contraditórias: 'Ameaças de morte, estupro e violência'

“Começa a reescrita da história”. Foi com esta frase que a escritora britânica J. K. Rowling afirmou, em post no seu perfil do X, que os efeitos da “ideologia de gênero” estão sendo revistos. Ela relembrou o que considera “críticas implacáveis” enfrentadas por aqueles que, como ela, se opuseram a determinados tipos de ativismo. Desde antes da pandemia, a criadora de Harry Potter passou a ser acusada de transfobia por sustentar que mulheres trans não são mulheres e que as reivindicações do ativismo trans corroeriam conquistas do feminismo e dos movimentos de gays e lésbicas. Também foi rotulada como TERF (feminista radical transexcludente). “Merry Terfmas everyone”, ironizou dias antes do Natal, ao republicar seu apoio a Maya Forstater, trabalhadora britânica demitida em 2019 por afirmar que homens não poderiam se tornar mulheres. Initial plugin text “Vista-se como quiser. Chame-se como quiser. Durma com qualquer adulto que consinta. Viva sua melhor vida em paz e segurança. Mas forçar mulheres a perderem seus empregos por afirmarem que o sexo é real?”, escreveu Rowling, que a partir daí entrou em polêmica com atores da saga cinematográfica de Harry Potter, ativistas, jornalistas e políticos. Em 2023, após recorrer de uma decisão desfavorável, Forstater foi indenizada em mais de cem mil libras por lucros cessantes, dano moral e danos agravados, por ter sofrido discriminação direta por suas opiniões sobre gênero. Neste ano, a Suprema Corte britânica determinou que mulher é quem nasce biologicamente mulher. Muitos cidadãos reconheceram a “coragem incrível” da escritora ao discordar de ativistas trans sobre a participação de mulheres trans em esportes femininos e o uso de banheiros, vestiários e celas. “Você não é mulher só porque está bem depilada”, chegou a escrever Rowling nas redes sociais. “Não me disseram apenas que traí o verdadeiro feminismo nem vi alguns vídeos de queima de livros”, recapitulou Rowling. “Recebi milhares de ameaças de morte, estupro e violência. Uma mulher trans publicou o endereço da minha família com um guia para fabricar bombas. Minha filha mais velha foi atacada por um ativista trans de destaque que tentou revelar sua identidade e acabou expondo a jovem errada. Eu poderia escrever um ensaio de vinte mil palavras sobre as consequências para mim e minha família, e o que sofremos não é nada comparado ao dano causado a outros”, escreveu Rowling. Ela continuou. “Ao nos opormos a um movimento baseado em ameaças de violência, ostracismo e culpa por associação, todos fomos difamados e desacreditados, mas muitos perderam seus meios de subsistência. Alguns foram agredidos fisicamente por ativistas trans. Políticas foram obrigadas a contratar segurança pessoal por recomendação da polícia. A notícia de que uma das principais endocrinologistas do Reino Unido, a doutora Hilary Cass, foi aconselhada a não usar transporte público por sua própria segurança deveria envergonhar todos que permitiram que essa loucura saísse do controle”, observou. Publicado em 2024, o Relatório Cass alerta para o uso de bloqueadores da puberdade. 'Cenário político mudou' “Não esqueçamos: os apóstatas de gênero foram perseguidos por ‘crimes’ como questionar a base de evidências para a transição de crianças, defender a equidade no esporte para mulheres e meninas, querer preservar espaços e serviços de um único sexo — especialmente para os mais vulneráveis — e considerar uma barbaridade colocar presidiárias junto a criminosos sexuais masculinos condenados”, acrescenta Rowling, que mantém em sua conta no X um arquivo de casos que, segundo ela, comprovam suas teses. E afirma: “Agora o cenário político mudou, e alguns que se beneficiaram de sua própria postura estão acordando com uma ressaca terrível. Começaram a se perguntar se chamar de ‘nazistas’ feministas de esquerda que queriam centros de acolhimento para vítimas de estupro exclusivos para mulheres foi uma estratégia tão inteligente. Talvez pais que argumentam que meninos não deveriam privar suas filhas de oportunidades esportivas tenham alguma razão? Será que permitir a entrada de qualquer homem que diga ‘Sou mulher’ em vestiários com meninas de doze anos pode ter inconvenientes, afinal?” As reflexões de Rowling partiram de um artigo publicado no The New York Times que questionava se o ativismo trans não teria passado dos limites. “Não tenho dúvidas de que aqueles que fecharam os olhos para as purgas de não crentes — ou até as aplaudiram e incentivaram — prefiram minimizar o custo real de se manifestar, mas opiniões do tipo ‘sim, talvez os ativistas trans tenham passado um pouco da linha às vezes’ são francamente insultantes”, respondeu a escritora. “Uma análise aprofundada dos efeitos da ideologia de gênero sobre as pessoas, a sociedade e a política ainda está distante, mas sei disso: os resultados serão uma leitura muito desagradável quando esse momento chegar — e são numerosos demais para serem ocultados educadamente.”