Darks Miranda e Mariana Kaufman criam grutas e ilhas simbólicas em exposição no Sesc Copacabana

Em séculos de narrativas, grutas e ilhas projetaram a nossa fantasia pelo desconhecido. Ao perceberem que esses espaços simbólicos eram recorrentes em suas obras, Darks Miranda e Mariana Kaufman fizeram deles o motor da exposição “A gruta, a ilha”, em cartaz até 22 de fevereiro na galeria do Sesc Copacabana. Com nove trabalhos — quatro de cada artista e uma instalação inédita criada em conjunto —, a mostra combina filmes, videoinstalações e objetos que atravessam universos ficcionais, fantásticos e sensoriais, formando um mesmo organismo onde sonho e memória se confundem. A curadoria é da artista e professora Anna Costa e Silva. — Eu e Darks nos conhecemos na faculdade de cinema da UFF e ao longo dos anos percebemos que nossas pesquisas tinham pontos em comum — conta Kaufman. — Temos um interesse por um certo universo fantástico, pensamentos sobre utopia e distopia, ficção científica, além de elementos como a figura da gruta e da ilha. São dois lugares que têm uma história muito forte na construção de nossos imaginários, podem ser associados a futuros muito distantes ou passados muito remotos, a lugares que são também não-lugares. "Uma noite perigosa na ilha de Vulcano", de Darks Miranda Divulgação Os vídeos de Darks Miranda são inteiramente de imagens de arquivo e found footage. “Uma noite perigosa na ilha de Vulcano” (2022) é feito com paisagens de filmes antigos de ficção científica, cria cenários-esculturas que remetem a geografias de outros planetas. Codirigido com Juno B., “A figura da quimera seria mais adequada” mergulha em cavernas para documentar morcegos usados em experimentos bélicos. — Nesse limiar em que tenho transitado, entre o cinema e as artes plásticas, tem um aspecto da fruição da sala escura do cinema que nunca quis abandonar — diz Darks. — Pode ter a ver com um certo estado sensório-motor em que nos encontramos quando estamos numa sala de cinema. São elementos físicos que auxiliam na abertura de portais para a imaginação e para a propulsão de fantasias. Kaufman cria suas próprias imagens, como nos filmes “A Ilha do Farol”, de 2017 (parceria com Jô Serfaty), e “Mehr Licht!”. O primeiro acompanha uma família navega em busca de uma ilha que nunca mais foi vista; no segundo, a personagem viaja no tempo e no espaço através da luz. — Decidimos colocar os trabalhos para conversar — explica Darks. — Cada uma delas alterna um de nossos filmes em loop. Nosso trabalho se encontra nessa extrapolação do cinema para além do set de filmagem e da sala de cinema. Dialoga com o vídeo, com a videoarte, com as artes dramáticas, performáticas e instalações. Instalação e memória As artistas criaram uma instalação “processual” intitulada “Pedra do Rachado”. Com um caráter de incompletude, reúne fragmentos de objetos e restos de materiais do ateliê de escultura de Darks, além de pedaços de objetos que ajudam a reverberar o espaço. Três monitores exibem vídeos com imagens coletadas pelas artistas, como documentos da Nasa, formas abstratas de animais e explosões de filmes de ficção científica dos anos 1950, 1960 e 1970. — A memória é sempre uma imagem reatualizada no presente — diz Kaufman. — A ideia também faz referência à ilha de edição, um ambiente escuro, e um ponto de partida fundamental para nós duas. A instalação é uma grande edição. Os elementos se combinam e recombinam, e a memória coletiva se mistura à individual. O caráter imersivo da exposição não pode ser confundido com escapismo. Para Darks, emergem questões do mundo contemporâneo. — Nossos trabalhos falam de assuntos como a saturação de telas e castelos construídos em ilhas com mão de obra escravizada e a partir da expropriação de povos originários — lembra. — Mas as poéticas do sonho, do delírio e da fantasia me interessam. Me tocam a partir do sensorial. É menos pelo tema do sonho e mais por sua forma e sensação. Talvez por isso a necessidade de um ambiente imersivo.