A Eletronuclear enfrenta dificuldades para manter suas operações financeiras sem auxílio imediato do Tesouro Nacional , mas depende de uma suspensão temporária nos pagamentos de empréstimos feitos por bancos públicos. O presidente interino da estatal, Alexandre Caporal, explicou que a continuidade dos pagamentos de quase R$ 7 bilhões em dívidas pode levar a empresa a uma situação insustentável. + Leia mais notícias de Economia em Oeste Caporal avaliou o cenário como crítico e ressaltou que a prorrogação da suspensão dos pagamentos, já concedida por seis meses em 2024, é essencial até que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) defina o futuro da usina de Angra 3, que está com as obras paradas há cerca de dez anos. O presidente estima que o serviço da dívida deve atingir R$ 800 milhões neste ano, enquanto os custos totais com Angra 3 superam R$ 1 bilhão anuais. Impasses sobre Angra 3 e resistência dos bancos públicos Segundo Caporal, "não tem sentido fazer a Eletronuclear sangrar até potencialmente ter um colapso, porque R$ 1 bilhão de reais nenhuma empresa no mundo segura sem ter fonte de recurso para isso, por uma indefinição do governo". "Ou vai vir a definição, ou vai vir o 'stand still' (suspensão da dívida)", afirmou Caporal em entrevista ao portal g1, neste sábado, 27. " Porque chegou-se num patamar que não tem como suportar mais." O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) demonstra resistência à prorrogação da suspensão dos pagamentos, já que não há previsão clara para uma solução quanto ao futuro de Angra 3. Leia também: "O Leão insaciável: arrecadação é recorde em 2025, mas governo quer mais impostos em 2026" , coluna de Carlo Cauti publicado na Edição 302 da Revista Oeste Caporal relatou que a Eletronuclear recorreu a empréstimos tanto no BNDES quanto na Caixa Econômica Federal para contornar a paralisação das obras. De acordo com Caporal, a empresa depende de uma decisão do governo Lula, controlador do BNDES e da Caixa, para garantir um novo período de suspensão nos pagamentos da dívida. "A única coisa que a gente precisa é exatamente Angra 3, que é o único ponto e o principal que a gente não tem, completamente exógeno na empresa e que não tem uma solução hoje", afirmou. "A gente está sendo cobrado pelo próprio governo. Então, bastaria o governo, que é também responsável pelo BNDES, pela Caixa, dar um 'stand still' para a gente." Em outubro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, indicou que uma decisão seria tomada até o fim deste ano. Dificuldades financeiras da Eletronuclear vão além de Angra 3 Caporal rejeitou comparações com a situação dos Correios, mesmo diante da necessidade de suspender pagamentos. Ele destacou que, ao contrário dos Correios, a Eletronuclear não necessita de aporte direto de recursos. Ainda assim, admitiu que as dificuldades vão além de Angra 3, atingindo também as operações das usinas Angra 1 e 2. Os custos administrativos e operacionais da empresa superam há anos o teto definido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para as tarifas das usinas Angra 1 e 2. Segundo a estatal, esse descompasso era compensado por aportes da União, que somaram cerca de R$ 5 bilhões entre 2015 e 2021. Com a privatização e restrições orçamentárias, essa compensação deixou de existir, aumentando a vulnerabilidade financeira da empresa. Para reduzir o déficit, a Eletronuclear tem adotado medidas como corte de despesas, reestruturação de pessoal e terceirizações. "Além da maior eficiência em custos, está sendo buscado um reequilíbrio tarifário junto à Aneel para recebimento de tarifa mais adequada à realidade dos custos eficientes da Eletronuclear", informou Caporal. Apesar de negar pedido de aporte ao Tesouro Nacional, a possibilidade não foi totalmente descartada pelo governo federal. O Relatório de Riscos Fiscais da União de 2025, divulgado em novembro, cita a Eletronuclear entre as empresas que podem enfrentar dificuldades de caixa. "A ENBPar (controladora da estatal) está exposta ao risco de aporte por conta da situação da Eletronuclear, que demanda altos investimentos para Angra 1 e conclusão incerta de Angra 3", aponta o documento do Tesouro Nacional. Alternativas e expectativa por recursos Como alternativa de receita, Caporal prevê o recebimento de cerca de R$ 1 bilhão do Fundo de Descomissionamento ainda no primeiro trimestre de 2026. Esse fundo foi criado para garantir recursos para a desativação segura das usinas nucleares, mesmo sem previsão de desativação imediata. O presidente explicou que, embora o Tribunal de Contas da União já tenha reconhecido o direito da empresa ao ressarcimento, a Agência Nacional de Segurança Nuclear ainda não liberou o pagamento. Caporal informou que pretende ingressar com pedido de medida cautelar em janeiro para liberar os recursos. “É muito óbvio que a gente vai receber esse valor, a questão é apenas o tempo", disse. "Deve levar um, dois ou três meses.” https://www.youtube.com/watch?v=XPS3FQ6zMwc Os valores do fundo são provenientes das tarifas de Angra 1 e 2, cobradas na conta de luz dos consumidores. O presidente defende que o saque de parte desses recursos não compromete a segurança nuclear nem o equilíbrio financeiro do fundo, já que ele é superavitário. O custo estimado para desativar Angra 1 e 2 é de cerca de R$ 7,5 bilhões, enquanto o fundo já soma aproximadamente R$ 3,2 bilhões. “Esses R$ 3 bilhões, com a própria remuneração ao longo do tempo, farão com que, daqui a 60 anos, quando o descomissionamento for necessário, o montante disponível seja muito superior aos R$ 7,5 bilhões estimados hoje”, concluiu. O acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) entre a União e a Eletrobras prevê a emissão de R$ 2,4 bilhões em debêntures em etapas, medida que pode aliviar parte da pressão financeira sobre a Eletronuclear, mas não soluciona toda a situação fiscal da empresa. O post Eletronuclear depende de suspensão da dívida para evitar colapso apareceu primeiro em Revista Oeste .