Imagens mostram condições de trabalho em obra da BYD na Bahia O Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) fechou um acordo de R$ 40 milhões com a montadora chinesa Build Your Dreams (BYD) e duas empreiteiras, após mover uma ação civil pública contra as empresas por trabalho escravo e tráfico de pessoas. A informação foi divulgada pelo órgão nesta sexta-feira (26). O processo está relacionado aos 224 trabalhadores chineses resgatados em dezembro de 2024, na obra da fábrica da montadora na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). O processo contra as empresas foi aberto em maio deste ano. Inicialmente, a ação civil pública pedia o pagamento de R$ 257 milhões. Clique aqui e entre no grupo do WhatsApp do g1 Bahia Segundo o MPT-BA, o acordo fechado prevê que R$ 20 milhões correspondem ao dano moral individual, destinados diretamente aos trabalhadores resgatados — o que equivale a mais de R$ 89 mil para cada um deles. Já a outra metade é de dano moral coletivo, que será depositada em conta judicial para destinação posterior a instituições e/ou fundos a serem indicados pelo órgão. Imagens mostram condições de trabalho em obra da BYD na Bahia Arquivo Pessoal Pelo acordo, a Jinjiang e a Tecmonta também assumem obrigações do que fazer e não fazer relacionadas à proteção do trabalho, aplicáveis a todos os estabelecimentos e locais em que exerçam atividade empresarial. Em caso de descumprimento, as empresas estarão sujeitas ao pagamento de multa de R$ 20 mil por trabalhador prejudicado e a cada constatação. Após ser firmado, o acordo foi submetido à Justiça do Trabalho para homologação. O g1 entrou em contato com a BYD e aguardava retorno até a última atualização desta reportagem. A equipe não localizou representantes das empreiteiras. Passaportes retidos e policial armado como vigia: relatório do MPT aponta como funcionários da BYD viviam na Bahia Relembre o caso Os funcionários chineses foram encontrados amontoados em alojamentos sem condições de conforto e higiene e eram vigiados por seguranças armados, que impediam a saída do local. Além disso, os passaportes dos trabalhadores foram retidos e os contratos de trabalho tinham cláusulas ilegais, com jornadas exaustivas e sem descanso semanal. Um dos funcionários ouvidos pelo MPT relacionou o acidente com uma serra ao cansaço causado pela falta de folgas. Segundo o MPT-BA, todos os funcionários entraram no país de forma irregular, com visto de trabalho para serviços especializados que não correspondiam às atividades desenvolvidas na obra. Na ocasião, a BYD informou que a construtora terceirizada Jinjang Construction Brazil Ltda havia cometido irregularidades e decidiu encerrar o contrato com a empreiteira. Disse ainda que não "tolera desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana" e determinou que parte dos trabalhadores fossem transferidos para hotéis da região. Com o processo, o MPT-BA pede a condenação da BYD, da empreiteira China JinJiang Construction Brazil Ltda. e da Tonghe Equipamentos Inteligentes do Brasil Co. (atual Tecmonta Equipamentos Inteligentes Brasil Co. Ltda.), que prestavam serviços exclusivos para a BYD. O órgão pede que as três empresas paguem: R$ 257 milhões a título de danos morais coletivos; pagamento de dano moral individual equivalente a 21 vezes o salário contratual (6 mil yuans, o que equivale a R$ 4,7 mil), acrescido de um salário por dia a que o trabalhador foi submetido a condição análoga à de escravo; quitação das verbas rescisórias devidas; cumprimento as normas brasileiras de proteção ao trabalho. O que diz a BYD Em nota, a BYD disse que mantém um compromisso inegociável com os direitos humanos e informou que vai se manifestar nos autos da ação movida pelo MPT-BA. Leia a íntegra da nota abaixo: A BYD reafirma seu compromisso inegociável com os direitos humanos e trabalhistas, pautando suas atividades pelo respeito à legislação brasileira e às normas internacionais de proteção ao trabalho. A empresa vem colaborando com o Ministério Público do Trabalho desde o primeiro momento e vai se manifestar nos autos sobre a ação movida pelo MPT. Relembre caso Trabalhadores chineses são resgatados de situação análoga à escravidão na Bahia Arquivo Pessoal O MPT-BA recebeu uma denúncia anônima e começou a apurar as condições de trabalho na obra da fábrica da BYD em Camaçari. No dia 23 de dezembro, uma força-tarefa composta pelo também Ministério Público Federal, Defensora Pública da União, Ministério do Trabalho e Emprego, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, resgatou 163 trabalhadores chineses da Jinjiang. Posteriormente, outros 57 operários da Tonghe também foram encontrados em situação análoga à escravidão e vítimas de tráfico de pessoas. Conforme as investigações, cinco alojamentos eram mantidos pela BYD, pela Jinjiang e pela Tecmonta (antiga Tonghe). Alguns funcionários dormiam em camas sem colchões e 31 pessoas usavam o mesmo banheiro. Além disso, as condições contratuais do vínculo empregatício caracterizavam trabalho forçado. Os trabalhadores eram obrigados a pagar caução, tinham até 70% de seus salários retidos, enfrentavam excessivo ônus de rescisão contratual, além de ter seus passaportes retidos pela JinJiang. A rescisão antecipada do contrato implicava a perda da caução e dos valores retidos, além da obrigação de custear a passagem de volta e restituir o valor da passagem de ida. Na prática, o trabalhador que rescindisse o contrato de trabalho antes de seis meses, deixaria o país sem receber nada pelo seu trabalho, configurando o confisco dos valores recebidos pelos trabalhadores ao longo da relação de trabalho. Imagens mostram condições de trabalho em obra da BYD na Bahia Arquivo Pessoal LEIA TAMBÉM: COMIDA EM COOLER, OPERÁRIOS DESCALÇOS, PIAS ENTUPIDAS: imagens mostram condições de trabalho em obra da BYD na Bahia Operário chinês tem dedo amputado e outro sofre fratura na perna após acidente em obra da BYD na Bahia Veja mais notícias do estado em g1 Bahia. Assista aos vídeos do g1 e TV Bahia