A onda de calor que já vinha causando temperaturas elevadíssimas em vários estados do país agravou-se ainda mais ontem. Ainda pela manhã, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) elevou o nível do alerta iniciado na última terça-feira para "grande perigo" em parte da região atingida. Além disso, a duração anunciada do fenômeno, antes previsto para terminar ontem, foi estendida até a próxima segunda-feira. Água para beber: Após breve período de recuperação, nível de mananciais volta a cair em São Paulo Capital: São Paulo bate recorde de temperatura do ano pelo segundo dia seguido Ao todo, são oito estados afetados, sobretudo São Paulo e Rio de Janeiro, embora Minas Gerais e Espírito Santo também enfrentem uma situação mais crítica. Além da região Sudeste, partes do Sul do país, em Santa Catarina e no Paraná, e do Centro-Oeste, no Mato Grosso do Sul e no interior de Goiás, também estão no raio de influência. O Inmet lançou dois alertas separados. O primeiro, classificado como de "grande perigo", atinge Rio, São Paulo e partes de Minas Gerais, Paraná, Goiás, Santa Catarina e Espírito Santo. O segundo, de "perigo potencial", estende-se do litoral capixaba até a porção central de Goiás, incluindo Goiânia. Belo Horizonte também está dentro da área desse alerta. O resultado foi sentido nos termômetros. Na véspera e no dia de Natal, São Paulo, Rio e até o Paraná tiveram cidades entre as mais quentes do país. Registro (SP), no Vale do Ribeira, foi a recordista em ambas as datas, com Morretes (PR) e Niterói (RJ) também em destaque. Entre as cinco temperaturas mais altas nos dois dias, o único município fora dos efeitos da onda de calor foi Ipanguaçu (RN), no semiárido nordestino. As grandes metrópoles também sofreram. A capital paulista bateu ontem o recorde de temperatura para dezembro (e do ano) pelo segundo dia seguido, com termômetros marcando 36,2°C às 15h na estação meteorológica do Mirante de Santana, na Zona Norte da cidade. Na véspera, a mesma unidade de medição do Inmet já havia alcançado 35,9°C no auge do Natal. O calor experimentado pela população, porém, foi maior do que o medido oficialmente em alguns locais. Termômetros de rua chegaram a atingir 40°C, e as cenas de verão com a população paulistana bem disposta e frequentando parques já começa a mudar para um tom mais negativo. Na rua, pessoas recorreram a guarda-chuvas para se proteger do sol, e espaços públicos com ar-condicionado, como os shoppings, ficaram lotados. No Rio, a prefeitura divulgou que houve 973 atendimentos médicos devido ao calor em apenas dois dias, segundo dados da Secretaria municipal de Saúde. De acordo com a pasta, os principais sintomas registrados nas unidades de saúde foram tontura, fraqueza, desmaios e queimaduras solares. O calorão também ocasionou pontos de falta de luz e de água no estado. Cinco dias de maçarico O critério que o Inmet usa para caracterizar esse tipo de fenômeno é que uma determinada região fique por mais de cinco dias consecutivos com a temperatura máxima 5°C acima da média. É o que está acontecendo neste momento e deve perdurar até 29 de dezembro nas áreas sob alerta. No réveillon, os termômetros devem marcar um pouco menos, tecnicamente quebrando a "onda", mas ainda sob forte calor. A onda de calor é causada por um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Trata-se da formação de ventos intensos em alturas elevadas que giram em sentido horário. Ele ajuda a manter uma massa de ar seco sobre parte do país ao favorecer o bloqueio atmosférico, impedindo o avanço de uma frente fria, por exemplo. Nas áreas na periferia do vórtice, o efeito é o contrário, com maiores chances de chuvas. — Geralmente, essas ondas de calor ocorrem com mais frequência em janeiro e também durante o inverno, nos meses de setembro, agosto e setembro — diz a meteorologista Andrea Ramos. — Nós estamos com um vórtice ciclônico favorecendo o bloqueio atmosférico. Ciclones estão relacionados à baixa pressão, só que o VCAN está em altos níveis. Então, embaixo ele provoca essa massa (de ar quente), porque o centro dele é seco, uma característica de alta pressão. Na periferia, ele tem instabilidade. Além disso, uma situação paradoxal associada ao fenômeno é que ele coloca o Sudeste ao mesmo tempo em alerta de alta temperatura e de tempestades. Isso acontece porque se uma frente de ar romper o bloqueio atmosférico ela pode trazer grande volume de umidade em um intervalo curto de tempo. Verão seco e quente Iniciado na semana passada, o verão deverá ser de mais calor e menos chuvas noSudeste, que já sofre com a presente onda de calor. Cenário semelhante provavelmente se repetirá no Nordeste, diz o Inmet. No caso de Rio, São Paulo, Minas e Espírito Santo, a previsão aponta para predomínio de até 100mm abaixo da média histórica de precipitações no trimestre. Segundo o instituto, os déficits mais expressivos devem ocorrer em território mineiro, mais precisamente na Zona da Mata, no Vale do Rio Doce e em Belo Horizonte. No Sudeste como um todo, as temperaturas podem ficar até 1°C acima da média. Já no Nordeste, toda a região também deve sofrer com chuvas abaixo da média, com destaque para Bahia, centro-sul do Piauí e a maior parte dos estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Nessas áreas, o déficit pode chegar aos mesmos 100mm. Há exceções no centro-norte do Maranhão, norte do Piauí e noroeste do Ceará, onde os índices de precipitação devem ficar próximos ou até acima da média. No Norte do país, o sudeste do Pará e todo o Tocantins devem enfrentar volumes de chuvas abaixo do esperado. No restante da região, a expectativa é que a temperatura fique 0,5 °C ou mais acima da média histórica no Amazonas, no centro-sul do Pará, no Acre e em Rondônia. No Sul, por outro lado, os dados indicam que as chuvas devem ficar acima da média histórica em todos os estados. Os maiores volumes são previstos para o sudeste e o sudoeste gaúchos, com acumulados até 50mm acima do usual no trimestre.