Especialista explica cirurgia de hérnia inguinal bilateral que será feita por Bolsonaro O ex-presidente Jair Bolsonaro passa por um novo procedimento cirúrgico neste sábado (27). Segundo a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, será realizado o bloqueio do nervo frênico. O bloqueio do nervo frênico é um procedimento que reduz temporariamente a atividade do nervo que controla o diafragma, ajudando a interromper soluços persistentes. É indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos comuns e causam impacto clínico relevante. (entenda mais sobre o procedimento abaixo) A cirurgia acontece dias depois da retirada da hérnia inguinal bilateral, na última quinta-feira (25). O procedimento havia sido autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, depois de avaliação médica da Polícia Federal, que apontou a necessidade de correção cirúrgica para evitar o agravamento do quadro. Jair Bolsonaro será operado nesta quinta-feira (25) Jornal Nacional/ Reprodução O que o bloqueio do nervo frênico? O bloqueio do nervo frênico é uma cirurgia que interrompe temporariamente os sinais do nervo que controla o diafragma, ajudando a tratar soluços persistentes. Ele é feito com anestesia local, por meio da aplicação de um medicamento próximo ao nervo, geralmente guiada por ultrassom. É indicado apenas quando os soluços não respondem a tratamentos comuns e causam impacto clínico relevante, como é o caso do ex-presidente. Segundo a avaliação médica, o bloqueio do nervo frênico era uma medida tecnicamente adequada considerando o quadro de Bolsonaro. De acordo com Pedro Bertevello, cirurgião do aparelho digestivo da Beneficência Portuguesa, não há relação direta entre a hérnia inguinal, retirada nesta semana, e o soluço. "O soluço surge quando o estômago não esvazia bem ou quando há irritação do diafragma", explica. No caso específico do ex-presidente, o médico afirma que o quadro pode estar associado a refluxo gastroesofágico e à presença de hérnia de hiato – uma condição diferente, em que parte do estômago sobe para o tórax, irritando o esôfago e estruturas próximas ao diafragma. Por fim, o cirurgião ressalta que hérnia inguinal e hérnia de hiato não têm relação entre si: ambas envolvem deslocamento de tecidos, mas ocorrem em regiões distintas do corpo e têm causas e consequências diferentes. O que é a hérnia inguinal A hérnia inguinal – também chamada de hérnia na virilha – ocorre quando tecidos do interior do abdômen, geralmente uma alça do intestino, escapam por um ponto enfraquecido da parede abdominal e formam um abaulamento na região. Quando esse deslocamento acontece dos dois lados da virilha, a condição recebe o nome de hérnia inguinal bilateral. Ela pode causar inchaço, dor ou desconforto, sobretudo ao fazer esforço, tossir ou permanecer muito tempo em pé, embora em alguns casos seja assintomática. De acordo com os peritos que analisaram o caso, não há indicação, nos relatórios médicos, de cirurgia em caráter de urgência ou emergência. “O que, exatamente, é uma hérnia? É um defeito na parede abdominal”, explica Pedro Bertevello. Segundo ele, essa fragilidade pode existir desde o nascimento, em pessoas que já têm uma predisposição anatômica, ou surgir ao longo da vida, especialmente após cirurgias abdominais —sobretudo aquelas feitas em caráter de urgência. Para entender o processo, é preciso imaginar a parede abdominal como uma estrutura em camadas. Primeiro vem a pele, depois a gordura, a musculatura e, logo abaixo, uma membrana resistente chamada aponeurose, que funciona como uma espécie de “armadura” para conter as vísceras. Atrás dessa estrutura está o peritônio, uma película fina e lubrificada que reveste o interior do abdômen e permite que o intestino se movimente livremente. Esse movimento constante é essencial para a digestão e ocorre mesmo em ações simples do cotidiano, como caminhar, respirar ou mudar de posição. O problema começa quando essas camadas são rompidas, seja por cirurgias anteriores, seja por traumas. A cicatrização interna pode gerar aderências, que fazem com que alças do intestino se “colem” entre si ou à parede abdominal. Com o tempo, isso enfraquece a aponeurose e cria brechas por onde o intestino pode se projetar. Em alguns casos, a alça intestinal entra nesse espaço e não consegue retornar à cavidade abdominal —situação chamada de encarceramento. Na hérnia inguinal, essa projeção ocorre na região da virilha e pode, em situações mais avançadas, descer em direção ao escroto. Cirurgias prévias pesam no quadro Quando o abdômen já foi muito manipulado cirurgicamente, as aderências e as fibroses internas tornam a região mais rígida e irregular. Isso dificulta tanto a circulação normal do intestino quanto sua acomodação dentro da cavidade abdominal, aumentando o risco de surgimento de hérnias ao longo do tempo. Esse histórico também pode interferir no funcionamento do sistema digestivo como um todo. O trato gastrointestinal funciona como um tubo contínuo – da boca ao ânus – e alterações no trânsito intestinal podem provocar reflexos em outras regiões, inclusive no diafragma. Hernia inguinal Arte/g1