Há muitos pontos em comum entre Gabriela Loran e Viviane, papel interpretado por ela em “Três Graças”, novela das 21h da TV Globo. Assim como a farmacêutica da ficção, a atriz trabalhou, antes da fama, numa farmácia. No que diz respeito à família, intérprete e personagem têm uma conexão especial com a figura da avó. “Além disso, a Viviane recebeu a ajuda de uma tia para concluir a faculdade. Isso também aconteceu comigo para cursar Artes Cênicas”, diz a atriz, de 32 anos, formada pela Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio. Cinema: Carol Duarte estrela segundo longa italiano, desta vez, como protagonista Stand-up comedy: Fernando Pedrosa fala sobre humor sem ofensas Xamã fala sobre vilões: 'Meu desafio agora é fazer um papel sem esses estigmas' Gabriela e Viviane compartilham também o fato de serem mulheres transexuais num país fortemente marcado pela discriminação. Por isso, a jovem tem sido fundamental no desenvolvimento da trama, em linha direta com os autores, Aguinaldo Silva, Virgílio Silva e Zé Dassilva. “Ela conseguiu trazer para a personagem todas as dores e as delícias de ser o que é e sempre foi: uma mulher”, dizem eles. “A Viviane não tem dúvida da condição feminina dela e, por isso, qualquer dúvida que outros personagens possam levantar a respeito disso é sempre rebatida com firmeza.” Foi assim em um dos diálogos mais emblemáticos exibidos até agora, quando Leo, seu par romântico vivido por Pedro Novaes, mostrou-se resistente ao entender que Viviane é transexual. “Pedi à direção que essa história não fosse construída como se ela estivesse escondendo algo”, conta a atriz. “Então, ela disse: ‘Além de Viviane, farmacêutica, também sou uma mulher trans e sou muito bem-resolvida com isso’. Foi uma coisa que eu quis colocar porque antes de ser trans, ela tem toda essa história.” Sophie Charlotte fala de encontro com Xamã: 'Exercemos a arte de várias maneiras' Clara Moneke e Breno Ferreira falam sobre cumplicidade e sexo: 'Somos quentes' Entrevista: Após superar câncer de mama raro, top Fernanda Motta diz que aprendeu a dizer 'não' e a fazer melhores escolhas Assim como Gabriela. Nascida em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, a atriz é filha de uma advogada e um motorista aposentado em função de um acidente que sofreu no trabalho. “Hoje, os dois têm uma vida confortável. Dei o carrinho automático que ele precisava e finalizei a casa deles”, orgulha-se a caçula de três irmãs. “Meus pais sempre foram os meus alicerces. Obviamente, a questão da transição é difícil de entender em um primeiro momento, mas a preocupação deles estava mais ligada ao medo do mal que o mundo poderia me causar.” Atriz quer fazer uma personagem grávida e uma vilã nos próximos trabalhos Otávio Bruschi Os primeiros ímpetos artísticos apareceram ainda na infância, quando Gabriela pedia insistentemente à mãe que a levasse ao programa de TV do apresentador Raul Gil, famoso pela interação com as crianças. “Não tive essa oportunidade, em função da nossa origem humilde, mas segui brincando e usando a minha imaginação fértil”, recorda-se. “Essa postura me protegeu de muitas coisas, como do bullying e das dificuldades da vida.” O que era dela, de todo modo, estava guardado. Munida da formação feita com financiamento estudantil, Gabriela não tinha dúvidas de que havia escolhido a profissão certa. “Em todos os meus trabalhos, sempre me dei bem com o público”, diz. Desde a primeira aparição na TV, em “Malhação” (2018), na TV Globo, nunca esteve fora do ar. Também atuou nos folhetins “Cara e coragem” e “Renascer”, além de fazer parte do elenco da série “Arcanjo renegado”, do Globoplay, cuja sexta temporada será gravada no ano que vem. Entrevista: André Lamoglia, protagonista de série sobre o jogo do bicho, fala sobre a fama de 'símbolo sexual' Bella Campos fala sobre beleza e autenticidade: 'Nem sempre tive essa confiança' A mesma facilidade para se comunicar veio à tona quando decidiu mostrar, em suas próprias redes, os detalhes da cirurgia de redesignação sexual, feita na Tailândia, em 2024. Na época, o Vaticano havia soltado uma nota, classificando o procedimento como atentado violento à dignidade humana. “Ao ler essa notícia, pensei: ‘Preciso falar sobre o assunto’. Então, gravei relatos da minha experiência”, conta. “Quando faço um vídeo mostrando a minha primeira prova de biquíni e me emociono com isso, mostro como esse procedimento existe, é acessível e pode mudar a vida das pessoas como mudou a minha.” Mas esse assunto, ela diz, se esgotou com os vídeos, que seguem disponíveis para quem tiver interesse. “Vivo um momento em que não quero falar sobre o que não me sinto confortável. Estou um pouco exausta”, desabafa. O sorriso se abre mesmo na hora de pensar o futuro e as personagens que estão por vir. “Quero fazer uma vilã e também uma mulher grávida, para mostrar para o Brasil que isso é verossímil”, avisa. O pensamento em torno da maternidade tampouco é algo restrito ao campo da ficção. “É o sonho número um da minha vida e me dei o deadline de realizá-lo até os 35 anos. É uma coisa para a qual nasci para ser”, diz. “Tanto a minha mãe quanto a minha irmã já se propuseram a gerar a criança para mim. Independentemente de como seja, daqui a três anos, isso vai acontecer.” Mas aí são cenas dos próximos capítulos.