Reler conversas antigas revela algo sobre seu emocional — psicólogo explica

Você já se pegou relendo conversas antigas no WhatsApp ou no Instagram, tentando entender o que deu errado — ou reviver um momento que já passou? Segundo psicólogos, esse hábito comum vai além da curiosidade e pode revelar como o cérebro tenta regular emoções como saudade, ansiedade e insegurança no presente. O TechTudo conversou com um especialista em Terapia Cognitiva Comportamental para entender sobre o fenômeno. Rodrigo Acioli é psicólogo clínico e do esporte. Tem formação em Terapia Cognitiva Comportamental e especialização em Neuropsicoterapia. Além disso, é conselheiro do Conselho Federal de Psicologia (CFP), vice-presidente da ASSOPERJ, e foi presidente da ABRAPESP e conselheiro-diretor do CRP-RJ. Nas próximas linhas, entenda por que reler conversas antigas relava algo sobre seu emocional. Stalkeia o crush sem seguir? Veja o que isso diz sobre você Canal do TechTudo no WhatsApp: acompanhe as principais notícias, tutoriais e reviews Reler conversas antigas revela algo sobre seu emocional — psicólogo explica Mariana Saguias/TechTudo Tem como excluir aviso de mensagem apagada no WhatsApp? Veja no fórum do TechTudo Por que sentimos vontade de reler conversas antigas? O ato de voltar a mensagens antigas pode nascer de diferentes impulsos. Em alguns casos, é uma tentativa de reviver emoções positivas, de sentir novamente a alegria ou o carinho que aquelas palavras carregavam. “Às vezes aquela conversa carrega sentimentos positivos que a pessoa quer reviver — relembrar sensações, emoções”, diz Rodrigo Acioli. Em outros momentos, a motivação é a curiosidade: reler para encontrar novas percepções, como acontece quando revisitamos um livro. “A cada leitura, surgem percepções diferentes. Quando voltamos a algo do passado com a visão de hoje — mais apurada, mais amadurecida — entendemos coisas que antes não entendíamos", afirma. Esse movimento mostra que não existe uma regra única. Cada pessoa retorna ao passado por razões próprias, seja para buscar lembranças, seja para reinterpretar situações à luz da maturidade atual. Ainda de acordo com Acioli, cada busca tem um objetivo, um pensamento e um sentimento envolvidos. "Mas podemos observar características comuns: lembranças, memórias positivas, busca por releituras. Pode depender do momento emocional da pessoa e, a partir daí, entender o que motiva esse retorno às conversas: busca por sentimentos, por lembranças, ou por releituras em busca de respostas." Emoções felizes e negativas: o mesmo mecanismo, sentidos distintos O impacto emocional da releitura depende do conteúdo acessado. Conversas felizes tendem a despertar sorrisos e emoções positivas, enquanto mensagens ligadas a momentos difíceis podem trazer tristeza, raiva ou angústia. “O mecanismo de funcionamento é o mesmo, mas sempre associamos momentos bons ou ruins às experiências”, diz o psicólogo. De acordo com Acioli, nós temos a capacidade de acessar sentimentos por meio de lembranças e leituras. "Quando somos expostos a conversas boas e felizes, sorrimos e nos emocionamos com aquelas palavras e com as memórias que acompanham essa leitura. Da mesma maneira, conversas tristes nos fazem acessar pensamentos e sentimentos que nos remetem àquele momento difícil, trazendo tristeza, raiva ou angústia.", explica. Com o tempo, no entanto, essas memórias podem ser ressignificadas. Situações que antes pareciam dolorosas podem ganhar novos significados, revelando formas diferentes de carinho ou intenções que não foram percebidas na época. Esse processo mostra como o presente influencia a leitura do passado e como o humor e a maturidade podem transformar a relação com antigas lembranças. O impacto emocional da releitura depende do conteúdo acessado Mariana Saguias/TechTudo Os perigos dos gatilhos emocionais no cérebro Revisitar conversas não significa apenas reler palavras. Muitas vezes, o conteúdo funciona como um gatilho que nos transporta para a época em que foi escrito. “Essas memórias nunca foram embora; estavam guardadas. O acesso a esses conteúdos funciona como um gatilho, puxando outras lembranças, outras informações, outras circunstâncias", explica Acioli. "Quando acessamos conteúdos antigos — Orkut, fóruns, mensagens