A capital paulista atravessa dias seguidos com termômetros nas alturas. Em um intervalo de apenas 96 horas, o recorde de temperatura máxima para o mês de dezembro foi superado três vezes, culminando nos impressionantes 37,2°C registrados no último domingo (28) pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Leia mais: Tarifas de ônibus, metrôs e trens terão novos valores a partir de janeiro em São Paulo Veja também: Dezembro tem o pior nível dos reservatórios da Grande SP desde a crise hídrica de 2015 Especialistas explicam que normalmente, dezembro é o mês em que o Sudeste brasileiro vive o auge de sua estação chuvosa. A nebulosidade persistente e as pancadas de chuva frequentes funcionam como um moderador térmico, impedindo que o sol aqueça a superfície de forma contínua. No entanto, este padrão foi rompido por um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN). Este sistema atua como uma "tampa" invisível na atmosfera. Em suas bordas, ele pode gerar chuva, mas em seu centro, o ar seco desce da alta atmosfera para a superfície, dissipando as nuvens e impedindo a entrada de frentes frias. O resultado é um domo de calor onde a radiação solar incide diretamente sobre o asfalto e o concreto, elevando as temperaturas a níveis desérticos. A gravidade do evento é medida pela proximidade com o recorde absoluto da cidade. Os 37,2°C de ontem ficaram a apenas 0,6°C da maior temperatura já medida em São Paulo em todos os tempos (37,8°C em outubro de 2014), com a diferença fundamental de que, em 2014, o recorde ocorreu no auge da estação seca, e não no período em que a cidade deveria estar debaixo de chuva. Noite que não refresca Um fator crítico acompanhado de perto pelos meteorologistas é a chamada "mínima alta". Na noite de ontem, por volta das 23h, termômetros em bairros como Pinheiros e Centro marcavam 25°C. Esse fenômeno ocorre porque a massa de ar quente é tão profunda que a perda de calor radiativo durante a noite é insuficiente para resfriar o ambiente. Para o corpo humano, a ausência de alívio térmico noturno aumenta o risco de hipertermia e sobrecarrega o sistema cardiovascular, especialmente em idosos e crianças. Risco de temporais severos O cenário agora entra em uma fase de alta periculosidade. Com o enfraquecimento do bloqueio atmosférico, a umidade volta a entrar em choque com o ar superaquecido acumulado sobre o estado. A meteorologista Estael Sias, da MetSul, detalha a transição: — Com o ar quente, com os recordes de calor, a tendência é de os temporais e a chuva encontrar ar quente e formar temporais. Então, acredito que a gente tenha um regime de chuva, a partir de agora, gradativamente nos próximos dias, retornando ao padrão esperado dessa época do ano, que é a instabilidade mais frequente com chuva quase que diária na região de São Paulo. Essa "energia disponível" na atmosfera é o combustível para nuvens de grande desenvolvimento vertical, as famosas Cumulonimbus. A previsão para as próximas 48 horas indica risco elevado de: Microexplosões e Vendavais: Ventos que podem atingir de 80 a 100 km/h. Granizo: Devido ao forte contraste térmico entre o solo e as altas camadas da atmosfera. Inundações Relâmpago: Volumes de chuva muito altos em curtos intervalos de tempo. Raio-X do Calor no Interior Enquanto a capital monitora os recordes, o interior do estado e o Vale do Ribeira vivem temperaturas de níveis críticos. O monitoramento das estações automáticas aponta cidades operando em "estado de atenção" devido ao calor extremo: Pedro de Toledo: 42.1°C Miracatu: 41.6°C Itaóca: 40.0°C Pariquera-Açu: 39.9°C Registro: 39.8°C Sete Barras: 39.5°C Juquiá: 39.5°C Iporanga: 39.3°C São Simão: 39.0°C Barra do Turvo: 39.0°C Capivari: 38.7°C Holambra: 38.7°C Pereiras: 38.7°C Monte Alegre do Sul: 38.5°C Valinhos: 38.4°C Recomendações de Segurança A Defesa Civil orienta que, diante do retorno das chuvas, a população evite áreas arborizadas, devido ao alto risco de quedas de árvores por conta do solo seco que agora será atingido por ventos fortes. Além disso, a hidratação deve permanecer constante, já que o declínio das temperaturas será gradual e o ar continuará abafado nos próximos dias.