Rejuvenescimento íntimo feminino: por que mais mulheres buscam esse cuidado e quando ele é indicado

Nos últimos anos, o cuidado íntimo feminino deixou o espaço restrito dos consultórios para ganhar visibilidade em entrevistas, redes sociais e programas de televisão. Relatos de mulheres conhecidas ajudaram a ampliar o debate. Maiara, da dupla com Maraisa, contou ter passado por uma ninfoplastia após uma grande perda de peso e afirmou que o resultado "mudou sua autoestima". Gretchen também falou abertamente sobre o uso de radiofrequência para retração dos lábios e renovação da região, destacando conforto e bem-estar como principais objetivos. Ninfoplastia: entenda o que é e como funciona cirurgia íntima que está conquistando brasileiras e estrangeiras Cirurgia íntima feminina: famosas quebram preconceitos e afastam tabus; veja quem fez Maíra Cardi revelou ter realizado um rejuvenescimento vaginal como parte de um processo pessoal de reconstrução emocional. Já a advogada Deolane Bezerra compartilhou a experiência com uma ninfoplastia a laser, motivada por questões funcionais e estéticas; sua irmã, Dayane Bezerra, seguiu o mesmo caminho e detalhou o procedimento ao público. A visibilidade dessas histórias ajuda a romper o silêncio, mas também levanta uma questão central: o que, de fato, está por trás do chamado rejuvenescimento íntimo feminino e em quais situações ele é indicado? Por muito tempo, a saúde íntima feminina permaneceu limitada ao espaço privado, quando chegava a ser discutida. Hoje, os avanços da medicina e uma abordagem mais aberta sobre o corpo da mulher vêm reposicionando o tema como parte do cuidado integral. Segundo Vivian Amaral, referência internacional na área, a procura por esse tipo de acompanhamento nasce, na maioria, de incômodos reais que interferem na rotina, na vida sexual e no bem-estar. "Rejuvenescimento íntimo é um conjunto de abordagens médicas voltadas para melhorar conforto, função e qualidade dos tecidos da vulva e, em alguns casos, da vagina, respeitando anatomia, fase de vida e queixa principal", explica a dermatologista ao GLOBO. As queixas mais comuns no consultório Entre as queixas mais frequentes estão ressecamento, dor durante a relação, redução da lubrificação, sensação de afinamento da pele, irritações recorrentes, perda de firmeza, alterações de coloração e, em alguns casos, escapes urinários leves. De acordo com a especialista, nenhuma dessas manifestações deve ser analisada de forma genérica. A avaliação individual é essencial para identificar fatores associados, descartar condições clínicas e definir se há, de fato, indicação de intervenção médica. Envelhecimento, hormônios e as mudanças do corpo As transformações do corpo ao longo do tempo ajudam a explicar boa parte desses sintomas. Oscilações hormonais, especialmente no pós-parto e na menopausa, influenciam diretamente hidratação, elasticidade, colágeno e microcirculação da região íntima, além de impactarem o assoalho pélvico. A gestação e o parto podem alterar o tônus muscular, provocar cicatrizes e modificar a percepção corporal. Já no climatério, torna-se comum o surgimento de um novo padrão de pele e mucosa, geralmente mais sensíveis e suscetíveis a desconfortos. "E autoestima entra porque a região íntima não é só estética: envolve identidade, sexualidade, confiança e bem-estar", destaca a Dra. Vivian. Falar sobre o tema ajuda, mas exige responsabilidade A maior exposição do assunto na mídia contribui para reduzir o constrangimento histórico em torno da saúde íntima feminina, desde que acompanhada de informação correta. Para a médica, o debate público pode ser positivo quando conduzido com responsabilidade. "A fala pública reduz vergonha, abre espaço para a mulher perceber que não está 'sozinha', e incentiva a buscar informação e assistência médica qualificada", afirma. Ela faz um alerta, porém, para o risco de banalização: "normalizar não é banalizar". A visibilidade, segundo a especialista, deve reforçar a existência de cuidado, ciência e segurança, e não a ideia de que procedimentos são obrigatórios ou universais. Quais tratamentos existem hoje Do ponto de vista terapêutico, o rejuvenescimento íntimo reúne diferentes possibilidades, que variam conforme a necessidade de cada paciente. O chamado "cardápio" inclui desde cuidados clínicos e tópicos, como hidratação, proteção da pele e terapias hormonais locais quando indicadas, até o uso de tecnologias específicas, como lasers e outras fontes de energia, sempre em casos selecionados. Há ainda injetáveis e técnicas de bioestímulo voltadas à melhora da qualidade dos tecidos e do conforto, além de protocolos médicos para hiperpigmentação, que podem combinar produtos tópicos e recursos tecnológicos. A importância do assoalho pélvico no tratamento Quando as queixas envolvem função urinária, sustentação ou força muscular, a integração com fisioterapia do assoalho pélvico costuma ser decisiva para resultados mais consistentes. Essa abordagem multidisciplinar, explica a Dra. Vivian, evita soluções isoladas e amplia os benefícios do tratamento ao longo do tempo. Estética e saúde: onde está a linha? Embora estética e saúde possam ser conceitos distintos, na prática, eles frequentemente se cruzam. Conforto, ausência de dor, integridade dos tecidos e função adequada caminham lado a lado com a forma como a mulher percebe o próprio corpo. Para a Dra. Vivian, a linha entre essas dimensões é definida por critérios médicos claros: queixa legítima, achado clínico e benefício funcional esperado, sempre com segurança. "O objetivo não é 'padronizar' uma vulva — é cuidar do corpo real daquela mulher, com ética e sem prometer perfeição", observa. Quem pode se beneficiar e quais cuidados são essenciais Os benefícios potenciais não estão restritos a uma faixa etária específica. Mulheres no pós-parto, no climatério ou em outras fases da vida podem se beneficiar, desde que apresentem demandas consistentes e passem por avaliação adequada. Antes de qualquer conduta, são indispensáveis uma consulta detalhada, alinhamento de expectativas, escolha de profissional qualificado e respeito ao momento certo para cada abordagem. Nem toda queixa se resolve com tecnologia e, em muitos casos, o melhor ponto de partida é clínico. Informação como ferramenta de autonomia O desconforto em falar sobre o tema ainda reflete um histórico de silêncio imposto à saúde íntima feminina, marcado por vergonha, julgamento e falta de educação em saúde. Para a Dra. Vivian, mudar esse cenário passa, necessariamente, pela informação. "Informação séria transforma porque dá nome ao que a mulher sente, mostra que existe cuidado e tratamento, e devolve autonomia", conclui. Para a Dra. Vivian Amaral, o rejuvenescimento íntimo vai além da estética: envolve saúde, bem-estar e autoestima feminina Divulgação