Um Pilatos não pode ser conservador

Passei boa parte da minha vida estudando o conservadorismo , e isso inclui o governo de conservadores, mas antes os conceitos teóricos e práticas públicas daquilo que Russell Kirk denominava de “conduta conservadora”. Segundo o referido escritor e pensador norte-americano, o pensamento conservador se define pela prudência, pautado na máxima de que a verdade não é plenamente captada por ideias políticas e que os homens não são capazes de perfeição, e por uma postura reformista e antirrevolucionária — pois toda revolução pressupõe agendas que diminuem a realidade em um funil de percepção, e tal funil ideológico é totalizante e burro em si mesmo. Todavia, tais valores conservadores, extraídos da obra fundante do conservadorismo moderno, Reflexões Sobre a Revolução na França , de Edmund Burke, se confundem na mente dos conservadores e daqueles que buscam compreendê-los, pois jamais a prudência pode ser confundida com passividade , e nem antirrevolução com inação . Os conservadores devem e são instados a serem corajosos e combativos quando os valores que fundamentam suas vidas e condutas, além de seu país e famílias, se encontram à mercê de subjugadores e larápios do poder. Ao conservador cabe a escolha corajosa, o afrontamento devido, a ação efetiva quando chamado; lavar as mãos nas águas da covardia e da indiferença não é opção — por isso Pilatos jamais seria conservador. + Lula empata com Flávio em eventual 2º turno, informa Paraná Pesquisas Há, no país, atualmente, após a eleição de Lula , uma notória passividade nos conservadores, uma espécie de ressaca angustiante que toma não só o eleitorado, como até mesmo boa parte dos políticos de matriz à direita. O sentimento de que tudo se perdeu, e que o Brasil é definitivamente esta fanfarra de malucos e malandros. Ainda assim, segundo pesquisa do Datafolha, divulgada no último dia 24, 35% dos brasileiros são decididamente conservadores, contra 22% abertamente de esquerda. O brasileiro se posiciona, mas de forma anêmica, apática. Só que tal anemia, covardia consentida, quando olhado com os olhos da história, se revela como principal motivo para a decadência moral e social. Como dizia Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Exatamente: o que de fato me assusta não é a corrupção e a tirania dos maus, mas sim a apatia e a covardia dos bons. De 1935 até 1940, no Reino Unido, havia uma crença no partido conservador e trabalhista de que a única maneira de se enfrentar um mal político se dava pela diplomacia e pelos tratos e negociatas de Parlamento. Por meio disso, a Inglaterra viu a Alemanha nazista ganhar corpo e se estruturar bélica e economicamente em seu quintal, acreditando que o ditador nazista acataria os acordos timbrados, que palavras e promessas, que aplausos públicos e apertos de mão de Neville Chamberlain teriam o poder mágico de converter um maluco sanguinário. A imensa maioria da população conservadora apoiava a medida de apaziguamento a todo custo, e entre posturas pomposas e covardias públicas dos líderes de governo, evitavam palavras duras e condenações tácitas à Alemanha da suástica. Churchill, o herói improvável Quase unicamente, foi Winston Churchill, um conservador do fundão, um ex-militar envergonhado, um gordão desajeitado, quem teve coragem de se opor aberta e desavergonhadamente a Hitler. Como sabemos, a Alemanha ignorou os acordos, riu na cara do primeiro-ministro trabalhista e começou a tomar a Europa de assalto. Aos poucos, o então louco Churchill, o conservador beberrão e estranho, era praticamente o único que surgia com coragem de fazer o que devia ser feito: unir o povo do Reino Unido e inflar coragem no peito da população e dos militares para os dias duros que com certeza viriam. A população aos poucos comprou a luta, e, quando os aviões do Reich soltavam suas bombas sobre Londres, o lamento era por que os conservadores não pararam Chamberlain antes. A inação, misturada à apatia ante o que devia ser feito, quase levou o mundo por definitivo para uma das ruínas mais macabras que a humanidade poderia ter caído. Muitos, como Philip K. Dick em O Homem no Castelo Alto e Robert Harris com Fatherland , imaginaram como seria o mundo se o Eixo tivesse vencido. O que poucos disseram foi que, aquilo que quase tornou isso real, foi a covardia dos que deveriam ter tido a audácia de contrapor absurdos e notarem que os valores fundamentais do Ocidente, como liberdade e dignidade, não poderiam estar nas mesas de negociação. + Leia notícias de Política em Oeste Quero me antecipar, e por isso minha última coluna de 2025 será sobre política, uma espécie de convocação. Não gosto de apocalipsismo, mas não é exagero algum imaginar que 2026 seja para o Brasil uma espécie de portal sem retorno, via que nos levará para a decadência política e econômica completa, ou para uma longa estrada de restauração. Estamos perto do último grau de declínio, e, na política, quando se atravessa essa última estada, vem a decadência, e a decadência já é a pura ditadura. O que nos separa disso é uma tomada de consciência madura, sincera, uma análise conjectural que vá além do partidarismo e do binarismo ideológico. O projeto petista não é democrático, é profundamente ineficaz, e pior, ruma em direção ao fracasso de todo tipo. E, diante disso — assim como foi na Inglaterra —, nem que seja por um breve instante, os sensatos restantes devem tomar a dianteira, vencer seus nojinhos e se unirem em prol de uma restauração. Saírem da letargia paralisante, suplantar diferenças para que, no final, todos possam plenamente voltar a gozar de suas ideias antagônicas num ambiente livre. Seja Flávio, Tarcísio, Michelle ou Caiado, a única postura possível, hoje, é a de ser oposição — e oposição unida. Aos conservadores, não a revolução, mas sim a atuação consciente, decidida, a presença afrontosa e lúcida que resulte em clara escolha de uma nova postura para o país. Negar duramente a submeter-se ante uma agenda totalizante e antagonista aos valores populares do brasileiro. Fingir que basta apertar mais algumas mãos, negociar em jantares escusos ou jatinhos particulares, manejar algumas emendas e tudo será resolvido dentro de mais quatro anos de Lula é sofrer da síndrome de Pilatos. O que não disseram aos conservadores limpinhos, os teóricos de políticas de mesa de chá, é que a postura, sem a coragem, a reforma sem a ação consciente e determinada, não passa de covardia com estética gourmet . Está na hora de voltar a afrontar os tiranos, a tomar lado na batalha. https://www.youtube.com/watch?v=S-dHwPHyukA O post Um Pilatos não pode ser conservador apareceu primeiro em Revista Oeste .