Em meio a polêmica sobre palco gospel, MPF abre investigação e Paes vai às redes defender diversidade dos shows do réveillon

O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação para apurar se houve intolerância religiosa na decisão do município do Rio de repetir este ano a programação de um palco para a música gospel entre os 13 espalhados pela cidade no réveillon. A informação foi antecipada pelo colunista Ancelmo Gois. Em meio à polêmica, o prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) foi às redes sociais defender que os shows são diversos, com “uma mistura de ritmos tradicionais cariocas com blocos, gospel e música eletrônica, mantendo a identidade cultural da cidade". Nos últimos dias, a prefeitura foi criticada por não abrir espaço, na festa da virada, para outras manifestações religiosas - como fez com o palco para artistas gospel no Leme, Zona Sul do Rio, na virada para 2026. Réveillon 2026 em Copacabana: Metrô no Rio terá pulseira obrigatória para volta para casa; saiba como vai funcionar Réveillon 2026: montagem das 19 balsas com os fogos que iluminarão a virada do ano em Copacabana entra na reta final Este será o segundo ano que a cidade terá um espaço na orla voltado para o público gospel durante o réveillon. Para a festa, estão previstos shows de Midian Lima, Samuel Messias, Thalles Roberto e Marcados Pagode Gospel. Na última semana, o colunista Ancelmo Gois publicou uma crítica do professor e babalawô Ivanir dos Santos. Ele disse que o problema não é a existência do palco gospel, mas a falta de tratamento igualitário para as mais diversas religiões: “a diversidade não pode ser apenas um discurso, ela exige práticas concretas de reconhecimento, representação e igualdade no uso do espaço público”, afirmou ele. O prefeito foi às redes neste domingo rebater o posicionamento de Ivanir dos Santos. Paes afirmou haver preconceito nas críticas contra o palco gospel: "o povo Cristão também tem direito a celebrar", escreveu no X. Em outro comentário, o prefeito disse ainda que o movimento poderia "radicalizar uma cidade aberta para todas as crenças". Nesta segunda-feira, Paes voltou ao tema. "Peço desculpas a quem é contra o palco gospel se me fiz entender mal. Minha defesa as religiões de matriz africana e a liberdade religiosa de forma geral é pública e notória!", escreveu. Ele conta que recorreu a uma ferramenta de inteligência artificial para analisar os gêneros que estarão nos 13 palcos da cidade e que o gospel representa 6,25% das apresentações musicais do réveillon. A IA então apontou que dois dos gêneros mais ouvidos no Brasil, o trap e sertanejo, quase não tinham representantes entre os artistas. "Como não sou eu que faço a grade de quem vai ou não tocar parabenizo o time do Abel Gomes (organizador do réveillon) pelas escolhas. Achei as análises positivas mas alguns ajustes terão que ser feitos no próximo ano. Pelo jeito alguns ritmos como Sertanejo e Funk vão ter que entrar mais. Como todo mundo sabe o meu ritmo é samba e MPB. Estou bem atendido na física", completou Paes. História A tradição do festejo da virada do ano à beira-mar vem das práticas de religiões de matriz africana e foi incentivada por Tancredo da Silva Pinto, o Tata Tancredo, "líder religioso, sambista e personagem fundamental da cultura do Rio de Janeiro", nas palavras do escritor e historiador Luiz Antonio Simas. Com o tempo, o povo dos terreiros, que inventou essa celebração, foi perdendo espaço para o monumental espetáculo em que se transformou o réveillon de Copacabana. Os ritos tradicionais continuam, mas mudaram de data e lugar. A virada virou atração turística e, a propósito, Tata Tancredo vai ser enredo no desfile da Estácio de Sá para o carnaval de 2026.