Como o relato de Zé Neto e outros famosos ajuda a ampliar o debate sobre dependência química

O cantor sertanejo Zé Neto voltou ao centro das atenções após Cristiano, seu parceiro de dupla, falar publicamente sobre a luta do artista contra o abuso de álcool e o uso do cigarro eletrônico. O relato trouxe à tona um tema sensível, ao revelar que o problema impactou não apenas a carreira, mas também a saúde física e emocional do cantor, reforçando a importância do reconhecimento da dependência e da busca por tratamento especializado. Entenda o que os relacionamentos de Virgínia Fonseca têm em comum Relato de Maíra Cardi sobre sexo pós-parto: saiba cuidados, desconfortos e retomada da intimidade Em 2025, a discussão sobre dependência química ganhou ainda mais visibilidade depois que celebridades como Gusttavo Lima, Solange Almeida e Eduardo Costa também admitiram enfrentar vícios e procurar ajuda profissional. As revelações, feitas em diferentes contextos, expõem uma realidade muitas vezes invisível por trás dos holofotes e ajudam a ampliar o debate público sobre saúde mental. Quando figuras públicas rompem o silêncio, o tema ganha maior alcance e contribui para a redução do estigma associado à dependência química, promovendo uma reflexão social mais ampla sobre prevenção, tratamento e acolhimento. Para aprofundar o assunto, o psiquiatra Rogério Jesus, presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia e diretor da clínica Vale Viver, em Camaçari (BA), explica que o processo de recuperação envolve acompanhamento médico, suporte psicológico, participação da família e continuidade do tratamento mesmo após a alta. A seguir, o especialista responde às principais dúvidas sobre o tema. Como é possível se livrar de uma dependência química? A dependência química é uma doença crônica, progressiva e potencialmente fatal quando não tratada. O tratamento exige uma abordagem multidisciplinar, com suporte médico e psicológico, além da motivação do próprio indivíduo para mudar aquela realidade. Enfrentar o problema sozinho costuma dificultar o processo, por isso o acompanhamento especializado é fundamental. Um dos principais indicadores de sucesso é a capacidade de alcançar e manter a abstinência. Com o tempo, a manutenção da sobriedade tende a se tornar mais viável, já que os sintomas de fissura — o desconforto provocado pela ausência da substância — diminuem gradualmente. Estratégias como acompanhamento psiquiátrico, psicoterapia e participação em grupos de apoio aumentam significativamente as chances de recuperação. Qual é o impacto do entorno emocional e familiar na manutenção da sobriedade? A dependência química não afeta apenas o indivíduo, mas todo o seu núcleo familiar e emocional. Em muitos casos, familiares tentam ajudar, mas acabam adoecendo junto e desenvolvendo a chamada codependência — quando, mesmo com boas intenções, passam a favorecer involuntariamente a continuidade do uso da substância. Por isso, além do tratamento do paciente, é fundamental que a família também receba orientação e apoio psicológico. Quando compreende a doença e aprende a lidar com ela, o entorno familiar se torna um fator de proteção, e não um obstáculo, para a manutenção da sobriedade. Por que algumas pessoas substituem um vício por outro? Esse comportamento está relacionado ao fenômeno conhecido como migração das compulsões. O cérebro busca constantemente recompensas e liberação de dopamina. Quando o uso de uma substância é interrompido sem uma reorganização emocional e comportamental, essa necessidade pode ser direcionada a outras compulsões, como alimentação excessiva, compras, jogos, sexo, trabalho ou até atividade física em excesso. Por isso, o tratamento não pode se limitar apenas à interrupção do uso. O acompanhamento psiquiátrico e psicológico é essencial para reorganizar padrões emocionais e reduzir o risco de substituição de um vício por outro. Como reconhecer quando a disciplina vira 'prisão' na rotina do ex-dependente? O termo 'adicto' tem origem no latim e significa 'aprisionado'. Essa prisão ocorre, de fato, durante o uso ativo da substância, quando escolhas e comportamentos passam a ser determinados pela dependência. No processo de recuperação, mudanças de hábitos — como evitar determinados ambientes, pessoas ou situações — não devem ser encaradas como restrições, mas como formas de proteção. A disciplina, nesse contexto, funciona como uma estrutura que ajuda a prevenir recaídas e possibilita a reconstrução da autonomia. Não se trata de perda de liberdade, mas de um caminho para uma vida mais consciente e equilibrada.