de tecnologias antigas — muitas vezes somos remetidos à época, não apenas ao conteúdo em si", comenta o psicólogo. Esse fenômeno está ligado ao saudosismo. Ao reler mensagens de plataformas antigas ou conversas de anos atrás, lembramos do que foi dito, quem estava conosco, como nos comportávamos e até da forma como escrevíamos. O hábito, portanto, reconecta a pessoa com versões anteriores de si mesma. A ansiedade e a busca por respostas: quando vira um problema? Em muitos casos, revisitar conversas antigas é uma tentativa de compreender o presente. Pessoas que vivem angústias ou desconfortos emocionais podem buscar no passado explicações para suas reações atuais. “Buscamos entender por que reagimos de determinada maneira, na esperança de encontrar uma saída para um estado emocional que nos incomoda hoje", afirma o psicólogo. Esse movimento pode estar ligado à ansiedade ou uma busca por saúde emocional. A expectativa é que, ao entender algo do passado, o sofrimento do presente diminua. O risco, no entanto, é transformar essa busca em ruminação, aprofundando ainda mais o mal-estar. Busca por mensagens antigas pode causar mal-estar cottonbro studio O retorno às conversas pode trazer alívio. No entanto, essa releitura pode intensificar quadros de ansiedade e obsessão. “Assim como pode aliviar, também pode aprofundar o sofrimento”, alerta Acioli. Isso acontece porque reagimos às informações antigas com o estado emocional atual, e essa diferença de contexto pode mudar completamente a experiência. "Porque o contato com essas informações ativa sentimentos. Assim como pode aliviar, também pode aprofundar o sofrimento", explica. O hábito, portanto, é ambivalente: pode abrir espaço para ressignificações ou aprisionar a pessoa em lembranças dolorosas. O ponto de atenção está em observar se o comportamento contribui para o bem-estar ou se passa a sequestrar o pensamento e prejudicar o cotidiano. O que o hábito de reler conversas antigas revela? Revisitar conversas pode indicar insatisfação com o presente. “Talvez revele que a pessoa não esteja bem no presente e esteja buscando no passado respostas para melhorar agora", explica o psicólogo. Nem sempre, porém, as respostas estão no passado. "Às vezes, ficamos ancorados no passado e não conseguimos nos soltar — e isso nem sempre é o melhor caminho. Esse hábito pode nos afastar do presente e limitar novas perspectivas.", complementa. Reler mensagens antigas pode ser um indicativo de que a pessoa não está bem no presente Mariana Saguias/TechTudo Quando o hábito deixa de ser saudável O hábito de revisitar conversas antigas torna-se prejudicial quando passa a interferir no cotidiano, prendendo a pessoa mais ao passado do que ao presente ou ao futuro e comprometendo relações pessoais e profissionais. Como destaca Rodrigo Acioli, “outro sinal importante é quando pessoas próximas — amigos, familiares, profissionais — alertam sobre isso. O olhar de fora ajuda muito.” Outro ponto importante é quando a busca fica frenética: "isso pode parecer uma obsessão. O pensamento fica “sequestrado”, prejudica relações pessoais, trabalho e outras áreas da vida," explica. "Quando esses comportamentos são constantes e geram prejuízos emocionais, afetivos, familiares ou profissionais, é um sinal claro de que é hora de procurar ajuda.", reforça Acioli. O que deve ser feito para melhorar? A conscientização é o primeiro passo, mas não basta: é essencial reconhecer a necessidade de ajuda e buscá-la. “Psicólogos e psiquiatras são os profissionais preparados para isso”, reforça o especialista. Quem já enfrentou esse ciclo aprende a identificar sinais precoces e interromper o padrão mais cedo; para quem nunca passou, admitir a necessidade de apoio já representa um avanço. A rede de confiança — amigos, familiares e profissionais — é fundamental para sustentar esse processo. O psicólogo também comenta que em alguns casos a própria pessoa não consegue reconhecer o problema. "Às vezes a pessoa percebe sozinha que isso está fazendo mal; outras vezes, precisa do olhar de alguém de fora, alguém de confiança". "Perceber a necessidade de ajuda e ter coragem de buscá-la já é um passo enorme.", confirma o especialista. Mais do TechTudo ORKUT VAI VOLTAR???? Perguntamos para o criador da rede social!