Brigitte Bardot morre aos 91 anos A atriz e cantora francesa Brigitte Bardot morreu neste domingo (28), aos 91 anos. Mundialmente conhecida desde a década de 1950, ela se tornou um dos maiores símbolos do cinema francês e da cultura do pós-guerra, antes de abandonar as telas para se dedicar à defesa dos animais. Ao longo da vida, construiu uma trajetória marcada tanto pelo estrelato internacional quanto por controvérsias e posicionamentos políticos que dividiram opiniões. O fenômeno Bardot surgiu em 1956, quando, aos 22 anos, ela protagonizou "E Deus Criou a Mulher", dirigido por seu então marido, Roger Vadim. O filme transformou a atriz em um ícone global de sensualidade e liberdade feminina, projetando sua imagem muito além do cinema francês. Apesar de uma carreira relativamente curta — entre 1952 e 1972 —, Bardot marcou profundamente sua época. Nos anos 1960, consolidou seu prestígio artístico com atuações em dois clássicos: "A Verdade" (1960), de Henri-Georges Clouzot, e "O Desprezo" (1963), de Jean-Luc Godard. T ambém participou de produções como “Viva Maria!” (1965), de Louis Malle, ao lado de Jeanne Moreau, “O Repouso do Guerreiro” (1964), novamente com Vadim, e “As Petroleiras” (1971), em que contracenou com Claudia Cardinale. Em 1967, Bardot iniciou uma carreira paralela como cantora, com relativo sucesso. Em parceria com Serge Gainsbourg, gravou músicas que se tornaram populares na França, como “Harley Davidson” e “Bonnie and Clyde”. A persona pública de Brigitte Bardot extrapolava a arte. Desde cedo, ela chamou atenção por desafiar convenções sociais: apareceu de biquíni no Festival de Cannes em 1953 e, anos depois, provocou ao comparecer ao Palácio do Eliseu usando calças, em um período em que mulheres eram esperadas em saias ou vestidos em eventos oficiais. Sua vida pessoal foi intensamente acompanhada pela imprensa e se tornou parte central de sua imagem pública. Além de Roger Vadim, Bardot se envolveu com atores como Jean-Louis Trintignant, Jacques Charrier e Sami Frey; músicos como Gilbert Bécaud, Serge Gainsbourg e Sacha Distel; e o fotógrafo Gunter Sachs. Mais tarde, casou-se com o empresário Bernard d’Ormale. Essa sucessão de relacionamentos, vivida sem discrição e sem pedido de desculpas, contribuiu para que Bardot fosse vista como símbolo de autonomia feminina em plena revolução sexual. A escritora Simone de Beauvoir resumiu o incômodo que ela provocava: “Ela faz o que lhe agrada, e é isso que perturba”. Paixão pelo Brasil Em 1964, Brigitte Bardot passou uma temporada no Brasil em busca de anonimato. Após desembarcar no Rio de Janeiro e negociar com a imprensa alguns dias de tranquilidade, seguiu para Armação dos Búzios, então um vilarejo de pescadores sem infraestrutura. Encantada com o isolamento, permaneceu no local por cerca de três meses e retornou no fim do mesmo ano. Décadas depois, a atriz descreveu a experiência como um período de vida simples, longe dos holofotes. Sua passagem por Búzios teve impacto duradouro: o local ganhou projeção internacional e se transformou em destino turístico. Em sua homenagem, a cidade criou a Orla Bardot e instalou uma estátua da atriz, que se tornou ponto turístico. Apesar disso, Bardot lamentava as transformações do balneário ao longo dos anos. Afastamento do cinema e ativismo Em 1973, aos 38 anos, Brigitte Bardot encerrou definitivamente a carreira no cinema após seu último filme, “Colinot Trousse-Chemise”. Desde então, passou a viver de forma reclusa em Saint-Tropez e se dedicou integralmente à defesa dos animais. Criou a Fundação Brigitte Bardot e se engajou em campanhas contra a caça de focas, as touradas, o consumo de carne de cavalo e o uso de animais em testes laboratoriais. A militância se tornou o principal eixo de sua vida pública nas décadas seguintes. Polêmicas e posições políticas Os últimos anos da vida de Bardot foram marcados por declarações polêmicas e condenações judiciais. Em 2021, ela foi condenada na França por insultos racistas contra moradores da ilha de Reunião, após enviar uma carta com declarações consideradas ofensivas, conforme divulgado pela agência de notícias France Presse. O caso gerou forte reação de autoridades, entidades antirracistas e defensores dos direitos humanos. Bardot também se aproximou da extrema direita francesa, manifestando apoio ao partido Reunião Nacional e a figuras como Jean-Marie e Marine Le Pen. Embora afirmasse evitar debates políticos fora da causa animal, defendeu posições nacionalistas e fez críticas públicas a presidentes franceses, ambientalistas e ao movimento feminista #MeToo. Brigitte Bardot em 1963 e 2001 Jack Guez/AFP e Screen prod./Photononstop/AFP Saúde Nos últimos anos, Brigitte Bardot fez raras aparições públicas. Em 2023, sofreu episódios de dificuldades respiratórias e recebeu atendimento médico em casa. Em outubro de 2024, foi hospitalizada em Toulon para uma cirurgia considerada simples, teve alta no mesmo mês e voltou para casa, onde seguia em repouso.