Esquecida por 46 anos, entenda como Lamborghini reapareceu em armazém e foi vendida por mais de R$ 7,2 milhões nos EUA

Durante décadas, ninguém perguntou por ele. Não aparecia em eventos de colecionadores, não mudava de mãos em leilões e não ganhava destaque em revistas especializadas. Havia, inclusive, rumores de que teria sido destruído em um acidente durante o transporte. Histórico e com peças originais: Lamborghini perdido por décadas reaparece nos EUA e pode valer até R$ 21 milhões Longe disso, o modelo permaneceu imóvel, acumulando poeira em um armazém escondido em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ali, entre dezenas de carros exóticos relegados ao esquecimento, repousava um Lamborghini Miura P400, um dos 275 exemplares fabricados entre 1966 e 1970, considerado por muitos o primeiro supercarro moderno da história. Além disso, o local da descoberta estava longe de ser um depósito comum. Rudi Klein, um colecionador americano de perfil tão discreto quanto enigmático, acumulou secretamente uma frota de veículos excepcionais. Diferentemente de outros entusiastas que exibem seus carros com orgulho, ele preferia o sigilo. Guardava Ferraris, Aston Martins e Lamborghinis como quem coleciona brinquedos de edição limitada, sem jamais tirá-los da caixa. Entre eles, havia três Miuras. Um deles, de chassi número 3417, chamou rapidamente a atenção de especialistas no ano passado. Galerias Relacionadas Origem italiana e um nome cercado de especulações Este Lamborghini Miura P400, originalmente na característica cor Giallo Miura, com interior em couro sintético azul, foi destinado ao mercado italiano. De acordo com os registros de fábrica, foi entregue à concessionária Lamborghini em março de 1968, com apenas um nome registrado como comprador: Sr. Zampolli. É nesse ponto que a história ganha nuances mais intrigantes. Embora seja um sobrenome comum na Itália, alguns especialistas especulam que o comprador poderia ter sido Claudio Zampolli, piloto de testes e ex-engenheiro da Lamborghini, posteriormente conhecido por fundar a marca Cizeta. Zampolli também foi responsável pela importação de modelos Lamborghini para o sul da Califórnia, uma pista que poderia explicar como este Miura foi parar nas mãos de Rudi Klein no fim da década de 1970. Não há confirmação, mas os indícios se conectam. Sabe-se que, em março de 1978, o Miura já havia sido fotografado no centro de desmanche de carros importados da Porsche, exibindo uma nova e vibrante cor azul-turquesa, que conserva até hoje. Desde então, passaram-se 46 anos sem que o veículo voltasse a ser visto. Autenticidade preservada após quase meio século Para além do mistério, o que distingue este carro não é apenas sua trajetória, mas também sua autenticidade. Conforme verificado pela casa de leilões RM Sotheby’s, todos os números visíveis do chassi, do motor e da carroceria correspondem aos do Miura número 3417, o 159º exemplar produzido. Além disso, o veículo conserva seu motor V12 original, com números de série correspondentes — um detalhe crucial no universo dos carros clássicos. As origens do Miura o colocam no auge do design e da engenharia automotiva. Concebido por uma jovem equipe de engenheiros — entre eles Gian Paolo Dallara e Paolo Stanzani — e com carroceria desenhada por Marcello Gandini para a Bertone, o modelo estreou como um chassi rolante no Salão do Automóvel de Turim, em 1965. Poucos meses depois, surpreendeu o mundo no Salão do Automóvel de Genebra. Sua arquitetura, com motor traseiro montado transversalmente, lançou as bases da era moderna dos supercarros. Em outubro passado, a RM Sotheby’s colocou este exemplar à venda como um projeto único de restauração, com potencial para devolvê-lo à sua condição original. O modelo acabou sendo vendido por US$ 1.325.000. Embora o comprador — cujo nome não foi divulgado — tenha pela frente a tarefa monumental de restaurar o chassi 3417, sua história, autenticidade e linhagem fazem dele um candidato natural a retornar ao principal concurso de elegância do mundo automotivo.