No mês passado, uma festa de arromba ganhou as manchetes pela quantidade de convidados ultra vips, animadíssimos, que dançaram até o dia seguinte — com direito a vizinhos incomodados com o barulho chamando a polícia. A aniversariante? Kris Jenner, comemorando seus 70 anos. No começo do ano, Fernanda Torres, 60, provou que a vida presta (e muito!), ganhando um Globo de Ouro e concorrendo ao Oscar de melhor atriz, ambos pelo filme Ainda Estou Aqui. E as boas notícias continuaram: a força da economia climatérica mostrou que a menopausa virou um negócio lucrativo. E, depois de 20 anos de restrições, a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora dos Estados Unidos, removeu o alerta de risco dos tratamentos hormonais para menopausa. Em 2025, vimos uma sucessão de acontecimentos que, um a um, foram desmontando antigas crenças e tabus sobre a mulher madura. Idade deixou de ser um marcador de finitude e se transformou em um booster de liberdade, repertório e coragem de se reinventar. Acompanhe alguns dos momentos que comprovam que, depois dos 50, ainda tem muita coisa para acontecer. 1. De Santo Antônio da Cobra para o mundo Tânia Maria, artesã de 78 anos que vive no interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente no povoado de Santo Antônio da Cobra, é a prova de que um novo — e intenso — capítulo da vida pode começar depois dos 70. Foi aos 72 anos que ela assistiu o primeiro filme de cinema, Bacurau, o mesmo em que fez seu debut como figurante e encheu os olhos do diretor Kleber Mendonça Filho. Na sequência, foi chamada pelo cineasta Leonardo Lacca para filmar Seu Cavalcanti em Recife. E, então, veio O Agente Secreto, também de Kleber, que a catapultou para a fama. O longa, que vai ser o representante do Brasil ao Oscar 2026, recebeu indicações em três categorias no Globo de Ouro e colocou Tânia na vitrine internacional. A revista estadunidense Variety, uma espécie de bíblia do entretenimento, chegou a apontar a brasileira como possível indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. E 2025 não parou por aí para Tânia. Ainda teve gravações de mais três longas: Delegado, Yellow Cake e Almeidinha, todos com previsão de lançamento para 2026. Tânia Maria Reprodução 2. Oscar e Globo de Ouro “A vida presta”, disse Fernanda Torres, 60 anos, ao saber das indicações para o Globo de Ouro e Oscar pelo longa Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. A frase extrapolou as redes e virou mantra nacional. A atriz levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama e, semanas depois, entrou oficialmente para a corrida do cinema mundial com a indicação ao Oscar — a segunda mulher brasileira a conseguir este feito. A primeira foi Fernanda Montenegro, sua mãe, aos 70. A consagração levou Fernanda a circular por programas como The Tonight Show e Jimmy Kimel Live!, conquistando o mundo com sua inteligência e humor afiados. Sua beleza e elegância naturais, atitude espontânea e um claro conforto na própria pele, fizeram Fernanda atravessar todos os tapetes vermelhos e eventos de premiações como quem vai a uma festa cheia de amigos: animada e segura de si. Em 2025, sem saber, a atriz levantou uma bandeira poderosa para a maturidade: a de que a vida, depois dos 50, presta muito! Fernanda Torres Getty Images 3. Festa de arromba Kris Jenner, empresária, produtora e arquiteta cultural do modelo de negócios mais bem-sucedido da era das celebridades empreendedoras, comemorou 70 anos com uma festa icônica que dominou as redes — assim como seu lifting. Sem receio de falar sobre a idade ou as intervenções de beleza, Kris vem moldando um tipo de maturidade que é pautado pelos próprios desejos. Sem medo, sem ter que pedir licença ou dar explicações. “Essa é a minha versão de envelhecer com elegância”, disse sobre o procedimento em entrevista à Vogue. Ela segue atuando como CEO de nove empresas diferentes e a cabeça por traz do império multimilionário