O presidente americano, Donald Trump, disse um acordo para o fim da guerra na Ucrânia está muito perto de acontecer, após um encontro de duas horas com o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky neste domingo em Mar-a-Lago, Flórida. Trump recebeu Zelensky para conversas sobre uma nova proposta de paz destinada a encerrar o conflito de quase quatro anos da Ucrânia com a Rússia. O ucraniano disse antes da reunião a portas fechadas que as conversas já avançaram "em 90% dos pontos" da proposta, e Trump garantiu que as negociações continuarão com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Alta tensão: Terceira maior cidade da Ucrânia enfrenta falta de energia, água e aquecimento em meio a ataques russos Perspectivas 2026: Menores ucranianos são deixados em segundo plano pela diplomacia na guerra O plano, de 20 pontos, foi articulado após semanas de negociações entre Washington e Kiev, mas ainda não recebeu o aval de Moscou e ganha peso após um ataque maciço de mísseis e drones russos contra Kiev na véspera. Elaborado por equipes dos dois países, o documento aborda desde mecanismos de segurança para prevenir novas agressões até impasses sensíveis — entre eles, o futuro da região estratégica de Donbass e o controle da usina nuclear atualmente sob ocupação russa. — Muitas pessoas estão morrendo e queremos fechar um acordo de paz. Acredito que em breve teremos um acordo que seja bom para todos. Já consegui acabar com oito guerras e essa é a mais difícil de todas — disse Trump ao receber o ucraniano. — Zelensky trabalhou muito duro. Temos um encontro importante hoje. E após o encontro vamos continuar as negociações [com Putin]. Não tenho um prazo final, mas quero acabar com a guerra. Trump também afirmou que a Ucrânia contará com "fortes" garantias de segurança no caso de prosperar um plano para acabar com a guerra, algo que Zelensky declarou, na véspera, ser o foco das negociações deste domingo. — Haverá garantias de segurança. Elas serão fortes. E os países europeus estão muito envolvidos — disse o mandatário. A reunião ocorre em sua residência em Mar-a-Lago, Palm Beach — o primeiro encontro entre os dois desde outubro, quando o republicano recusou o pedido de Zelensky por mísseis Tomahawk de longo alcance. A Ucrânia vinha pressionando por essa reunião há semanas, desde que os Estados Unidos retomaram seus esforços diplomáticos para intermediar um acordo. Antes de Zelensky chegar, Trump disse em sua plataforma Truth Social que havia acabado de ter uma "conversa telefônica muito boa e produtiva com o presidente da Rússia". Entenda: Plano de paz de Trump congela fronteiras, entrega Donbass à Rússia e pressiona Zelensky O principal assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, confirmou a ligação e disse que os dois líderes concordaram que um acordo de paz de longo prazo "seria melhor do que o cessar-fogo temporário proposto pelos ucranianos e europeus". Kiev, acrescentou, deve tomar uma "decisão política corajosa e responsável" em relação ao Donbass, região que Moscou quer que a Ucrânia ceda totalmente. Atualmente, a Rússia controla cerca de 75% de Donetsk e aproximadamente 99% da vizinha Luhansk; juntas, as duas regiões formam o Donbass. — Dada a situação na linha de frente, Kiev não deve adiar essa decisão — disse Ushakov em entrevista coletiva. — Seria sensato tomar sem demora essa decisão sobre Donbass. Initial plugin text Garantias de segurança Zelensky disse durante uma escala no Canadá no sábado que esperava que as negociações fossem “muito construtivas”. Ao mesmo tempo, ele questionou repetidamente se Moscou estava realmente empenhada em buscar a paz ou simplesmente ganhando tempo. Os ataques da Rússia contra alvos civis, incluindo uma enorme barragem disparada contra a capital da Ucrânia no sábado, provaram, segundo Zelensky, que o Kremlin não tinha interesse real em acabar com a guerra. “A Rússia continua atormentando nossas cidades e nosso povo. Moscou rejeitou até mesmo as propostas de um cessar-fogo no Natal e está intensificando a brutalidade de seus ataques com mísseis e drones”, disse ele nas redes sociais enquanto estava a caminho da Flórida. “Este é um sinal claro de como eles realmente encaram a diplomacia lá. Até agora, não com a seriedade necessária.” Analistas afirmam que Putin, encorajado pelos avanços lentos, mas constantes, de suas forças no campo de batalha, provavelmente não aceitará a proposta de paz e, em vez disso, manterá suas exigências maiores. Entre elas, a cessão de uma parte significativa do território ucraniano e a redução das Forças Armadas da Ucrânia. 