Uma retrospectiva para a infância

Na última coluna do ano, uma retrospectiva sobre a infância em 2025 é inevitável — e necessária. Seria preciso bem mais espaço, mas sigo com o essencial. Alguns dos maiores avanços no cuidado com crianças e adolescentes vieram de decisões estratégicas do governo brasileiro sobre vacinação. Na prevenção do VSR, vírus responsável pela bronquiolite — maior causa de internações e mortes de bebês nos primeiros meses de vida —, duas medidas históricas foram adotadas: a vacinação de gestantes e o uso do anticorpo monoclonal em prematuros. Em 2026 já poderemos perceber o impacto dessas ações, com queda expressiva de internações em CTIs e menos sofrimento para as famílias. Ainda nesse campo, o país decidiu incorporar uma nova vacina que amplia a proteção contra o pneumococo, principal causa da pneumonia, e anunciou a aprovação da Butantan-DV, imunizante brasileiro em dose única contra a dengue. E nossa cobertura vacinal segue aumentando. Outra conquista espetacular: o Brasil foi certificado pela Organização Mundial da Saúde pela eliminação da transmissão vertical do HIV. Um feito que reflete a extraordinária história do nosso programa de prevenção e combate à Aids e a força do SUS. Na saúde pública e na economia, boas notícias se entrelaçam. O Brasil atingiu, em 2024, os menores níveis de pobreza desde 2012. Houve aumento da renda média, redução da desigualdade, e em julho passado o país saiu do Mapa da Fome da ONU. Tudo isso tem impacto direto na infância mais vulnerável, criando melhores condições para um desenvolvimento saudável. Tristemente, a saúde mental de crianças e adolescentes piorou: aumentaram o consumo de álcool, a automutilação, a depressão e a violência nas escolas. É um desafio complexo, que exige políticas públicas integradas e urgentes. Por outro lado, avançamos muito no enfrentamento da epidemia do excesso de telas. A proibição do uso de celulares nas escolas já mostra efeitos positivos no aprendizado, no movimento e na interação entre alunos. O ECA Digital, que entra em vigor em 2026, foi outra conquista espetacular para a proteção de crianças e adolescentes num território que tem trazido tantos malefícios. O Congresso, no entanto, foi responsável por graves retrocessos. O PL da Devastação e o marco temporal podem provocar destruição ambiental sem precedentes, comprometendo a qualidade de vida de todos e o futuro de nossos filhos. E o aumento desmedido e suspeito das emendas parlamentares sequestra recursos de políticas públicas essenciais, com cortes profundos em universidades, pesquisa e ciência. No cenário global, um marco histórico: a obesidade superou a desnutrição entre crianças, devido à exposição maciça aos alimentos ultraprocessados, que adoecem a humanidade. O lobby do setor na reforma tributária limitou a taxação seletiva aos refrigerantes. Mas há esperança: as novas regras do Programa Nacional de Alimentação Escolar restringem esses produtos e favorecem a nutrição saudável. O ano termina com notícias tristes: o horrendo surto de feminicídios nas últimas semanas e os aumentos consecutivos de maus tratos contra crianças mostram a urgência do enfrentamento dessas questões. No plano internacional, a Fundação Gates alertou que, pela primeira vez neste século, haverá aumento da mortalidade infantil global, impulsionado por cortes brutais na ajuda internacional e pelo triste avanço do negacionismo científico, ambos vindos dos EUA. A garantia de direitos da infância, prioridade em nossa constituição, avança quando ciência, políticas públicas e mobilização social caminham juntas. E em 2025 fomos capazes de fazer isso. Proteger crianças e adolescentes é uma tarefa complexa, mas é o melhor investimento que uma sociedade pode fazer. É com esse compromisso que devemos seguir para o ano novo. Feliz 2026!