Crise da memória RAM pode deixar celulares, notebooks e até carros mais caros no Brasil; vilã é a IA

Crise da memória RAM pode deixar celulares, notebooks e até carros mais caros no Brasil Se você pretende comprar dispositivos eletrônicos, como celulares e notebooks, é bom preparar o bolso: esses produtos podem ficar mais caros em 2026, segundo especialistas ouvidos pelo g1. O motivo é a crise da memória RAM, componente essencial para o funcionamento desses produtos, que está em falta no mercado. O avanço da inteligência artificial está no centro dessa turbulência. Fabricantes têm direcionado investimentos e produção para chips mais avançados, usados em data centers de IA, o que reduziu a oferta de memórias tradicionais (entenda mais abaixo). ? O que é a memória RAM Também chamada de Random Access Memory (RAM), essa tecnologia é responsável por guardar, de forma temporária, os dados que o dispositivo está usando naquele momento. Ao abrir um jogo ou app, as informações necessárias para ele funcionar ficam na RAM. Quando o aparelho é desligado, esses dados são apagados; por isso, ela é conhecida como uma memória de curto prazo. Por exemplo, ao ler esta reportagem do g1 no celular, o conteúdo exibido na tela fica temporariamente guardado na memória RAM do aparelho. Outro exemplo é o recurso de copiar e colar: ao copiar algo na internet, o conteúdo fica guardado temporariamente na RAM até ser colado; depois, ele some. Entenda a diferença entre memória RAM e armazenamento A RAM é medida em Megabytes (MB) ou em Gigabytes (GB). Quanto mais GB, melhor será o desempenho do dispositivo. Um celular com 12 GB de RAM consegue executar mais tarefas ao mesmo tempo do que um com apenas 3 GB. Embora seja mais associada a celulares e computadores, a memória RAM está presente em uma série de outros dispositivos do dia a dia, como: ? smart TVs; tablets; consoles de videogames; ⌚ relógios inteligentes; ? aspiradores robô; carros; ️ impressoras. Atualmente, três empresas lideram a produção global de memória RAM, segundo as agências Reuters e Bloomberg. São elas: SK Hynix (Coreia do Sul), Samsung (Coreia do Sul) e Micron (EUA). ? Por que a IA é culpada pela crise? Data centers do Google AP/Google Muitas empresas têm investido pesado em chips de inteligência artificial e em grandes data centers, o que reduziu a disponibilidade de componentes para a fabricação de memória RAM, explica Paulo Vizaco, diretor da Kingston no Brasil, uma das principais empresas do setor. Segundo Vizaco, as fabricantes passaram a priorizar memórias mais avançadas, usadas em data centers de IA, por serem mais lucrativas. Com isso, a produção de modelos mais antigos diminuiu, e os estoques encolheram. Elas estão reduzindo principalmente a produção da memória RAM DDR4, a quarta geração desse componente. O problema é que ela ainda equipa muitos eletrônicos e, com menos unidades no mercado, a escassez pode gerar dois efeitos, segundo especialistas: levar empresas a vender produtos com menos memória do que o ideal; encarecer dispositivos, como citado no início da reportagem. O g1 pesquisou o preço de uma memória RAM DDR4 de 16 GB da linha Corsair Vengeance RGB Pro. Na plataforma de comparação de preços Zoom, o produto custava R$ 650 em 10 de novembro. A partir de 2 de dezembro, o valor passou a R$ 1.599, uma alta de cerca de 146%. Valor de memória RAM passou de R$ 650 para R$ 1.590 em poucas semanas. Reprodução/Zoom No Brasil, o consumidor pode sentir ainda mais no bolso por causa de fatores adicionais, como câmbio, impostos e custos logísticos, o que tende a tornar os reajustes mais agressivos, explica Márcio Andrey Teixeira, professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) e membro do IEEE. "Os produtos mais afetados tendem a ser os modelos de entrada e intermediários, que são justamente os que utilizam memória RAM DDR4", completa o especialista. Paulo Vizaco, da Kingston, afirma ainda que os consumidores podem passar a ver fabricantes entregando celulares com configurações mais simples, mas cobrando o mesmo valor que era praticado antes. O g1 procurou a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) para comentar a situação, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem. Em um evento da Abinee com jornalistas, no início de dezembro, Mauricio Helfer, diretor da Dell no Brasil, afirmou que "hoje, setores como o de tecnologia e o automotivo correm o risco de sentir esses impactos, especialmente a partir de 2026". "No passado, a escassez era pontual e ligada a problemas de produção em fábricas, agora temos um novo cenário devido à IA", completa Mauricio. Mas não é só memória RAM A crise também começou a atingir outros tipos de memória. Segundo a agência de notícias Reuters, até a High Bandwidth Memory (HBM), modelo de alto desempenho usado em data centers de inteligência artificial, já sente os efeitos. A Reuters afirma que os preços de alguns segmentos de memória mais que dobraram neste ano, com base em dados da empresa de pesquisa de mercado TrendForce. "As memórias de armazenamento, como HD (disco rígido), SSD (unidade de estado sólido, tipo de armazenamento mais rápido) e as usadas em celulares, também devem ser impactadas, pois compartilham a mesma cadeia produtiva", explica o professor Márcio Andrey Teixeira, do Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Memória RAM é uma características responsáveis por aumentar a velocidade do computador. Michal A. Valasek/FreeImages ⏳ E quando essa crise deve acabar? Essa é uma pergunta que nem os especialistas conseguem responder com precisão. A sensação é que ela vai durar entre 2026 e 2029. Paulo Vizaco, da Kingston, afirma que o cenário ainda é incerto. "Tudo é muito novo [o crescimento rápido da IA e o aumento da demanda]. Será preciso acompanhar o mercado com atenção", diz. "Os preços já subiram nas últimas semanas. No médio prazo, precisaremos acompanhar o comportamento do mercado para entender o que irá acontecer. Na Kingston, nosso planejamento de longo prazo atua justamente para minimizar esses problemas e manter o abastecimento no Brasil o mais estável possível durante esse período", diz Vizaco. Já a SK Hynix, empresa sul-coreana de chips, afirmou a analistas que a escassez de memória pode durar até o fim de 2027, segundo a Reuters. Um executivo do setor ouvido pela agência Reuters já adiantou que o problema deve atrasar futuros projetos de data centers. IA que 'revive' familiares mortos viraliza e acende debate sobre tecnologia do luto Brasileiros contam como foi a proibição de redes sociais na Austrália Data centers de IA podem consumir energia equivalente à de milhões de casas