Kardashian-Jenner. Kris Jenner Reprodução/Instagram 4. A saúde da mulher madura ganhou atenção Dois mil e vinte e cinco é uma ano para se comemorar em relação aos cuidados com a saúde feminina na maturidade. Algumas conquistas importantes estão ajudando a desmontar mitos e a ampliar o acesso a tratamentos antes cercados de estigma. Nos Estados Unidos, depois de 20 anos de restrições, a FDA retirou as advertências alarmistas das bulas de medicamentos de Terapia de Reposição Hormonal (TRH) usadas para os sintomas da menopausa. Uma mudança que vai melhorar a qualidade de vida de mulheres que deixaram de se medicar por medo. A alteração reconhece que, com avaliação médica individualizada, os benefícios podem superar os riscos. No mesmo movimento, o Addyi, medicamento à base de flibanserina, aprovado pela FDA há uma década para tratar o transtorno do desejo sexual hipoativo em mulheres na pré-menopausa, teve sua indicação ampliada, agora também para pós-menopausa. A extensão reforça que desejo e bem-estar sexual não se esgotam com a menstruação e que o cuidado clínico pode acompanhar essas mudanças sem tabus. E, em termos de novas vias terapêuticas, 2025 reforçou a promessa de tratamentos não hormonais para sintomas clássicos da menopausa. Um dos mais comentados é o princípio ativo elinzanetant, um antagonista dos receptores neurocinina-1 e -3, que atua nos mecanismos que desencadeiam as ondas de calor (fogachos) e que também pode melhorar a insônia associada ao climatério. 5. O efeito Odete Roitman Se no final da década de 80, quando foi ao ar a primeira versão da novela Vale Tudo, as maldades de Odete Roitman (e a torcida para que ela se desse mal) era o assunto que reinava nas rodas de conversas, em 2025, o tema central foi outro. A sensualidade, a liberdade sexual, a aceitação — e satisfação — do desejo da vilã dominaram os bate-papos. “Acho muito interessante que Manuela Dias trouxe uma ideia de empoderamento para uma mulher de 60 anos. Isso muda a forma como a gente olha para o envelhecimento”, disse a atriz em entrevista ao Fantástico. A vida sexual ativa bem movimentada da personagem levou para dentro das casas assuntos que ainda são tabu quando se fala de mulher madura, como beleza, sex appeal, relacionamento com homens mais jovens…, e abriu espaço para que esses estigmas começassem a ser questionados e rejeitados. Debora Bloch e Leandro Lima nos bastidores de 'Vale Tudo' Reprodução/Instagram 6. Crescimento da economia climatérica Em 2025, a menopausa deixou de ser um tema invisível para se tornar território de inovação e negócio. A chamada economia climatérica reúne tecnologia, saúde e bem-estar para atender demandas de mulheres no climatério. Entre os destaques estão devices que monitoram oscilações hormonais e sintomas da perimenopausa, oferecendo dados personalizados sobre sono, fogachos e variações fisiológicas, e wearables desenvolvidos para regular a temperatura corporal durante as ondas de calor, ajudando a melhorar o bem-estar nessa fase. O movimento reflete uma virada de chave no mercado, com marcas, startups e indústria finalmente reconhecendo o poder de consumo — e a urgência de cuidado — das mulheres 50+. 7. Invasão no streaming O ano trouxe uma sequência de séries e filmes em que mulheres 50+ ocupam o centro da narrativa, com temas que envolvem poder, sexualidade, ambição, reinvenção e controle do próprio corpo. Da temporada final de And Just Like That (Max), à Sereias (Netflix), com Julianne Moore (65) vivendo uma mulher madura magnética, manipuladora e dominante. Sem falar do sucesso Amor Traiçoeiro (Netflix), que traz a relação de uma mulher madura rica com um homem mais novo e o julgamento da família. Do cinema para a telinha, ainda vieram Babygirl, com Nicole Kidman (58) no centro de um thriller erótico sobre desejo e controle, além de A Substância, estrelado por Demi Moore (63), com uma crítica feroz à obsessão estética e à indústria