A atriz Brigitte Bardot, que morreu na França aos 91 anos, neste domingo (28), foi capa da Revista ELA em 2018, entrevistada por Rita Lee (1947-2023). Ambas foram ferrenhas ativistas dos animais, e conversaram sobre o assunto. A musa do cinema francês também falou o que pensa sobre a morte: "A morte me dá medo porque ela é monstruosa, e eu só gosto do que é belo". Na época, Bardot havia lançado recentemente o livro "Lágrimas de combate" (Globo Livros), em que conta como canaliza sua fama para ajudar os animais. "Todas as batalhas são difíceis. Não há hierarquia para a dor dos animais. Mas o que ficará marcado para sempre como o mais inesquecível é o combate contra o massacre das focas, que foi uma vitória conquistada depois de 30 anos de espera", declarou. Brigitte Bardot em foto de 1978: atriz redefiniu imagem da mulher no cinema AFP Rita Lee: Você conta um pouco da sua rotina diária no livro. Diz que entende de bichos mais do que o seu veterinário! Como explica sua ligação com eles? Brigitte Bardot: É o mistério que existe entre a mãe e seus filhos. RL: O cinema foi para você o que a música foi para mim: andar sempre à beira do abismo? BB: O cinema foi uma ajuda formidável para me tornar a celebridade que hoje eu coloco a serviço dos animais. Quando fazia cinema, me dedicava profundamente a ele, assim como a tudo que realizei, a fim de ser a melhor e vencer no que me propus a fazer. RL: Por que nunca topou fazer filmes em Hollywood? BB: Porque isso nunca me agradou. Nascida em Paris, em 28 de setembro de 1934, Brigitte Anne-Marie Bardot formou-se em balé clássico antes de ser descoberta pelo cinema Reprodução RL: Você se mantém linda e digna sem recorrer a procedimentos estéticos. quando percebeu que esse seria seu caminho? BB: Eu sou uma mulher natural, aceito o que a natureza e o tempo me impõem. RL: Como entende Deus através dos animais? BB: Cada um de nós imagina Deus de uma maneira diferente: será que Ele existe? Será que Ele não existe? Mas, no meu imaginário, penso que Ele deu aos animais tudo que falta ao ser humano: uma beleza natural, uma coragem exemplar, uma dignidade extraordinária diante da morte, uma necessidade de sobreviver ao dia a dia sem fazer disso um comércio, uma fidelidade sem igual ao seu rebanho, a seus congêneres, sem precisar dividir suas terras e seus pertences. Além disso, eles são dotados de uma sabedoria diante das condições inumanas às quais nós os submetemos sem cessar. Última aparição de Brigitte Bardot foi em entrevista rara em casa, sete meses antes da morte Reprodução RL: No livro, você cita São Francisco, Virgem Maria (adoraria ver sua capelinha na propriedade de La Garrigue!) e Santa Brigitte... como é sua espiritualidade? faz algum ritual? acredita que o espírito continua depois da morte? BB: Nutro um amor verdadeiro por aquela que chamo de “minha Pequena Virgem”. Mandei construir para Ela uma pequena capela à qual recorro quando preciso me recolher, acompanhada de meus cachorros, de meus gatos e de todos aqueles que querem me seguir. Um porquinho me acompanhou outro dia. É um lugar selvagem e próximo do mar: deixo meu pensamento voar, medito à minha maneira, permito-me ser invadida pela calma, pelo odor selvagem, pelos sons do mar. Eu me reabasteço, então, da coragem que às vezes me falta. A morte me dá medo porque ela é monstruosa, e eu só gosto do que é belo. RL: O que acha de zoológicos? BB: Os zoológicos são prisões para inocentes. Um universo carcerário frequentemente insalubre e estreito que leva os animais à loucura, privados de espaço e de companhias. RL: Como gostaria de ser lembrada, além de a deusa mais sexy do planeta? BB: A fada dos animais.