O ano que vem chega com a expectativa em torno da eleição presidencial, na qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscará um quarto mandato. Até outubro, no entanto, muitas perguntas precisam ser respondidas — tanto em relação ao petista quanto à oposição, que ainda tem pouca clareza sobre o melhor caminho a seguir. As questões para o ano que se aproxima, contudo, não se limitam à disputa pelo Planalto. Há dúvidas sobre as eleições estaduais, o Congresso e o Judiciário. A fim de jogar luz sobre essa miríade de incertezas, O GLOBO listou 26 perguntas sobre 2026. Especial 26 perguntas para 2026 - Eleição presidencial André Mello/Arte O GLOBO Eleição presidencial 1 - TARCÍSIO DE FREITAS SERÁ CANDIDATO À PRESIDÊNCIA? Nome preferido do Centrão e de setores econômicos que defendem uma oposição forte ao presidente Lula no ano que vem, o governador de São Paulo vive um constante vaivém. Às vezes dá sinais de que quer encarar o desafio, mas publicamente sinaliza que tentará a reeleição no estado. O desafio de construir uma candidatura presidencial chega ao fim do ano com novo obstáculo: o lançamento do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao jogo como pré-candidato da direita. 2 - O SOBRENOME BOLSONARO VAI ESTAR NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL? A fim de manter o capital político dentro da própria família, Jair Bolsonaro, preso, determinou que Flávio é o nome escolhido para assumir seu espólio eleitoral. Muitos veem no gesto um jogo de cena, sem garantia alguma de que será consolidado, mas fato é que o desempenho do senador nas pesquisas faz o PL interpretar que o sobrenome pode impulsionar a eleição de deputados e senadores. Além dele, a ex-primeira-dama Michelle costuma ser apontada como opção, inclusive para a vice em uma chapa de Tarcísio. 3 - ALCKMIN SE MANTÉM COMO VICE NA CHAPA DE LULA? Adversário de Lula no passado, Geraldo Alckmin virou um vice considerado leal pelo petista. O PSB, ao qual é filiado, defende com unhas e dentes a manutenção da chapa. Dois fatores poderiam prejudicar a continuidade: alguma missão eleitoral imposta a Alckmin em São Paulo ou a necessidade de liberar o posto de vice na chapa para um partido mais ao centro. 4 - QUAIS PARTIDOS VÃO COMPOR A ALIANÇA DE REELEIÇÃO DO PRESIDENTE? A tendência é que Lula reedite a coligação de partidos de esquerda e centro-esquerda que formou em 2022. Legendas de centro e centro-direita, sobretudo MDB e PSD, têm divisões regionais muito fortes. Assim, uma eventual neutralidade dessas siglas na eleição presidencial, liberando os estados, já seria comemorada pelo Planalto. 5 - LULA VAI RECUPERAR POPULARIDADE NO ÚLTIMO ANO DO MANDATO? Depois de um primeiro semestre de queda acentuada na aprovação, Lula se recuperou no início do segundo semestre, mas viu o cenário estabilizar nas últimas pesquisas. Hoje, há empate técnico entre aprovação e desaprovação, segundo a maioria das pesquisas. Anos eleitorais costumam impulsionar a avaliação de governos, já que presidentes têm mais oportunidades para expor os feitos da gestão. 6 - QUAIS SERÃO OS GRANDES TEMAS DA DISPUTA NACIONAL? Nos últimos meses, a segurança pública passou a ser uma das armas da oposição para emparedar o governo Lula, mas há divergência entre analistas sobre a capacidade do tema de dominar uma eleição nacional. O esperado é que as diferentes pautas econômicas tomem conta do jogo, e é nisso que Lula pretende se concentrar. Ao mesmo tempo, o presidente indicou que pode criar no ano eleitoral o Ministério da Segurança Pública, uma forma de demonstrar preocupação com o tema. 7 - ELEITOR VAI REFORÇAR A POLARIZAÇÃO OU EXPOR CANSAÇO COM O CENÁRIO? Em um cenário de Lula versus alguém da família Bolsonaro, os dois vão concentrar quase todos os votos, como foi em 2022, ou um terceiro nome conseguirá ter bom desempenho? A última pesquisa Genial/Quaest de 2025 deu sinais de que, a despeito da rejeição alta dos dois lados, ambos ainda concentram a maioria esmagadora das intenções de voto. 8 - DESINFORMAÇÃO COM IA VAI EXPLODIR E MARCAR CAMPANHA? Com a proliferação acentuada da inteligência artificial nos últimos anos, a eleição do ano que vem cria expectativa sobre quão usada para fins indevidos a IA vai ser. Diante de uma legislação ainda em construção, há