que lucra com ela. Diferentes narrativas, mas todas mostrando uma mulher madura protagonista, longe dos esteriótipos dos papeis antigos, onde elas apareciam como simples coadjuvantes. "Babygirl" Divulgação 8. O tapete vermelho celebrou a diversidade madura O red carpete se transformou em palco para o talento, a beleza e a autenticidade das mulheres 50+. Do Oscar ao Golden Globe, do Emmy ao Festival de Cannes, o que se viu foi uma celebração da maturidade, que vem se mostrando cada vez mais diversa. Seja com os cabelos orgulhosamente grisalhos, como os de Andie MacDowell (67), ou os ultralongos, como Demi Moore (63), ou minis estilizados, a la Tilda Swinton (65), a mensagem foi clara: a de que o melhor cabelo para mulher madura é aquele que ela quer usar. Da mesma forma, acompanhamos um momento de maior liberdade de escolha também em relação à beleza. Pamela Anderson (57) puxou a fila do movimento natural, comparecendo aos eventos praticamente sem maquiagem. Ao mesmo tempo, caminhando ao seu lado, nomes como Nicole Kidman (58), Viola Davis (60) e Cate Blanchett (56), usam make que vão do tudo ao quase nada sem se importarem em ter que dar satisfação a quem quer que seja. No tapete vermelho deste ano, a maturidade feminina desfilou sua melhor versão: a individualidade com autoconfiança. Celebridades 50+ brilharam no Globo de Ouro 2025 Foto: Getty Images 9. A menopausa ficou pop Esse foi o ano em que a menopausa saiu da categoria de “é preciso falar sobre” para ganhar status de assunto para compartilhar, rir, aprender e se reconhecer. O auge dessa visibilidade veio com The Menopause Revolution, especial apresentado por Oprah Winfrey, com a participação de Halle Berry (59) e Naomi Watts (57), que dividiram relatos pessoais sobre essa fase da vida. O programa, disponível em plataformas como Disney+ e Hulu, transformou sintomas antes tabu em conversa pública e acolhedora, abrindo espaço para conhecimento e identificação. No teatro, o tema ganhou tom artístico. Espetáculos como Cenas da Menopausa, estrelado por Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello, exploraram com humor, música e verdade as transformações físicas e emocionais desse período. Outra produção, Mulheres em Chamas, usou metáforas e comédia para abordar desafios da menopausa. Da Puberdade à Menopausa, misturou humor e autobiografia para transformar experiência individual em conexão coletiva. A literatura também trouxe boas surpresas, como o livro estreia da atriz Naomi Watts, Vou te contar: tudo o que queria que tivessem me falado sobre a menopausa. Além de ser uma das primeiras celebridades a falar abertamente sobre o assunto, ela fundou a Stripes Beauty, marca de bem-estar focada em climatério e menopausa. A médica estadunidense Mary Claire Haver, uma espécie de celebridade da menopausa, lançou A nova menopausa: viva a fase da mudança hormonal com informação e autonomia, que se tornou best-seller. No Brasil, a jornalista Maria Cândido transformou sua experiência nessa fase no livro Menopausa Como Jornada, assim como Adriane Galisteu, com o recém-lançado Menopausa sem Mistérios, escrito com o dr. André Vinícius, especialista em saúde feminina. Claudia Raia em "Cenas da Menopausa" Reprodução Instagram @cenasdamenopausa 10. Elas levantaram a bandeira da maturidade no Brasil Angélica (52), Eliana (53), Claudia Raia (58), Ingrid Guimarães (53), Drica Moraes (56), Fernanda Torres (60), Ivete Sangalo (53), Fátima Bernardes (63), Glória Pires (62), Vera Fischer (74), Ana Paula Padrão (60), Carolina Ferraz (57), Denise Fraga (61), Adriane Galisteu (52)…. A lista de celebridades que estão falando, sem filtros, sobre vulnerabilidades, descobertas e aprendizados dessa fase, só cresce. E a gente torce muito para que em 2026 esse número dobre, triplique. Ao compartilharem suas experiências, elas estão ajudando a normalizar a menopausa e potencializar a força, a relevância e a beleza da maturidade.