Silvinei Vasques chega a Brasília para cumprir prisão preventiva após tentativa de fuga

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso após fugir do Brasil para o Paraguai na última sexta-feira, chegou a Brasília, no inicio da tarde deste sábado. O policial aposentado vai cumprir prisão preventiva determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na sexta-feira, Silvinei Vasques foi preso no Aeroporto de Assunção com documentos paraguaios enquanto tentava embarcar em um voo para El Salvador logo após ter fugido do Brasil. Em seguida, foi entregue pela Polícia Nacional do Paraguai às autoridades brasileiras, na fronteira entre os dois países, entre as cidades de Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este. Do Paraná, foi transferido a Brasília. Vasques ocupou a chefia da PRF durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal há dez dias a 24 anos e seis meses de prisão por sua participação na trama golpista. O ex-diretor-geral da PRF foi preso a 1.300 quilômetros do município de São José, na Região Metropolitana de Florianópolis, onde morava. Ele foi Desenvolvimento Econômico e Inovação da cidade até o dia 16 de dezembro. Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), o plano de fuga de Silvinei envolveu a utilização de uma célula de identidade e um passaporte paraguaios. Ele rompeu a tornozeleira eletrônica e saiu de sua casa na noite de Natal, tendo alugado um veículo para fazer o trajeto, que dura pelo menos 18 horas. Após a detenção de Silvinei no Paraguai, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal da trama golpista no STF, determinou a prisão preventiva do ex-diretor da PRF de Bolsonaro. Imagens de segurança do prédio de Silvinei obtidas pela PF mostram que ele foi visto pela última vez em seu endereço em São José às 19h do dia 24, véspera de Natal. Naquela hora, ele carregou um carro Polo prata pertencente a uma locadora de veículos com bolsas ("não eram malas", anotaram os investigadores) no porta-mala. No banco dos passageiros, o policial colocou sacos de ração, tapete higiênico, pote e um cachorro que parece ser da raça pitbull. As autoridades só se deram conta da fuga por volta das 3h do dia 25 de dezembro, quando a tornozeleira eletrônica do PRF parou de emitir sinal de GPS (de localização) e, depois, de GPRS (da rede 2G). Às 20h do dia de Natal, agentes da Polícia Penal de Santa Catarina — responsável pelo monitoramento eletrônico dos apenados do Estado — foram ao endereço de Vasques. Bateram à porta, mas ninguém respondeu. Diz o relatório da PF: "A equipe de policiais federais repetiu o procedimento e chegou aos mesmos resultados". A essa altura, o ex-diretor da PRF já estava a caminho do aeroporto internacional de Assunção, onde foi preso com documentos de um cidadão paraguaio. Para tentar capturá-lo a tempo, a PF acionou a adidância no Paraguai, que, por sua vez, avisou à polícia local, responsável pela detenção. Os investigadores destacaram, nos autos, que a tornozeleira eletrônica violada não foi encontrada. Na hora da prisão, Silvinei Vasques carregava consigo uma cédula de identidade e um passaporte paraguaio, ambos válidos, que traziam a foto, o nome e as informações de outra pessoa, Julio Eduardo Baez Fernandez, nascido em 1981 em Ciudad del Este (anteriormente denominada Puerto Presidente Stroessner). No aeroporto, Silvinei carregou consigo uma carta em espanhol na qual afirmava ser Baez Fernandez. O documento dizia que ele tinha um câncer no cérebro e que não poderia falar nem compreender perguntas. A viagem a El Salvador, dizia o texto, era para continuar o tratamento da suposta doença. Silvinei tinha uma passagem aérea da companhia aérea Copa para embarcar em um voo para El Salvador, com escala no Panamá. Na ocasião, ele trajava camiseta verde, calça jeans e um óculos de aro preto. Agentes da polícia paraguaia enviaram fotos de Silvinei à PF, que confirmou que se tratava do ex-diretor-geral da PRF. Natural de Ivaiporã (PR), Silvinei Vasques ingressou na PRF em 1995 e construiu uma carreira de 27 anos na corporação. Durante o governo Bolsonaro, foi nomeado diretor-geral da instituição, o cargo máximo da carreira. Ele se aposentou voluntariamente com salário integral em dezembro de 2022, logo após o fim das eleições presidenciais. Em 2022, nas semanas que antecederam o segundo turno das eleições presidenciais e no dia do pleito, Silvinei Vasques teria promovido o uso político da estrutura da PRF. As investigações da Polícia Federal apontam que fiscalizações e blitze do órgçao foram intensificadas em rodovias do Nordeste, região onde Luiz Inácio Lula da Silva tinha vantagem eleitoral, com o objetivo de dificultar o voto de eleitores simpatizantes da candidatura petista. Depoimentos de funcionários públicos e agentes, além de mensagens de autoridades em grupos de Whatsapp, estão entre as provas da ação ilegal da PRF, que teria sido planejada pelo Ministério da Justiça com aval do então ministro, Anderson Torres, e executada por Silvinei Vasques. De acordo com a denúncia da PGR, a delegada da Polícia Federal Marília Ferreira Alencar, que foi diretora de Inteligência do Ministério da Justiça e Segurança Pública durante a gestão de Torres, solicitou a elaboração de um projeto de Business Intelligence (ferramenta de análise de dados) voltado aos resultados eleitorais. "O objetivo era coletar informações sobre os locais onde Lula da Silva havia obtido uma votação expressiva e onde Bolsonaro havia sido derrotado, com foco especial nos municípios da Região Nordeste", diz o texto. A PGR também afirma que as "diretrizes manifestamente ilícitas" do grupo foram acolhidas pelo então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, "que direcionou os recursos da Polícia Rodoviária Federal para o objetivo de inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o poder".