O documentário sobre os cem anos da revista The New Yorker (na Netflix) causa emoções contraditórias. Somos levados aos bastidores de uma das publicações mais importantes da história da imprensa. De um lado, só podemos elogiar. De outro, a revista entrou - como quase todo o resto da imprensa - num buraco ético que corrói o próprio conceito de jornalismo. A glória? A New Yorker funcionou nesse último século como uma ilha de bom gosto e cuidado jornalístico. O documentário mostra o método obsessivo de evitar falhas de informação e aperfeiçoar os textos publicados. Não existe publicação mais bem editada que a New Yorker . A primeira capa (Imagem: reprodução) Outra marca da revista é o cuidado insuperável com a direção de arte. Eles procuram fazer de cada capa uma obra para se enquadrar e expor. Deram um salto inédito ao criar capas animadas. Suas charges e caricaturas são uma escola de humor gráfico. A New Yorker aposta em textos muito longos e reportagens ousadas. O livro A Sangue Frio , de Truman Capote, hoje considerado um clássico do novo jornalismo, nasceu como uma série de episódios na revista. Grandes escritores passaram por suas páginas: J D Salinger, Ernest Hemingway, Philip Roth, Vladimir Nabokov, John Updike, Stephen King. A tragédia? O documentário da Netflix mostra a redação no dia 6 de novembro de 2024, quando Donald Trump foi considerado o vencedor das últimas eleições presidenciais nos EUA. Estão todos deprimidos, alguns choram. A diretora de arte mostra a capa festiva e demagógica que seria publicada caso a democrata Kamala Harris tivesse vencido. Como não venceu, a outra opção era uma capa sombria retratando Trump como uma ameaça demoníaca. A tragédia é a perda de qualquer objetividade jornalística. Houve uma eleição, um dos candidatos ganhou, o outro perdeu. Assim funciona a democracia. Para a New Yorker , foi o sinal do apocalipse e todos ali assumiram que têm lado. Até hoje eles acreditam que vão destruir Donald Trump falando mal dele sem parar, até em resenhas de restaurantes ou em reportagens sobre exposições de arte. Imagem: reprodução New Yorker O post 100 anos da ‘New Yorker’ – a glória e a tragédia apareceu primeiro em Revista Oeste .