temor acerca do potencial que as ferramentas têm para produzir desinformação, sobretudo por meio de vídeos ou áudios hiperrealistas. Especial 26 perguntas para 2026 - Estados André Mello/Arte O GLOBO Estados 9- QUAIS PREFEITOS VÃO SE DESINCOMPATIBILIZAR PARA DISPUTAR ELEIÇÃO DE GOVERNADOR? Diversos prefeitos que desfrutam de boa avaliação em suas respectivas cidades são cotados para disputar governos estaduais em 2026. Entre eles, estão Eduardo Paes (Rio), João Campos (Recife) e João Henrique Caldas, o JHC (Maceió). Até o de São Paulo, Ricardo Nunes, é uma possibilidade, caso Tarcísio tente o Planalto. O começo do ano deve marcar as primeiras admissões públicas da intenção de se candidatar. Eles têm até 4 de abril para se desincompatibilizar das prefeituras. 10 - PAES, NO RIO, VAI CONSEGUIR ATRAIR PARTIDOS DO CENTRÃO QUE HOJE ESTÃO VINCULADOS AO GOVERNO CLÁUDIO CASTRO? Depois de se reeleger com folga na cidade em uma aliança mais composta pela centro-esquerda, Paes tem feito gestos à direita e tenta atrair alguns dos partidos com maior capilaridade no estado, sobretudo a federação composta por PP e União Brasil. Ao mesmo tempo, caminha para ter de novo siglas progressistas como PT, PSB e PDT. Na vice, pretende abrir espaço para alguém de fora da capital. 11 - QUEM SERÃO OS CANDIDATOS EM SÃO PAULO, COM OU SEM TARCÍSIO DISPUTANDO A REELEIÇÃO? Caso Tarcísio decida disputar a Presidência, haverá uma corrida interna na direita pela candidatura no maior estado do país. O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), é um dos cotados, e é sabido que o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, sonha com o cargo. Na oposição, ainda há pouca clareza, mas o PT estuda lançar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a fim de ter um palanque forte para Lula em São Paulo, mesmo sabendo que a tendência na eleição de governador é de vitória da direita. 12 - QUAIS CANDIDATOS VÃO DISPUTAR A ELEIÇÃO DE MINAS, ATÉ AGORA BASTANTE INDEFINIDA? Outro estado com cenário indefinido é Minas Gerais, o segundo mais populoso do país. O vice-governador da gestão Romeu Zema (Novo), Matheus Simões (PSD), pretende se lançar. Outro da direita é o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos). Na oposição, há várias possibilidades ventiladas. São nomes como o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PDT) e o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco, que, no entanto, é do mesmo PSD que filiou Simões — a despeito de ser aliado de Lula. 13 - O PT MANTERÁ O DOMÍNIO NA BAHIA, MESMO COM ACM NETO LIDERANDO AS PESQUISAS? Apesar de o governador Jerônimo Rodrigues (PT), apto à reeleição, ter índices satisfatórios de aprovação, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) lidera as primeiras sondagens eleitorais. Na Bahia, contudo, o histórico mostra que os candidatos do PT até podem começar atrás, mas costumam pegar o embalo da nacionalização da campanha e virar o jogo. 14 - CARLOS BOLSONARO VAI CONSEGUIR SE ELEGER SENADOR EM SANTA CATARINA OU AS RIXAS NA DIREITA VÃO PREJUDICÁ-LO? Os últimos meses têm mostrado a dificuldade que o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) enfrenta para trocar de domicílio eleitoral e se candidatar ao Senado por Santa Catarina, com diversas rixas na direita. A ver se o eleitorado do estado bolsonarista vai abraçá-lo ou rechaçar a tentativa do “estrangeiro Especial 26 perguntas para 2026 - Congresso André Mello/Arte O GLOBO Congresso 15 - QUAL SERÁ O IMPACTO DAS EMENDAS PARLAMENTARES NO ÍNDICE DE REELEIÇÃO DE DEPUTADOS? Com fatias robustas do orçamento nas mãos de deputados e senadores, que desfrutam de enorme capacidade de mostrar ao eleitorado entregas palpáveis, será interessante observar o impacto disso no índice de reeleição para a Câmara. Em 2022, o percentual de renovação (39%) caiu bruscamente em comparação com 2018 (47%), ano que havia registrado um forte apelo por “mudança”. 16 - O BOLSONARISMO VAI CONSEGUIR TOMAR CONTA DO SENADO? Aliados de Bolsonaro deixam cristalina a prioridade conferida à eleição do Senado. É lá, afinal, que se pode impor com propriedade uma agenda contrária ao Judiciário. Uma das grandes dúvidas sobre as eleições é se o campo político terá força para conquistar maioria na Casa, emparedar o STF e dificultar a vida do futuro governo. 