Por que o Banco Central entrou no alvo do TCU por causa do Master e quem é o ministro à frente do caso

Além do Supremo Tribunal Federal (STF), o Banco Central é alvo do Tribunal de Contas da União (TCU) no processo de liquidação do Master. Enquanto o ministro do STF Dias Toffoli marcou para a semana que vem uma acareação, o ministro do TCU Jhonatan de Jesus determinou que a autoridade monetária explique os motivos para liquidar a instituição financeira. Esse prazo vence na próxima segunda-feira, em outra frente de pressão sobre o BC a respeito de sua atuação na fiscalização da instituição financeira em sua longa crise até a liquidação extrajudicial decretada em 18 de novembro em meio à Operação Compliance Zero, da Polícia Federal (PF), que prendeu o dono do Master, Daniel Vorcaro. Master: convocação de acareação por Toffoli de ofício e no início do inquérito é inusual, dizem juristas Energia: Aneel anuncia bandeira vermelha 1 em novembro e adicional na conta de luz permanece o mesmo A PF investiga indícios de fraude em transações financeiras que somam R$ 12,2 bilhões entre Master e BRB, banco estatal de Brasília que só não comprou o Master por que o negócio foi vetado pelo BC. Toda a movimentação em torno do Master passa pelo mundo político de Brasília, no qual Vorcaro desenvolveu uma extensa rede de relacionamentos, que também chega ao Judiciário. Jhonatan de Jesus, então deputado pelo PRB de Roraima, fala em reunião de comissão mista no Congresso, em março de 2023 Marcos Oliveira/Agência Senado A decisão do TCU, que tem como principal missão fiscalizar a aplicação de recursos financeiros federais, de pedir informações ao BC sobre o caso Master causou estranhamento por se tratar de negociações suspeitas entre empresas privadas do setor financeiro. Quem investiga? O caso está nas mãos do ministro Jhonatan de Jesus, que foi deputado eleito por Roraima para quatro mandatos consecutivos. Ele é, aos 42 anos, o mais jovem ministro do TCU. Na carreira, tem como aliados políticos o próprio pai, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR); o presidente nacional do Republicanos, Marcos Pereira (SP); e o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Procurado, o ministro não se manifestou. A decisão de Jhonatan foi tomada em medida cautelar no âmbito do processo que investiga uma possível omissão do BC em relação a operações do banco controlado por Daniel Vorcaro. Capital: Banco Master deixa no limbo três campos de futebol em escritórios em plena Faria Lima Embora o processo tenha sido instaurado para apurar uma possível demora da autoridade monetária em decretar a liquidação do Master, a decisão de Jhonatan de Jesus questiona o motivo da medida. Em seu despacho, o ministro pede que se esclareça “fundamentação e motivação” para a decretação da liquidação extrajudicial, “com indicação sintética dos principais marcos decisórios e do racional determinante para a adoção da medida extrema naquele momento”. Nos bastidores, o BC já esperava decisões nessa linha do Judiciário e de órgãos como o TCU. Por se tratar de um caso delicado, diretores e técnicos da autoridade monetária que estiveram envolvidos na liquidação documentaram todos os processos. Apoio de Lira O ministro do TCU foi indicado ao cargo pelo Republicanos, e seu nome foi aprovado pelo plenário da Casa. As vagas do TCU são distribuídas entre indicações do Senado, da Câmara e da Presidência da República — três para cada. Sem transparência: TCU impõe sigilo a processo que apura atuação do BC no caso Banco Master Para ser aprovado pela Câmara, Jhonatan contou com o apoio do então presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de quem é considerado aliado. A fase mais decisiva da movimentação pelo nome de Jhonatan foi feita em conjunto com a campanha de Lira à reeleição da presidência da Câmara, em 2023. Daniel Vorcaro, dono do Banco Master Ana Paula Paiva/Valor Lira chegou a levar então o deputado a reuniões com líderes para pedir votos e apresentar a candidatura. Procurado, não se manifestou. Nos bastidores, ele tem dito que apoiou a indicação de Jonathan, mas não considera que tenha sido o único fator de sucesso da candidatura e que também manteve boa relação com os demais candidatos. Na Câmara, o nome de Jhonatan recebeu o apoio de um amplo quadro de partidos, desde a federação formada por PT, PCdoB e PV, até PP, PDT, PSB, PSD, União Brasil, Podemos, PSDB e Cidadania. O então deputado federal foi apoiado até pelo MDB, partido de seu principal adversário à vaga do TCU na época, Fábio Ramalho (MDB-MG). Além dos dois, a deputada Soraya Santos (PL-RJ) também disputou o cargo. Jhonatan teve 239 votos na Câmara, contra 174 de Ramalho e 64 de Soraya. Initial plugin text Até então deputado em quarto mandato, Jhonatan assumiu, aos 39 anos, a vaga deixada por Ana Arraes, ao ser nomeado pelo presidente Lula em 2023. Com isso, o ministro poderá permanecer no tribunal até 2058, quando completará 75 anos e deverá se aposentar. Em seu discurso de despedida na Câmara, o então deputado agradeceu Jhonatan a Lira, a Marcos Pereira e citou a hoje vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP) — procurada, ela não se manifestou. Eleito ainda estudante Médico de formação, Jhonatan tinha 27 anos quando concorreu pela primeira vez a uma vaga na Câmara dos Deputados por Roraima. À época, ainda era estudante de medicina. Foi eleito com 16.550 votos, a terceira maior votação do estado. Na eleição de 2022, quando já ambicionava ser ministro do TCU, Jhonatan foi reeleito com a maior votação em Roraima, com 19.881 votos. Jhonatan vem de uma família ligada à política e ao agronegócio. Seu pai, o senador e líder do Republicanos no Senado, Antonio Mecias de Jesus (RR), foi deputado estadual por seis mandatos e vereador de São João da Baliza, a 290 quilômetros de Boa Vista, antes de disputar o Senado em 2018. Antes de entrar na política, Mecias de Jesus foi coordenador do Incra em Roraima. Initial plugin text