O cinema de Jean-Pierre e Luc Dardenne sempre se interessou por personagens na corda bamba e pelas suas possibilidades de salvação. Ao longo de uma filmografia marcada pelo realismo, os multipremiados irmãos belgas retrataram figuras em situações-limite, mas também as redes de proteção que tentam impedir seu desmoronamento. Brigitte Bardot: Quem foi o jogador de basquete do Flamengo que levou a atriz a Búzios, transformando o balneário em destino de luxo Chamego com 18 pets, futebol com amigos e desabafo: A rotina de Paolla Oliveira e Diogo Nogueira uma semana após a separação Com estreia nesta quinta-feira, o 1º dia de 2026, o mais recente longa da dupla, “Jovens mães”, acompanha um grupo de mulheres com seus bebês, ligadas pelo cotidiano de uma casa materna que funciona como espaço de abrigo e aprendizagem. O filme recebeu o prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes, onde os Dardenne já conquistaram a Palma de Ouro com “Rosetta” (1999) e “A criança” (2005). — Em geral, pensamos numa instituição quando um indivíduo sozinho já não consegue mais ajudar outro. As instituições surgem quando a relação individual falha — diz Jean-Pierre Dardenne. — Muitas vezes, elas são vistas apenas como algo negativo, ligado à repressão ou à punição, mas não é assim que as enxergamos. Quando filmamos dentro dessas instituições, o que aparece é algo diferente: um espaço de tentativa, de cuidado, de benevolência. Para nós, são lugares onde se pode evoluir, no sentido mais humano. É o que acontece, por exemplo, em “O jovem Ahmed”, sobre um adolescente muçulmano influenciado por um líder religioso radical internado numa casa de correção após tentar matar a professora. Ou em “A criança”, em que a prisão acaba funcionando como espaço de revelação moral para o protagonista. Os irmãos Luc e Jean-Pierre Dardenne Divulgação/Joel Saget “Jovens mães”, contudo, introduz uma novidade na obra dos Dardenne: é seu primeiro filme reunindo múltiplos protagonistas. Inicialmente, a história deveria acompanhar uma única jovem mãe, mas o retrato logo cresceu à medida que os cineastas visitavam as casas de maternidade. — Passamos muito tempo nesses lugares e conhecemos educadoras, assistentes sociais, psicólogas... — diz Luc Dardenne. — Vimos o lugar viver, as jovens mães, os bebês, o cotidiano. Aquilo nos comoveu. Percebemos que estávamos indo até ali para nos documentar sobre um personagem que viria de fora, mas que, talvez, o filme tivesse que nascer daquele lugar. A partir daí pensamos num filme com vários personagens principais. As histórias retratadas são distintas: uma jovem luta contra a dependência química, outra convive com a indiferença do namorado, outra enfrenta a presença invasiva de uma mãe tóxica. Além de romper ciclos familiares marcados por abandono e violência, essas adolescentes precisam aprender a construir um vínculo com seus próprios filhos. As jovens se ajudam, cuidam dos bebês umas das outras e compartilham responsabilidades. Os pais demonstram maior dificuldade de se conectar com as crianças — com a exceção de um personagem masculino. O filme revela, assim, uma rede concreta de solidariedade feminina dentro das instituições, que passa tanto pelas mães quanto pelas funcionárias. — Em todas as histórias que nos inspiramos, há sempre uma ligação complicada com a mãe — diz Luc. — Tentamos contar no filme a dificuldade de cada uma delas de se liberar do trauma gerado por suas próprias mães. Na vida real, a maioria das jovens nessas instituições repete a história de suas mães, às vezes de suas avós. São histórias que se transmitem de geração em geração. Como é de costume nos filmes dos Dardenne, a atuação é realista, mas as personagens não reproduzem os cacoetes linguísticos dos jovens na vida real. — Em todos os nossos filmes, tentamos evitar que a linguagem se torne um rótulo — diz Jean-Pierre. — Quando o espectador identifica um personagem apenas pela forma como ele fala, isso cria um julgamento automático. Nosso objetivo é que os personagens escapem o máximo possível do olhar carregado de preconceitos. Por isso buscamos uma língua realista, mas neutra. Uma linguagem de cinema, não uma reprodução literal do falar cotidiano. Antes das filmagens, os cineastas admitem que temeram a interação das atrizes com os bebês. Nas primeiras semanas de ensaio, elas interagiram apenas com bonecos. Quando as crianças reais chegaram, porém, a mágica do cinema aconteceu. — Os bebês trouxeram um lado documental ao filme. Eles obrigaram as atrizes a estarem ao mesmo tempo na ficção e na realidade, a reagirem ao imprevisível. Isso transformou o jogo delas diante da câmera e enriqueceu enormemente o filme — diz Luc.