Exame simples é capaz de detectar risco de doença cardíaca hereditária

Um exame de sangue simples pode agora mudar a vida de milhões de pessoas ao antecipar o risco de complicações graves da cardiomiopatia hipertrófica, a doença cardíaca hereditária mais comum do planeta. + Leia mais notícias de Saúde em Oeste O estudo recebeu financiamento da The British Heart Foundation (BHF) , relata o The Guardian . Para o diretor científico e médico da entidade, Bryan Williams, o impacto pode ser global. Segundo ele, o teste “poderia beneficiar pacientes em todo o mundo”. View this post on Instagram A post shared by The British Heart Foundation (@the_bhf) A cardiomiopatia hipertrófica (HCM, na sigla em inglês), afeta milhões de indivíduos em todo o mundo e se caracteriza pelo espessamento anormal do músculo do coração. A origem do problema está em mutações genéticas transmitidas, na maioria dos casos, de geração em geração dentro de uma mesma família. Apesar de muitos portadores conviverem com a condição sem sintomas relevantes, outros enfrentam desfechos potencialmente fatais, como insuficiência cardíaca, arritmias severas e parada cardíaca súbita. Um dos maiores desafios da medicina até hoje é a ausência de cura para a HCM. O aspecto mais complicado é a dificuldade de identificar quais pacientes correm maior risco de desenvolver complicações graves. Médicos sabem quem tem a mutação genética, mas não conseguem prever com precisão quem irá evoluir mal. Essa lacuna começa a ser preenchida por uma pesquisa conduzida por cientistas ligados a universidades de ponta, entre elas Harvard e Oxford. O grupo desenvolveu uma estratégia para estimar o risco individual de pacientes com HCM a partir de um marcador presente no sangue. No estudo, considerado um marco na área, os pesquisadores analisaram amostras sanguíneas de cerca de 700 pessoas diagnosticadas com a doença. O foco foi a dosagem de uma proteína chamada peptídeo natriurético tipo B N-terminal (NT-proBNP), substância liberada pelo coração durante o bombeamento normal. Quando seus níveis estão elevados, isso indica que o órgão está sob esforço excessivo. Os resultados mostraram que pacientes com concentrações mais altas de NT-proBNP apresentavam pior circulação sanguínea, maior quantidade de tecido cicatricial no coração e alterações estruturais associadas a fibrilação atrial e insuficiência cardíaca. Em outras palavras, o exame foi capaz de apontar quem estava mais próximo de desenvolver complicações graves. A aplicação clínica desse teste é promissora. Pessoas identificadas como de alto risco poderiam ser acompanhadas mais de perto ou receber intervenções precoces, inclusive tratamentos capazes de salvar vidas. Já pacientes com baixo risco evitariam terapias desnecessárias e seus possíveis efeitos colaterais. Para a líder do estudo, a cardiologista Carolyn Ho, diretora médica do centro de genética cardiovascular da Faculdade de Medicina de Harvard, o exame abre caminho para uma abordagem mais precisa. Segundo ela, a ferramenta pode ajudar a “direcionar as terapias certas para os pacientes certos, no momento certo”. Ho afirmou ainda ao jornal: “Estudos contínuos sobre biomarcadores no sangue vão levar a uma melhor compreensão da HCM para que, no futuro, possamos oferecer aos nossos pacientes um exame de sangue capaz de identificar quem tem alto ou baixo risco de sofrer consequências graves da doença", ressaltou a médica. "Pessoas com maior risco poderiam ser direcionadas a tratamentos potencialmente salvadores de vida, pois são as que mais se beneficiariam, enquanto aquelas com menor risco poderiam evitar tratamentos desnecessários”. Doença cardíaca Entre os potenciais beneficiados está a britânica Lara Johnson, de 34 anos, moradora de Southampton, Inglaterra . Há oito anos, ela passou a sentir falta de ar e cansaço persistente. Depois de exames hospitalares solicitados por seu clínico geral, veio o diagnóstico de HCM. Posteriormente, outros familiares do lado paterno também descobriram ter a mesma condição. “Uma das partes mais difíceis de viver com HCM é a incerteza constante, nunca saber o que pode mudar a seguir”, relatou Johnson. “Um exame de sangue simples, que pudesse ajudar a identificar riscos futuros mais cedo, reduziria enormemente essa ansiedade.” Leia mais: "Hormônio do amor: como a ocitocina contribui para a confiança dos bebês" Ela acrescentou: “Isso poderia dar a pessoas como eu a chance de se preparar e ajustar o estilo de vida quando necessário, além de nos ajudar a sentir mais controle. Esse tipo de clareza não ajudaria apenas a mim, faria uma diferença enorme para toda a minha família”. Williams, da BHF, completou: “Depois do diagnóstico de HCM, pacientes e familiares querem saber o que o futuro reserva", disse o dirigente. "Este estudo mostra que medir diferentes proteínas que circulam no sangue pode ajudar a prever como o coração está funcionando e o risco futuro de complicações da doença cardíaca. Esse novo método também pode oferecer pistas sobre a evolução da estrutura e da função do coração em pessoas com HCM, apontando novos caminhos para tratar a condição e reduzir riscos futuros”. O post Exame simples é capaz de detectar risco de doença cardíaca hereditária apareceu primeiro em Revista Oeste .