17 - QUAIS GOVERNADORES VÃO SE DESINCOMPATIBILIZAR ATÉ ABRIL PARA TENTAR VAGAS NO SENADO? Além de prefeitos que podem se desincompatibilizar para tentar governos estaduais, governadores em segundo mandato tendem a buscar uma cadeira no Senado. Alguns exemplos possíveis estão no Rio, com Cláudio Castro (PL); Rio Grande do Sul, com Eduardo Leite (PSD); Paraíba, com João Azevêdo (PSB); e Espírito Santo, com Renato Casagrande (PSB). 18 - A RELAÇÃO ENTRE O GOVERNO E O CONGRESSO CONTINUARÁ ACIRRADA? Seja pela votação de pautas defendidas pela oposição ou por insatisfações da cúpula do Congresso com movimentos do governo, o ano que se encerra registrou atritos constantes entre os Poderes. Fica a dúvida de como será a relação no ano eleitoral, quando parlamentares costumam tomar posição sobre o jogo presidencial. 19 - O SENADO VAI APROVAR A INDICAÇÃO DE JORGE MESSIAS PARA O SUPREMO? Ficou para 2026 o desfecho da indicação do ministro da AGU, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Insatisfeito com a escolha por Messias, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), ainda não deu uma nova data para a sabatina. A última vez em que a Casa barrou escolhas do presidente da República para a Corte foi em 1894. 20 - DEPOIS DE UM ANO PENDULAR, QUAIS AGENDAS HUGO MOTTA VAI PRIORIZAR NA CÂMARA? O 2025 do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi marcado por idas e vindas na relação com o governo e a oposição. Foi “lulista” em alguns momentos, mas em outros deu espaço para pautas caras à direita. É diferente do que Arthur Lira (PP-AL), por exemplo, fez no governo Bolsonaro, quando se colocou como aliado nítido do então presidente e o apoiou na tentativa frustrada de reeleição Especial 26 perguntas para 2026 - Judiciário André Mello/Arte O GLOBO Judiciário 21 - FACHIN VAI CONSEGUIR CRIAR UM “CÓDIGO DE CONDUTA” PARA MINISTROS? Defendida por pesquisadores, a ideia de criar um código de conduta para ministros de tribunais superiores passou a ser ventilada pelo presidente do STF, Edson Fachin, em dezembro. A intenção, contudo, esbarra em alas da Corte. Entre as regras, haveria diretrizes claras para participações em eventos privados, por exemplo. A principal referência é o Tribunal Constitucional Alemão. 22 - QUAIS PROCESSOS CRIMINAIS TENDEM A DOMINAR A PAUTA DO STF APÓS AÇÃO DO GOLPE? Resolvida a trama golpista, a Corte tem outros casos de grande repercussão sobre os quais se debruçar no ano que vem. Entre eles, o dos mandantes da morte de Marielle Franco, o da tentativa de obstrução de Justiça por parte de Eduardo Bolsonaro — via atuação nos EUA — e diversos processos envolvendo emendas parlamentares. 23 - STM VAI IMPOR UMA INÉDITA PERDA DE PATENTE AOS OFICIAIS CONDENADOS? Após a inédita condenação no STF de oficiais das Forças Armadas por tentativa de golpe, caberá a outra Corte, o Superior Tribunal Militar (STM), fazer outra análise carregada de ineditismo: a da perda de patente e posto desses militares. Especialistas costumam apontar esse tipo de condenação, o de indignidade para a função, como o maior baque possível para um oficial. 24 - JULGAMENTOS DE CASOS SOBRE EMENDAS VÃO ELEVAR AINDA MAIS A TENSÃO COM O CONGRESSO? Além das tensões entre governo e Congresso, o Legislativo também tem vivenciado embates frequentes com o STF. Um dos focos de apreensão são os processos envolvendo emendas parlamentares que correm na Corte. Os casos, sob relatoria do ministro Flávio Dino, têm potencial para esgarçar ainda mais a relação, dado que apenas a ponta do iceberg apareceu até agora. 25 - DEPOIS DA TRAMA GOLPISTA, STF VAI CONSEGUIR SER MENOS PROTAGONISTA OU CONTINUARÁ SOB OS HOLOFOTES? Com acúmulo de protagonismo nos últimos anos, o ideal seria que o STF conseguisse sair um pouco dos holofotes, dizem analistas. Ao mesmo tempo, eles reconhecem que é difícil que isso aconteça: a judicialização virou um marco da política brasileira. 26 - COMO SERÁ A CONDUÇÃO DE NUNES MARQUES À FRENTE DO TSE NO ANO ELEITORAL? O ministro indicado por Bolsonaro vai estar à frente da Corte eleitoral no ano da eleição. Há dúvidas sobre como será sua atuação, em contraponto a posturas enfáticas de defesa das urnas e do processo eleitoral como um todo adotadas pelos últimos presidentes.