Harvard publica pesquisa de estudante de 18 anos de Jacarepaguá: 'Falei com paixão'

Aos 18 anos, a estudante Maria Eduarda Freitas, moradora da Taquara, levou um pouco dos graves problemas cariocas ao debate acadêmico internacional. Neste mês, ela teve a sua pesquisa publicada pela Harvard International Review. A produção faz parte do programa Alpha Scholars Summer 2025, para o qual ela foi selecionada, e a pesquisa foi orientada por acadêmicos escolhidos pela famosa universidade americana e alunos que estão prestes a concluir seus cursos por lá. — Não acreditava que fosse ganhar nada. Tenho um inglês bom, mas não achei que chegaria no nível de um estudante americano, ainda mais em um inglês acadêmico. Já estava planejando mandar a pesquisa para outros lugares, pensando em correr atrás para publicá-la. Comemoramos muito! — relembra. No Natal e além: pessoas que fazem o bem o ano todo revelam sua motivação Parece aquarela: pintora que se tornou fotógrafa após grave doença encanta com imagens de Niterói O título do trabalho, premiado com a medalha de prata, traduz a sua principal bandeira, a democratização do ensino: “Educação no fogo cruzado: como o negligência do Estado e a violência urbana em comunidades marginalizadas do Rio afetam as escolas públicas”. — Falei com paixão sobre o assunto. Isso me deu visibilidade. Não era só para ganhar um prêmio. É o que vemos todos os dias. A estudante Maria Eduarda Freita em simulação da ONU, feita pela universidade de Yale Arquivo pessoal Filha de servidora pública, Maria Eduarda viu a mãe bater em diferentes escolas particulares para conseguir bolsas para ela: sua formação inclui passagens pelos colégios Falcon, Elite, Santa Mônica e Matriz. Para cursar uma universidade nos Estados Unidos, ela precisa fazer a prova SAT (algo próximo ao Enem no Brasil), mas também ser aceita por seu currículo, que ganha agora esta publicação e exibe algumas outras conquistas. Maria Eduarda já tinha sido selecionada para participar de duas simulações da ONU feitas por Yale, uma na sede da universidade (quando ganhou bolsa completa) e outra em São Paulo. Também ganhou bolsa para o curso de verão do jornal The New York Times. Para completar, Maria Eduarda participa de dois projetos especiais: Brazil Action, pelo qual dá aulas gratuitas de inglês básico e de redação para o Enem (ela tirou mais de 900 pontos nas edições que fez) a quem não pode arcar com estes custos; e CariocaMun, em que, ao lado de um grupo de amigos, divulga oportunidades internacionais, faz palestras em escolas públicas e vai a eventos geopolíticos, como o G20 no Rio, entre outras atividades. — Em uma das escolas, uma menininha me disse que nunca seria médica, porque é pobre e preta. Quando vi que ela não tinha esperança no seu sonho, aquilo me quebrou, porque eu sempre fui incentivada. Isso me faz ver que eu realmente quero ajudar esses alunos, para que tenham as mesmas oportunidades dos que estão em escolas particulares, com mensalidades de R$ 7 mil — explica ela, que quer cursar Global Affairs (o equivalente a Relações Internacionais) e Economia, para ser ativista da ONU ou jornalista especializada em geopolítica. Maria Eduarda Freitas em curso de verão do jornal The New York Times, em Nova York Arquivo pessoal Este ano, Maria Eduarda já foi aprovada em quatro universidades americanas: University of Kentucky, Eastern Michigan University, Stetson University e Marquette University, onde tem bolsa garantida. Ela aguarda ainda resultados que chegam até março, como o de Harvard. Michigan já a havia aprovado no ano passado, mas ela preferiu tirar este ano para focar em projetos que melhorariam suas chances. — Você tem que dar um match com a faculdade, e ela com você. Tem que ser a sua cara. Eles prezam muito por serviço comunitário, e os meus projetos têm isso — avalia. Sempre trabalhando temas ligados à educação, Maria Eduarda se inspira em Paulo Freire. Para o documentário que criou no curso do New York Times, ela pediu para que amigos brasileiros e estrangeiros falassem uma das famosas frases do educador: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Initial plugin text