Escrevi este texto antes do início da temporada de fashion weeks mais influentes do mundo. Em desfile a partir daquele mês, as coleções do verão 2026 mostram os primeiros resultados e as atuais orientações da indústria depois de mudanças radicais feitas nas equipes das marcas de luxo. Enquanto designers, CEOs e marketing das grifes se reorganizam com a difícil missão de manter sucesso e negócios em um momento de tensão econômica, penso no movimento que tenho observado nas principais capitais europeias em que estive recentemente e também nas minhas andanças por São Paulo. looks usados nas ruas de Copenhague durante a semana de moda da cidade Acielle / Style Du Monde Há uma evidência admirável do street style, a moda de rua. São composições e looks que não deixam ninguém parecido com ninguém. Essa percepção foi confirmada de maneira enérgica durante a muito comentada semana de moda de Copenhague, capital da Dinamarca. Com marcas e designers ainda relativamente restritos ao circuito local, a cidade nórdica fez fama com sua animadíssima moda street – o scandi style, cujas imagens ilustram estas páginas e mostram formas bastante assertivas na ambição de individualizar roupas e estilo. Looks usados nas ruas de Copenhague durante a semana de moda da cidade Acielle / Style Du Monde Revistas Newsletter O street style começou a ser muito notado e citado a partir dos anos de 1980. No início dos anos 2000, ele já tinha evoluído e ganhado outras proporções. Baseado inicialmente – 40 anos atrás – nas influências e culturas do skate e do hip-hop, hoje o street style é muito mais diverso, complexo e repleto de acentos internacionais, de Nova York a Londres ou Milão. Essa versão mais contemporânea que circula pelas grandes cidades é relevante porque funciona como uma grande “plataforma” de expressão pessoal, uma assinatura em que criatividade e inventividade vêm das escolhas do vestuário. É também um jeito de comunicação de identidade que funciona até como ferramenta de “manipulação” da percepção que o outro tem de você. looks usados nas ruas de Copenhague durante a semana de moda da cidade Acielle / Style Du Monde Outra pegada street style do momento tem a ver com a roupa como “repertório social”, de ativismo, materializando uma representação visual de grupos específicos e estimulando o senso de pertencimento e comunidade. Não por acaso, muitos designers de marcas de luxo se inspiram na moda street para suas coleções, incorporando elementos “das ruas” e apostando na fusão entre a estética casual, cada vez mais importante, e o que é “luxuoso”. É uma conexão que dá mais liberdade e imprevisibilidade ao espaço da experimentação. Estimula novos conceitos e detalhes de design, a exemplo do que aconteceu coma integração – hoje, banal e onipresente – dos logotipos e bonés na moda. Num movimento circular que se retroalimenta, isto fez com que as lojas vintage, second hands de todos os tipos, também crescessem mundo afora. Elas oferecem peças únicas para os looks exclusivos do street style, além de sintonizarem à perfeição com as demandas, entre outros, dos consumidores da geração Z, que buscam o que é mais sustentável, com itens únicos a preços acessíveis, tendência estimulada pelas redes digitais. Esse mercado relativamente novo chega a superar o crescimento geral do varejo. Look usado nas ruas de Copenhague durante a semana de moda da cidade Acielle / Style Du Monde Com cidadãos urbanos movidos pela consciência ambiental, pelo desejo de se afastar do galopante fast-fashion ou pela nostalgia de outros tempos, mais o aumento de custo de vida, roupas de segunda mão são uma opção desejável e sob medida para circular pelos grandes centros com uma imagem singular. Assim, a ascensão deste “novo” tipo de moda deixa de ser um interesse de nicho e se torna uma parte significativa da cultura varejista tradicional. Quando lojistas de luxo, por exemplo, incorporam araras vintage às suas lojas ou quando grandes marcas lançam linhas eco-friendly inspiradas na estética de outras épocas, street style e vintage revelam, de uma vez só, uma força visual bem menos reticente do que a realidade fragmentada e confusa da era digital.