Novo ano, velhas escolhas?

Às vésperas de fecharmos 2025 e darmos início a mais um ano eleitoral, não há como fugir de um balanço. Afinal, parte da ideia do ano calendário é garantir que encerramos um ciclo para renovarmos as crenças e energias para, quiçá, fazer melhor no ano seguinte. Resiliente, a economia brasileira deverá encerrar 2025 com o crescimento de 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Com a taxa Selic estacionada em 15% ao ano e uma inflação com estimativas em torno de 4,3% para o ano, ficaremos longe do centro da meta, mas em situação de maior controle. No campo fiscal, o cenário é menos alvissareiro. As contas públicas continuam sob pressão. Projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI), apontam para uma dívida bruta/PIB atingindo 79% ao final do ano. Temos que nos preocupar menos por isso e mais pela trajetória crescente de gastos, pela vinculação de despesas e pela captura do Orçamento público por grupos de interesse. E também com os gastos parafiscais, cada vez mais relevantes e que, mesmo não contabilizados no resultado fiscal, lá estão comprometendo o futuro. Enquanto isso, o mercado de trabalho encerra o ano aquecido, com o desemprego em níveis historicamente baixos, impulsionando a renda e o consumo. Mas a qualidade do emprego — medida pela formalização e produtividade, reflete problemas estruturais que passam por educação, qualificação, infraestrutura deficiente e baixa taxa de investimento em capital físico e tecnologia. Mantemos no horizonte, portanto, desafios que exigirão decisões difíceis — e que continuarão adiadas, ao menos por mais um ano. Em linhas gerais, é esse o contexto econômico que irá inaugurar 2026 e que deverá emoldurar as escolhas que faremos a partir de outubro, quando eleições para presidente, governador e Congresso acontecem. Num Brasil dividido, parece a repetição de uma velha história. Mas desta vez pode não ser. O Brasil de hoje parece estar menos polarizado do que se imagina do alto. Há sempre o que nos divide, mas parece haver também muito mais que nos une. É o que mostra a pesquisa Quaest, encomendada pela Rede Globo, e que entrevistou quase 10.000 pessoas entre novembro e dezembro de 2023, cobrindo 340 municípios de diversas regiões numa estratificação por idade, escolaridade, renda e religião. A pesquisa deu origem ao livro Brasil no Espelho, lançado recentemente pela Globo Livros, em que o cientista político e co-fundador da Quaest, Felipe Nunes, esquadrinha os números e propõe um retrato mais plural da população brasileira. Nunes classifica a população brasileira a partir de nove clusters que cobrem desde os militantes de esquerda até a extrema direita, passando por empresários, progressistas, dependentes do Estado, agro e conservadores cristãos (o maior grupo), além de dois grupos ao centro, que despontam como particularmente interessantes para o calendário eleitoral de 2026: os liberais sociais e os empreendedores individuais. Representantes, cada um, de 5% da população brasileira, os Liberais Sociais — indivíduos que combinam liberdades individuais e econômicas com consciência social — e os Empreendedores Individuais — compostos por trabalhadores autônomos ou em atividades informais — podem vir a definir o lado para o qual o pêndulo deverá se mover nas eleições do próximo ano. Afinal, os 7 grupos que representam os outros 90% da população brasileira, se dividem entre os dois polos já conhecidos, quase que independentemente do postulante pois também se definem em contraposição ao outro polo. Ainda assim, há convergências entre todos nós. Convergimos na fé e na importância da família, na batalha cotidiana, no medo, na desconfiança e, infelizmente, no machismo e numa honestidade relativa. Ao juntarmos o atual contexto econômico, os desafios sociais presentes e cada vez mais prementes e as decisões de política pública necessárias ao perfil auto descrito pelos brasileiros e tão bem apresentado por Nunes em Brasil no Espelho, alguma esperança nos resta. Ao contrário do que ocorreu nas últimas eleições, pode ser que o debate de propostas seja o divisor de águas em 2026. São elas que irão definir as escolhas que ao final do ano faremos como nação. Que assim seja. Que o Novo Ano traga luz, para além do que somos como povo, também sobre o Brasil que queremos construir. Mais próspero, mas também e, acima de tudo, mais justo. Feliz 2026!