'Meios militares' A Rússia acusa a Ucrânia e seus aliados europeus de tentarem “sabotar” um plano anterior mediado pelos EUA para interromper os combates. Aumentando a pressão no campo de batalha, o Kremlin anunciou no sábado que havia tomado mais duas cidades no leste do país vizinho, Myrnograd e Guliaipole. — Se as autoridades em Kiev não quiserem resolver este assunto pacificamente, resolveremos todos os problemas que temos pela frente por meios militares — disse Putin no sábado. Ele também foi citado pela agência de notícias estatal Tass dizendo que “os líderes do regime de Kiev não têm pressa em resolver este conflito pacificamente”. Os líderes da União Europeia, Ursula von der Leyen e António Costa, que participaram de uma reunião virtual com Zelensky, garantiram que o apoio da União Europeia à Ucrânia nunca vacilará e prometeram manter a pressão sobre o Kremlin para que chegue a um acordo. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, rejeitou no domingo a ideia de enviar forças de paz europeias para a Ucrânia, uma possibilidade levantada anteriormente por alguns apoiadores ucranianos. Tropas da UE na Ucrânia seriam um "alvo legítimo" para as Forças Armadas russas, disse Lavrov em entrevista à Tass. Ele insistiu que "não havia motivo para temer" que a Rússia atacasse a Europa. — Após a mudança de governo nos EUA, a Europa e a União Europeia se tornaram o principal obstáculo à paz — acusou Lavrov no sábado à agência. — Eles não escondem seus planos de se preparar para a guerra com a Rússia, as ambições dos políticos europeus estão literalmente cegando-os. Não só não se importam com os ucranianos, como também parecem não se importar com sua própria população. Zelensky flexível As negociações abordarão um plano que interromperia a guerra ao longo das linhas de frente atuais e poderia exigir que a Ucrânia retirasse suas tropas do leste, permitindo a criação de zonas tampão desmilitarizadas. Como tal, contém o reconhecimento mais explícito de Kiev até agora de possíveis concessões territoriais. No entanto, não prevê a retirada da Ucrânia dos 20% da região oriental de Donetsk que ainda controla — a principal exigência territorial da Rússia. Trump fez do fim das guerras na Ucrânia e em Gaza o ponto central de seu segundo mandato como autoproclamado “presidente da paz”. Mas a guerra na Ucrânia, segundo ele mesmo admitiu, provou ser muito mais difícil do que ele esperava. Zelensky tem se empenhado em mostrar que está totalmente comprometido com a iniciativa de paz de Trump, sendo flexível e disposto a fazer concessões. Nos últimos dias, ele também pareceu, em alguns momentos, estar tentando desafiar o blefe do Kremlin. Ele disse aos repórteres na terça-feira que estava disposto a retirar as tropas ucranianas das áreas da região de Donbass ainda sob controle de Kiev e transformar essas áreas em uma zona desmilitarizada — desde que a Rússia retire suas forças de uma área equivalente. A Rússia tem insistido em manter todas as terras que conquistou desde sua invasão em grande escala há quase quatro anos e também exigiu as partes de Donbass que a Ucrânia ainda controla. Zelensky também se mostrou aberto a realizar as primeiras eleições gerais de seu país desde 2019 — uma exigência russa que Trump abraçou — desde que a segurança possa ser garantida. Isso transferiu a responsabilidade dele de volta para a Casa Branca e a Rússia. Enquanto isso, o Kremlin parece ter tomado cuidado para não rejeitar abertamente a proposta de paz, talvez para evitar irritar Trump. Em vez disso, as autoridades russas pediram mais discussões e diálogo. Financiamento A Ucrânia insiste que precisa de mais financiamento e armas da Europa e dos Estados Unidos, especialmente drones. O primeiro-ministro canadense Mark Carney, que se reuniu com Zelensky no sábado, anunciou US$ 1,82 bilhão (cerca de R$ 10 bilhões, na cotação atual) em nova assistência econômica para ajudar a Ucrânia a se reconstruir após o fim da guerra. O último ataque russo, no qual 500 drones e 40 mísseis bombardearam Kiev, deixou centenas de milhares de residentes sem energia elétrica e aquecimento durante temperaturas congelantes. Desde então, a energia foi restaurada “em todas as casas da capital”, disse a DTEK, o maior investidor privado do setor de energia da Ucrânia, no domingo. A administração militar da cidade de Kherson, ao sul de Kiev, disse que a Rússia lançou um ataque durante a noite que também deixou parte da cidade sem eletricidade. Com AFP e New York Times.