Bulgária adota o euro em meio a temores de alta nos preços

A Bulgária se tornará, a partir de 1º de janeiro de 2026, o 21º país a adotar o euro como moeda oficial. A decisão, no entanto, desperta preocupações em parte da população, que teme aumentos de preços e maior instabilidade no país mais pobre da União Europeia (UE). Neste ano, ganhou força uma campanha de protesto para “manter o lev búlgaro”, explorando o receio popular de uma alta no custo de vida e a visão amplamente negativa sobre a moeda única europeia. Ainda assim, sucessivos governos impulsionaram a adesão à zona do euro, enquanto defensores da medida afirmam que ela fortalecerá a economia, estreitará os laços com o Ocidente e oferecerá maior proteção contra a influência da Rússia. Leia mais: K-pop, K-beauty, K-drama: febre de produtos coreanos vai além das telas e dos palcos e chega ao varejo O euro foi introduzido em 12 países em 1º de janeiro de 2002 e, desde então, expandiu sua área de circulação. A Croácia foi o último país a ingressar na zona do euro, em 2023. A Bulgária será a próxima, enfrentando desafios específicos. O país se prepara para sua oitava eleição em apenas cinco anos, após uma série de protestos anticorrupção que recentemente derrubaram um governo conservador. Segundo Boryana Dimitrova, do instituto de pesquisas Alpha Research, qualquer dificuldade ligada à adoção do euro tende a ser explorada politicamente por forças contrárias à União Europeia. — Qualquer problema se tornará parte da campanha política, criando as bases para uma retórica direcionada contra a UE — afirmou Dimitrova à AFP. Embora partidos de extrema direita e grupos pró-Rússia estejam por trás de vários protestos contra o euro, a preocupação vai além desse espectro político. Em especial nas regiões rurais mais pobres, muitos temem o impacto da nova moeda no bolso. — Os preços vão subir. É isso que me dizem meus amigos que vivem na Europa Ocidental — disse à AFP Bilyana Nikolova, de 53 anos, dona de uma mercearia na vila de Chuprene, no noroeste da Bulgária. Vantagens “substanciais” Segundo a pesquisa mais recente do Eurobarômetro, 49% dos búlgaros se opõem à adoção do euro. Após a hiperinflação dos anos 1990, a Bulgária atrelou sua moeda primeiro ao marco alemão e depois ao euro, o que já a tornou fortemente dependente do Banco Central Europeu (BCE). — Agora poderemos participar da tomada de decisões dentro dessa união monetária — afirmou à AFP o economista Georgi Angelov, do Open Society Institute, em Sófia. Entenda: Americanos tentam decretar falência para fugir de dívida de empréstimos estudantis Membro da UE desde 2007, a Bulgária ingressou apenas em 2020 no chamado “mecanismo de espera” para adoção do euro, ao mesmo tempo que a Croácia. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou no mês passado, em Sófia, que os benefícios da adesão são “substanciais”, citando “comércio mais fluido, menores custos de financiamento e preços mais estáveis”. Segundo ela, pequenas e médias empresas poderiam economizar cerca de 500 milhões de euros (aproximadamente US$ 580 milhões) por ano em taxas de câmbio. O setor de turismo, responsável por cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, também espera se beneficiar da mudança. Estabilidade em jogo Lagarde avaliou que o impacto da adoção do euro nos preços ao consumidor deve ser “modesto e temporário”, lembrando que, em transições anteriores, o aumento variou entre 0,2 e 0,4 ponto percentual. Ainda assim, consumidores que já enfrentam dificuldades para fechar as contas do mês permanecem apreensivos, segundo Dimitrova. Em novembro, os preços dos alimentos subiram 5% em relação ao ano anterior, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, mais que o dobro da média da zona do euro. Saiba mais: 'O que estamos fazendo vai além da astronomia', diz cientista brasileiro que ajuda a mapear céu do Hemisfério Sul Diante desse cenário, o Parlamento aprovou neste ano a criação de órgãos de supervisão com poder para investigar aumentos expressivos de preços e coibir reajustes considerados “injustificados” relacionados à transição para o euro. Analistas, porém, alertam que a prolongada instabilidade política pode atrasar reformas anticorrupção necessárias, com efeitos negativos para toda a economia. — O sucesso dependerá de um governo estável por pelo menos um ou dois anos, para que possamos aproveitar plenamente os benefícios da entrada na zona do euro — concluiu Angelov.