Uma investigação do The New York Times revela que a decisão de Donald Trump de autorizar ações militares no Caribe, com efeitos diretos sobre a Venezuela, teve o objetivo de equilibrar questões envolvendo a política norte-americana. Como em um tabuleiro de xadrez, ele optou por ingressar no confronto com a ditadura de Nicolás Maduro por meio da questão da segurança. + Leia mais notícias de Mundo em Oeste Com isso, buscou acalmar alas conservadoras Estados Unidos (EUA), que inclusive pressionavam o governo para encerrar a licença da Chevron de operar no país sul-americano. Para Trump, a medida seria prejudicial aos EUA, já que a empresa norte-americana de energia é um contraponto e um escudo aos objetivos da China de cada vez mais explorar a região. View this post on Instagram A post shared by President Donald J. Trump (@realdonaldtrump) A ofensiva resultou da convergência entre interesses estratégicos dos EUA: segurança regional, combate ao narcotráfico, política migratória, preservação de influência energética e pressão política sobre o governo de Nicolás Maduro. Segundo o jornal, que ao longo da história apoiou o Partido Democrata, a Venezuela ganhou peso crescente na política externa norte-americana no momento em que Trump buscava endurecer o discurso contra Maduro, sem abrir mão do espaço das empresas dos EUA no setor petrolífero venezuelano. Para calibrar essa estratégia, o então presidente recorreu ao secretário de Estado, Marco Rubio, figura central nas decisões que se seguiram. A Chevron, como já citado, teve papel decisivo. A petroleira norte-americana operava no país sul-americano amparada por uma licença especial, vista pela Casa Branca como um instrumento para conter o avanço da China sobre a indústria de energia venezuelana. A permanência dessa autorização, porém, passou a ser alvo de forte pressão de parlamentares cubano-americanos, que defendiam seu cancelamento imediato. Diante do impasse, Trump optou por não abandonar totalmente o campo petrolífero, mas buscou alternativas para demonstrar firmeza política. O resultado foi o avanço de uma linha mais dura na área de segurança, ampliando a presença militar dos EUA na região do Caribe. É verdade que produção venezuelana se reduziu em relação ao passado. O petróleo do país, porém, ainda movimenta fluxos de comércio e contratos. A Chevron, por exemplo, chegou a ter uma autorização para operar parcialmente no país sob controle norte-americano. Manter presença em território venezuelano dá aos EUA e às suas empresas um instrumento de barganha. Maduro inclusive, temendo ser deposto de forma violenta, admite a possibilidade de abrir cada vez mais o mercado para os EUA e fechá-lo para China e Rússia, o que incomodou Vladimir Putin. Apesar da baixa produção, o petróleo venezuelano segue sendo um ativo que pode ser usado como moeda de influência econômica e diplomática, ainda que de forma indireta, através de acordos, sanções ou mesmo pressões sobre compradores terceiros. Foi neste momento que o combate ao narcotráfico entrou no centro dessa equação. Embora a Venezuela não seja produtora de fentanil, assessores da Casa Branca passaram a associar o governo Maduro, como uma forma de pressão para não prejudicar seus interesses locais, a rotas do tráfico internacional. Stephen Miller, então assessor de Segurança Nacional, apresentou propostas que ajudaram a sustentar essa narrativa. Com base nesse argumento, uma diretriz sigilosa assinada em julho autorizou operações militares contra embarcações suspeitas de transportar drogas em águas internacionais, muitas delas próximas ao litoral venezuelano. De acordo com o The New York Times , essas ações já provocaram a morte de ao menos 105 pessoas no Caribe e no Pacífico oriental, aumentando significativamente a pressão sobre a Venezuela . Trump e Rubio na campanha militarizada contra a Venezuela A política migratória também foi incorporada à estratégia. O endurecimento das medidas contra grupos criminosos venezuelanos foi apresentado como parte do esforço para conter a migração irregular rumo aos EUA. Paralelamente, o governo norte-americano passou a testar instrumentos jurídicos excepcionais para acelerar deportações. Foi nesse contexto que Marco Rubio negociou um acordo com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele. Washington se comprometeu a pagar cerca de US$ 5 milhões para transferir aproximadamente 300 venezuelanos, acusados de ligação com facções como o Tren de Aragua, para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), segundo o Times . Leia mais: "Venezuela: 40% dos navios que chegam ao país são irregulares" Investigações posteriores indicaram, segundo o jornal, que muitos desses deportados não tinham vínculos com organizações criminosas nem antecedentes relevantes. O centro salvadorenho, de acordo com relatos, é descrito como um local marcado por tortura e abusos sistemáticos. O jornal revela ainda que decisões dessa magnitude foram tomadas por um grupo restrito de autoridades. O resultado foi uma campanha, encabeçada por Trump e Rubio, cada vez mais militarizada no Caribe, que inclui ataques a embarcações, apreensões de ativos ligados ao petróleo e a imposição de novas sanções. Na avaliação do The New York Times , o caso ilustra como interesses energéticos, segurança regional e disputas da política interna norte-americana se combinaram para sustentar uma estratégia de pressão contínua sobre a Venezuela. O post Trump teve seus motivos para iniciar ofensiva contra Maduro; entenda apareceu primeiro em Revista Oeste .