A cidade de Corupá, no norte de Santa Catarina, onde há mais de 500 bananeiras por habitante, é a terceira maior produtora da fruta do país, com 153,1 mil toneladas colhidas em 2024, de acordo com o IBGE. Ali também é o berço da banana mais doce do país, segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Mas, nas mãos de artesãs locais, são as fibras da bananeira que têm valor. Doces borbulhas: moscatel puxa produção das uvas que dão origem ao espumante mais vendido no país ‘Chafé’: flores de café viram chá com cheirinho do grão verde e geram renda extra para fazendas na entressafra Cada bananeira dá frutos uma única vez e, diferentemente de árvores lenhosas não têm um tronco de fato. O que se vê acima do solo é na verdade um pseudocaule, estrutura formada pela sobreposição das bases das folhas enroladas umas sobre as outras, formando camadas, como uma cebola. Do interior do pseudocaule são retiradas as fibras — que as artesãs comparam ao linho e à seda —, que se tornam a matéria-prima de roupas, acessórios, sapatos e joias. Conheça a iguaria: Safra de alcachofra deve ser a melhor em dez anos no país — Depois que se corta o cacho, o caule não tem mais serventia para o agricultor. Vira lixo na lavoura. Mas para nós, que extraímos a fibra, é uma mina de ouro — conta Elena Jablonski, artesã de 57 anos, que trabalha com o material há quase uma década. — A extração é totalmente manual e exige força, tempo, habilidade e paciência. Fibras de bananeira na propriedade de Elena Jablonski, em Corupá (SC) Divulgação Seu marido, Miguel Jablonski, que trabalha em bananais da região, é quem coleta e transporta o caule, enquanto ela fica responsável pela extração das fibras e pela confecção de peças. Cada camada tem uma especificidade. A parte externa é mais dura, espessa e resistente, indicada para peças estruturadas. A renda e o filé, localizadas no meio, são mais flexíveis e usados em detalhes. Já a fibra comparada à seda, encontrada na camada interna, é fina e uniforme, e serve para acabamentos mais delicados. Da Amazônia para o interior de SP: produtores paulistas começam a investir em pomares de açaí — Depois da separação, as fibras são lavadas, para removermos os restos de seiva, e estendidas para secagem natural, geralmente por cerca de dois dias — explica a artesã. Uso ainda limitado Carmen Hreczuck, de 60 anos, fundadora da Nanica Chic, marca de biojoias feitas com fibra de bananeira, teve o primeiro contato com a matéria-prima há 15 anos, durante um curso de moda no Instituto Federal de Santa Catarina. Na ocasião conheceu sua “mestre”, Elfi Mokwa, uma artesã que até hoje é sua fornecedora. A empreendedora compra a fibra já beneficiada para desenvolver colares, brincos, pingentes e outros acessórios: No interior de SP: fazenda aposta em ‘legumes diferentões’ — É um trabalho complexo, feito à mão, muito detalhado. Apesar de eu não participar do processo de extração, tenho que garimpar entre as fibras que recebo para encontrar qual é a melhor parte para cada joia. Apesar do grande potencial, o uso do produto ainda é limitado. Elena Jablonski defende o aproveitamento da fibra, pois os produtores têm margens de lucro reduzidas e perdas significativas, já que a fruta é bastante perecível: — Cada produtor que corta o cacho e não aproveita o pseudocaule está perdendo dinheiro. Ele cuidou da planta, tratou do cacho, e o resto vai para o lixo. Se houvesse mais interesse na fibra, poderia ser uma fonte extra de renda. Entenda: O que uma plantação de batatas tem a ver com os vikings? Veja como o agro revelou um sítio arqueológico na Noruega Eliane Müller, diretora executiva da Associação dos Bananicultores de Corupá, estima que só se aproveita 0,5% das fibras. Em 2026, a entidade quer tirar do papel um projeto para a produção em escala industrial e capacitar mais mulheres para a extração. — Quem tem contato com esse produto é o pequeno agricultor, as esposas, donas de casa, que não têm estudo. Quando chega à universidade, vira pesquisa, e não sai dali. E a indústria acaba preferindo coisas mais rápidas e baratas — lamenta Carmen.